PRÓLOGO

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A vida em parceria com o destino sempre tinha suas peças, sempre rindo da nossa cara, em como somos marionetes e que não podemos interferir no que está destinado a nós. Nunca imaginei que na minha vez o destino iria agir de maneira cruel e destruindo meu maior sonho, minha carreira. Se bem que... não sei se posso culpar o destino por isso, parte da culpa também é minha, por ter deixado o medo se apossar de mim. Me chamo Luna Perez, tenho vinte e dois anos e sou estudante de medicina. Lembro perfeitamente quando prestei vestibular ainda no ensino médio e fui aprovada em segundo lugar, com apenas dezessete anos. O sonho de qualquer jovem e o orgulho dos pais, os meus apesar de amorosos, sempre me inferiorizava e me julgava incapaz, isso só valia a mim, pois, minha irmã mais velha era adorada, uma contadora com várias especializações e um bom cargo num escritório de advocacia. Minha pontuação no exame para o ensino superior chamou atenção de instituições, com isso ganhei uma ótima bolsa pesquisa, durante todo o meu processo de formação o hospital provedor da bolsa iria arcar com todos os gastos, desde moradia, alimentação e materiais e em troca eu seria uma das estagiarias deles, mas para ter tudo isso, foi necessário me mudar para Barcelona, concordei imediatamente, era uma experiência única sendo ofertada, mamãe e papai mesmo receosos concordaram, assim me mudei para Barcelona, cinco horas de distância de Madri.

Estava no decimo período, faltavam apenas dois anos para me formar com honras, escolhi minha especialização: cardiologia, o coração tão forte, mas tão frágil ao mesmo tempo, a estrutura me fascinava. Estava envolvida em projetos científicos da instituição e ainda fazia estágio em um pronto-socorro público, uma rotina corrida, mas eu a amava e já estava acostumada.
Mas num piscar de olhos, todos esses sonhos e planos foram por água abaixo, quando meu caminho se cruzou com Luiz.


Dividia o apartamento do programa com outra bolsista, Carolina era o nome da também caloura de medicina, nos tornamos amigas pela convivência, era uma boa garota, mas tinha problemas em seguir regras, tínhamos definido não levar pessoas desconhecidas para nosso espaço pessoal, isso claramente foi um problema para Carol, que era uma moça namoradeira, então ela começou a levar seus namorados escondidos para dentro de casa, foi numa dessas vezes que ela levou o Luiz, o professor de cálculo da turma de Química, ela estava dormindo com ele, nem atraente ele era, não para mim, para ser sincera ele me causava asco.

Carolina e Luiz usaram meu quarto, meu espaço pessoal para fazer sexo, foi quando ele viu minha foto na mesa de cabeceira, segundo ele foi aí que começou sua obsessão por mim, quem em sã consciência fica obcecado por uma imagem? Não consigo entender, sua aproximação foi tão sutil que quando percebi era tarde demais, o homem de quarenta anos usava Carol para entrar em casa, a iludia. Eu era plantonista, minhas noites eram no hospital e meus dias se revezavam entre universidade e laboratório de pesquisa, raramente em casa, com isso não percebia pertences pessoais desaparecendo... primeiro foi a foto da cabeceira, que levei um tempo para me dar conta, depois foram algumas peças de roupas e por fim calcinhas, questionei a garota julgando que ela mexia nas minhas coisas, e ela reagiu de maneira muito agressiva, deixando-me assustada. Carolina estava diferente, mais magra, olheiras roxas em volta dos seus olhos azuis e sempre roendo as unhas, tinha algo de errado.
Tempos depois comecei a me sentir sendo observada, mas sempre que olhava em volta não tinha nada, aparentemente pessoas comuns nas ruas, na época eu tinha um amigo colorido, George, o estudante de direito, ele começou a me achar paranoica e se afastou sem mais explicações.
Tudo se esclareceu no dia em que me senti mal durante um plantão e fui mandada para casa, era madrugada como não tinha ônibus nesse horário, pedi um táxi, era mais caro, mas era mais seguro que um Uber.
Carol já tinha acabado o curso e estava fazendo sua especialização em dermatologia então seus horários eram mais flexíveis que o meu.

Abro a porta de casa e o breu tomava todo o ambiente, o cheiro forte de cigarro e cerveja embrulhava ainda mais o meu estomago, coloco a chave no aparador e jogo a bolsa na bancada, mantenho as luzes apagadas, pois, minha cabeça estava explodindo, bebo um copo de água gelada e sigo para o meu quarto, tinha algo estranho, a luz estava ligada e eu nunca esqueço a lâmpada acessa e jamais a uso numa intensidade tão forte, será que minha colega de apartamento ousou usar meu dormitório de novo? Mesmo depois de toda aquela discussão?
Com passos leves e silenciosos devido a crocs, sigo até a porta branca, empurro levemente e a visão que tenho me enoja, faz meu estomago se revirar.

Luiz estava deitado na minha cama, cheirando minha calcinha usada e se masturbando, o choque toma conta do meu rosto e minhas mãos tremem devido ao nervosismo.

— Mas que porra é essa? O que está fazendo, seu porco pervertido? Onde está Carolina?

A voz saiu tremula
O homem ainda com os olhos em mim, goza em suas mãos e passa o líquido viscoso na calcinha vermelha, me sinto invadida com esse ato.
— Levante-se e saia agora mesmo, irei chamar a polícia!
Meus olhos se enchem de lágrima era uma situação que não desejaria que mulher nenhuma passasse. Luiz que estava nu e com o membro ereto se levanta sem nenhum pudor e caminha em minha direção, dou passos para trás, visivelmente ele não estava normal, me sinto acuada. Grito por Carol, mas ela não responde, sou encurralada na parede do corredor, suas partes íntimas encostam na minha barriga, viro meu rosto quando o velho nojento pega uma mecha do meu longo cabelo e cheira como se fosse uma droga.
— Esperei tanto por esse momento! Luna.

Junto minhas forças e o empurro pelo peitoral, mas ele era parrudo.
— Eu nem te conheço... tire suas mãos imundas de cima de mim, seu verme!
— O importante é que eu te conheço, você sempre tão linda, doce e gentil com as pessoas, confesso que me irrita te ver sendo amável com outros e quando eles te tocam me deixa possesso.

Seus lábios tocam meu ouvido e nesse momento não seguro mais o choro, o pavor toma conta de mim, ele gruda sua boca na minha fortemente, sem nada a perder o mordo com força disposta a arrancar um pedaço, Luiz acerta um tapa em meu rosto fazendo-me tombar, minha bochecha queimar e joelhos arderem pelo impacto, me arrasto para trás quando ele vem em minha direção, meu cabelo é longo e ondulado e estava solto, facilitou para o homem enrolá-lo em seu punho, segurando meu pescoço e obtendo total controle da minha cabeça.

— Chupa seu homem, meu amor!

Força meu rosto em sua pelve peluda e com cheiro ruim, antes de tocar meus lábios, sou mais rápida e com minhas mãos seguro seu membro e torço com minhas unhas cravadas em sua carne, o grito estrondoso ecoa pelo ambiente, aproveito a brecha e pego um vaso que estava numa prateleira e arremesso em sua cabeça fazendo-o cair, não fico para me certificar e corro, pois, minha vida dependia daquilo.

Uma menina me socorre ao ouvir meus berros, me leva ao apartamento dela.

Tália era o nome do anjo que apareceu para me ajudar, ela corre e trança a porta do meu apartamento para que o homem não fuja enquanto sua prima chama a polícia.

Estava sentada no sofá com uma manta cobrindo meus ombros, meu corpo estava dolorido devido aos seus apertos, mas a dor de dentro era maior, não tinha lágrimas para chorar, a ficha ainda não caiu. Me sinto sozinha agora, minha família toda estava em Madri, durante esses cinco anos que moro aqui, fiz poucos amigos, e esses colegas a maioria em si, eram parceiros de festa e mais nada. A polícia chega, primeiro vão até minha casa e Luiz é detido, ainda estava nu e com cortes devido ao vaso, isso segundo Tália, não me foi permitido contato com o meliante, por fim Carol foi encontrada, estava no banheiro do seu quarto com uma overdose de anfetamina, sigo para delegacia e presto depoimento, fotos dos ferimentos são feitos e durante todo o processo uma angústia se instalou no meu peito, me sentia extremamente cansada.

Naquele dia não dormi, ao raiar do sol precisei comparecer na sede do Hospital Boyer e prestar esclarecimento sobre o que houve no prédio estudantil, contei sobre Camila e sobre o ataque, eles me acolheram muito bem e fui encaminhada para a psicóloga. Nós próximos dias ia acontecer uma comissão entre o hospital que me fornecia a bolsa e a universidade.

Dois dias depois fui convocada na instituição, era uma reunião fechada com o presidente, reitor e diretor da universidade, todos os homens acima de cinquenta anos. Pediram para deixar bolsa, sacola e celular tudo na recepção, estranhei de primeira.

Me sento de frente para os três homens engravatados e eles me olham sérios.

— Lamentamos o ocorrido. Sra. Perez! Isso nunca nos ocorreu antes. — O reitor inicia.

— Durante esse tempo conversamos muito, colocamos na balança e chegamos a uma conclusão! — O diretor conclui.

— Qual foi a conclusão?

Pergunto ansiosa e o Presidente faz um olhar intimidador antes de iniciar.

­— A Universidade de Medicina de Barcelona é uma instituição renomada, não só na Espanha, como em toda a América Latina, nosso histórico é impecável e deve permanecer assim, se uma história como essa vir a tona será uma mancha destruidora, e não queremos isso. Portanto, decidimos manter essa história oculta, isso nunca aconteceu!

Um Romance Para Nós DoisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora