Capítulo 32

5.9K 475 82
                                    

Alexander bateu a campainha do apartamento de Annabelle, esperou alguns segundos, impaciente, mas não ouviu nada que indicasse que ela estava caminhando para a entrada. Bateu novamente, agora na madeira da porta, com os punhos fechados. Sentiu-se estranho, como se pressentisse algo. Era o seu instinto, tão útil no trabalhado e também fora dele.

Ele tinha que entrar ali.

Em uma última tentativa, Alexander girou a maçaneta da porta. Estava aberta. E aquele fato simplesmente elevou a sua preocupação em níveis inimagináveis. Alguém entrara ali? Alguém queria fazer algo contra Annabelle? Engoliu em seco, e adentrou o ambiente o mais silenciosamente que pôde. Amaldiçoou-se por não ter vindo armado, na pressa de sair do seu próprio apartamento, nem se lembrou daquele detalhe.

Fechou a porta devagar e caminhou cautelosamente pelo corredor que dava para a sala. Contudo, toda a sua racionalidade foi embora quando vislumbrou os cabelos negros de Annabelle. Ela estava ajoelhada?

— Annabelle... — chamou, a voz rouca. Mas a mulher não se virou para ele.

Com o coração batendo freneticamente, o federal deu a volta no sofá, e a cena que encontrou fez todo o seu mundo parar por um mísero instante.

O corpo mole de Annabelle caindo sobre uma lâmina afiada.

Um grunhido de desespero saiu pela garganta de Alexander e ele praticamente pulou até a figura ausente de Annabelle. Com uma das mãos agarrou os ombros dela, e com a outra segurou o cabo da faca. O federal retirou o objeto afiado das mãos dela, e virou o corpo da mafiosa, deitando-a delicadamente no chão.

O desespero dele cresceu enquanto analisava o rosto delicado da mulher. Tanto tempo sem vê-la e agora a encontrava assim, ainda mais branca, as feições ausentes, os olhos morbidamente fechados.

Foi como se algo pesado dilacerasse seu peito.

— Annabelle? - A voz estava apavorada. Sem obter uma resposta, Alexander firmou suas mãos nos braços dela, sacudindo-a.

A mafiosa sabia que se encontrava no meio de uma alucinação. Sim, ela tinha ficado maluca, pois podia jurar que aquelas mãos, que aquele timbre de voz, que até mesmo aquele cheiro de homem, pertenciam a Alexander.

Annabelle jamais abriria os olhos para encarar a realidade, e assim espantando Alexander de suas alucinações. Jamais abriria os olhos para descobrir que ele estava morto.

Morto, morto, morto...

De certa forma, ela sentia-se morta também.

Soltou um murmúrio de dor, um som arrastado, lamurioso e sofrido. Mas nada que saísse por seus lábios poderia externar a dor que realmente sentia. O vazio que, de repente, tomou conta dela.

— Annabelle? — Alexander chamou com mais afinco quando ouviu o som que indicava dor. Ela teria se machucado com a faca? Mas não havia sangue! — Inferno, Annabelle! O que você está sentindo?

— Dói — ela respondeu, a voz baixa e fraca. Alexander nunca tinha ouvido aquele tom vindo dela e o fato o apavorou ainda mais — Dói demais... faça parar, por favor.

O Whitehill soltou um impropério, segurando o rosto frio de Annabelle com uma mão.

— Onde... Onde está doendo, Linda? — a voz do federal beirava a insanidade agora, suas mãos e olhos vasculharam o corpo feminino a procura de algum machucado — Você se feriu com a faca, Belle? Me diga! Me mostre... onde dói, Linda, onde?

Os lábios de Annabelle contorceram-se e então ela abriu a boca tomando uma lufada de ar.

— Todo o lugar... Dói tanto, não vou suportar.

Rede de SegredosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora