Capítulo 20

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LUNA POV
Vejo o momento em que ele aponta pela porta de vidro da sala, sua expressão de pesar e seu olhar perdido denunciava que algo estava muito errado, me levanto do sofá e vou ao seu encontro.
Parados, um de frente para o outro, coloco minhas mãos na sua cintura e questiono.
— Amor, o que foi?
Ele não diz nada, apenas sorri de lado e com as pontas dos dedos, acaricia minha bochecha, fecho os olhos com seu toque macio e cuidadoso.
— Sabe nossa fuga para as colinas? Vamos adiantar... vamos viver alguns dias sem problemas, preocupações, sem celular e sem o caralho a quatro que sempre nos causa dores de cabeça.
Os seus olhos estão nublados, sua voz rouca está falha. Quem chateou meu homem a tal ponto?
Cubro sua mão que estava na minha bochecha com a minha, viro um pouco do rosto beijando levemente sua palma.
— Mas e o depoimento?
— Dou um jeito de agendar para hoje mesmo, só vamos sair daqui por alguns dias! – O desespero em sua voz mostra o quanto ele está se esforçando para manter o controle.
— Ei, tudo bem! Faremos como você quiser! Seja lá o que aconteceu, quando se sentir melhor para dizer, Estarei aqui, sempre por você!
O pequeno sorriso surge em seus lábios, se aproxima e beija o canto da minha boca.
— Vamos, vou cuidar de você hoje! – Seguro seu pulso e o puxo para subirmos para o quarto.
— Não queria que me visse vulnerável dessa forma!
— A vulnerabilidade não quer dizer que seja fraco, é sinal de que você é um ser humano real, com sentimentos e fraquezas e isso não te diminui, pelo contrário, serve de experiência e te fortalece. E só para constar, eu amo o ser humano que você é!
Edu se senta na beirada do colchão, fico entre suas pernas longas e torneadas por músculos e começo a despi-lo daquelas roupas sociais que ele usa para trabalhar, retira os sapatos sociais bem lustrados com os próprios pés, puxo o cinto da sua calça, por fim desabotoo o relógio.
Dou a volta na cama e me sento com as costas apoiada na cabeceira, após ficar confortável bato levemente na minha coxa, chamando meu amado para repousar sua cabeça no meu colo, e assim ele faz. Puxo a gominha que prendia seu cabelo e meus dedos invadem seus cabelos numa massagem.
— Suas mãos de anjo, aliviaram dez por cento da minha enxaqueca! – Solta um gemido baixo.
Continuo a massagem com uma mão e com a outra toco sua barba, um toque intimo e sem malicia, seus olhos se fecham automaticamente em satisfação.
Por vários minutos ficamos em silêncio, Santiago se posicionou de uma forma que ficou entre minhas pernas e com a cabeça sob minha barriga e minhas mãos continuavam o toque, agora em seu pescoço e ele retribuía o carrinho com suas mãos tatuadas, alisava minha cintura.
— Você sempre sendo a luz da minha vida! O único toque que me traz paz e controle novamente!
— Não faço nada além de te amar com todas as minhas forças! Você é a pessoa que mais amo no mundo!
— Você é minha única, meu amor, a mulher da minha vida!
Sorrio abestada com sua declaração, suas palavras sempre me deixam molenga, completamente derretida em seus braços. Me curvo e beijo suas costas.
— Hoje foi um dia difícil, o dia que me senti traído pelos meus colegas de trabalho, o dia que me senti descartável como um simples papel de bala. – Solta uma risada forçada-.
— O que fizeram com você?
— Me afastaram por motivos banais! Não deram nem a chance de conversar, minha entrada no prédio foi bloqueada e fui tratado com um suspeito... me desdobrei em várias partes para conseguir unir todos os pontos, fiz isso em nome da justiça e principalmente, por você. Para que você possa viver sem medo de deparar com aquele filho da puta a qualquer momento, para que voltasse e terminasse a faculdade, para que vivêssemos em paz e felizes no nosso relacionamento... E foi me tirado o prazer de colocar as mãos no Luiz.
Nesse momento Eduardo já está sentado na cama, seu rosto está vermelho e a veia da sua testa saltada.
— Te afastaram devido ao seu envolvimento comigo? – Pergunto já sentindo uma ponta de culpa em meu peito.
— Não se atreva....nunca, isso não tem nada a ver com nosso relacionamento, claro que se nos envolvêssemos depois que comecei a trabalhar, ai sim, tomaria outros rumos, mas já estávamos namorando quando entrei, então ninguém ali tem o direito de questionar e se meter em nada referente a minha vida pessoal.
— Claramente seus superiores não pensam assim! – Me sento e puxo os meus joelhos para o peito.
— Só agiram assim porque a Liana abriu uma reclamação, e pelo visto conseguiu convencer outros dois colegas a segui-la. Apenas duas reclamações e automaticamente estou fora.
Puxo na memória o nome, até que ligo a pessoa. A mulher intragável do churrasco.
Fico calada por alguns instantes.
— Sinto muito! Você não pode recorrer? Mostrar pontos ao seu favor.
O som do seu suspiro de frustração preenche o quarto.
— Não, a decisão já foi tomada e raramente eles voltam atrás!
Me sento de frente e passo minhas pernas sob as suas, e o abraço, o calor que emanava do seu dorso nu acalentava minha pele de um jeito que só ele fazia.
Por fim, espanto aquela pontada de culpa em ter atrapalhado seu trabalho, era uma situação que estava fora do meu alcance, a culpa foi da pessoa que agiu de má fé, a fim de conseguir não sei o que. Não conheço Liana o suficiente para falar algo do seu caráter ou questionar seus motivos, a única coisa que sei é que nesse momento quero arrancar seus cabelos e fazê-la chorar por magoar Santiago, ela não tinha esse direito.
Realmente precisamos desses dias de descanso, sem nos preocuparmos com nada, os últimos dias foram caóticos e sugou toda nossa energia, para continuar a luta é preciso estar renovados.
— Vou pedir para Andreas coletar seu depoimento hoje mesmo! Após isso, Luiz terá o pedido de prisão preventiva expedido. E a noite pegaremos estrada, ok?
—Para onde vamos? – Questiono curiosa.
— Literalmente vamos subir as colinas... Uncastillo, uma província no extremo norte, com apenas 700 habitantes. Te prometo que dessa vez, nossa viagem será esplêndida.
Uncastillo! Já vi uma reportagem sobre esse lugar, cidadezinha feita de pedra e histórica, literalmente estaremos escondidos, não tenho dúvida que será tudo perfeito.
— Irei mandar uma mensagem para Andreas e vamos em casa fazer as malas.
Franzo o cenho e meu sorriso se desfaz aos poucos.
— É seguro irmos em casa?
— Sim, coloquei uma equipe de segurança lá, mas se quiser, espere aqui que eu busco as coisas!
— Não... vou com você!
Santiago resolve as pendências com Andreas por telefone, enquanto eu me arrumo para sairmos.
— Pronto, você precisa estar lá às 17:00, vou te instruir passo a passo de como será e depois minha mãe assume.
— Tudo bem, confio em você.
— Vamos? – Já de pé, me estende a mão.
Aceito de bom grado e entrelaço nossos dedos.
Era estranho entrar no apartamento, pavoroso descreveria melhor, olho em volta me certificando que não há nenhum animal peçonhento para me matar, por fim, entro totalmente na sala.
— Fique tranquila, não há mais nada, uma vistoria foi feita.
Aceno em concordância.
— Vou preparar um café, antes de começarmos.
Faço um cafezinho rápido e logo regresso a bancada.
— Existem perguntas de praxes, irei perguntá-la e você me responde com detalhes.
— Entendi, com clareza.
Edu começa a fazer as perguntas, e tenta responder com uma maior quantidade de detalhes, relembrar aquela noite é dolorosa, é como se pudesse me lembrar das mãos grossas e nojentas daquele bastardo me tocando, entro em um estado de torpor, os pelos dos meus braços ficam eriçados, saio do meu transe somente quando Edu toca em rosto.
— Acho que já é o suficiente, por enquanto. – Pega sua xicara de café e toma um gole do líquido forte.

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