Capítulo 2

1.1K 79 11
                                    






Seis meses se passaram desde que cheguei em Madri, passou rápido, nesse tempo teve alguns acontecimentos: entrei em reunião com o hospital e meu caso ainda estava parado, em casa mamãe e papai me castigam de forma sutil, fiquei doente algumas vezes devido à imunidade baixa. Ainda trabalhava na biblioteca, mas cada dia que passava a clientela ficava mais escassa, atendia no máximo cinco clientes no dia e o restante ficava parada, pois não tinha nada para fazer, então aproveitava o tempo para alimentar o cérebro.
José ia duas vezes na semana para poder inspecionar o trabalho, quarta e sexta para recolher dinheiro do caixa.

Início de semana, acordei cedo e malhei por uma hora com os velhinhos da academia, de lá sigo para o trabalho.
Parada em frente a porta de madeira do estabelecimento, procuro a chave da pesada porta de madeira, mas não encontrava, minha bolsa parecia sem fundo, pois tinha de tudo dentro dela: sombrinha, casaco, necessaire de maquiagem e remédio, vários cabos e fone, as coisas se perdiam dentro dela com facilidade. Para piorar a situação, a alça da bolsa arrebenta fazendo-a cair e tudo que estava dentro se espalhar.

— Merda. — Olho minhas coisas espalhadas no chão sujo, e lá estava ela... a maldita chave.
Rio de nervoso

Me abaixo e começo a recolher os objetos do chão, apressada, pego tudo e jogo na bolsa de qualquer jeito. Deixo a chave por último, por fim, consigo abrir a porta.
Ligo o rádio numa música baixinha e ponho a mão na massa, começo pela bancada onde passo a maior parte do dia, passo o pano na intenção de tirar toda a poeira que se acumulou durante o final de semana, organizo os carimbos e potes de canetas. Em seguida vou para limpeza das prateleiras, coloco os livros que clientes deixavam soltos em seus devidos lugares, prezando pelo gênero. Término de arrumar toda a biblioteca, olho em volta e já não tem nada para fazer, então me sento no meu posto e começo a ler um livro aleatório, o livro acaba prendendo minha atenção que nem percebo o tempo passar, sou interrompida com a entrada de um cliente, era uma mulher por volta dos seus 45 anos, a mulher olha em volta e passa por entre as prateleiras como se estivesse perdida, me levanto e vou atender a dona.
— Bom dia, posso te ajudar em algo?
— Olá moça, estou à procura de livros de receitas, tentei achar, mas não encontro.
— Alguma preferência de receita? Doce, salgado ou massas?
— Tortas salgadas, e outra com alimentos vegetarianos, sabe como é né? Tenho um restaurante, é preciso atenderos clientes, estão cada vez mais exigentes.
Diz sorrindo.
— Os livros de receitas, como não são muito procurados, acabam ficando mais escondidos, mas vamos lá, irei te ajudar.

Caminhamos até o final do corredor onde estão os benditos livros. Pego vários, torta doce e salgada, procuro também por algum com alimentos vegetarianos, mas há apenas dois.

— Torta tem várias opções, mas vegetarianos há apenas dois. — Entrego os dois únicos de comidas vegetarianas e aponto para os de torta.

A mulher pega e analisa os livros, faz um bico que expressa sua indecisão sobre qual levar.
— Estou na dúvida, será que você poderia me ajudar?
— Claro, meu conhecimento sobre o vegetarianismo e bem escasso, pois eu amo um churrasco, mas minha irmã é vegetariana e sempre vejo ela comendo alimentos com preparo mais simples. - Faço careta ao me lembrar das comidas que minha Lorrayne come.-
— Sugiro que leve esse. – Digo após lê o verso do livrinho.
— Obrigada, os de tortas já decidi qual irei levar, será esse de tortas doces e o outro de liquidificador. – Segura os três livros junto do peito.
— Ok, como você vai levar três, vou te dar um desconto. — Sigo para o balcão.
Ligo o notebook, o que demora um pouco, já que aquilo é um trambolho de tão velho.
— Olha, esse trambolho finalmente ligou. – Digo estendendo a mão para o céu, esse computador já colocou em cada enrascada com cliente apressado, e o bonito resolve travar.
A moça ri
Faço o registro e carimbo a capa.
— No total deu cinquenta euros com o desconto.
A mulher tira as notas de dentro de uma bolsinha que estava na mão,
— Prontinho, espero que isso te ajude e volte mais vezes!
— Obrigada jovenzinha, se o atendimento for sempre assim não vou hesitar em vir, e você aparece lá no meu restaurante, fica a três quadras daqui. - Entrega um cartão com o número e endereço.
— A senhora entrega? Porque às vezes eu peço almoço.
— Sim, entregamos, e para você a sobremesa vai ser grátis! - Sorri.
— Estou me sentindo lisonjeada. - Brinco e arranco um sorriso da mulher.
— Vou te deixar trabalhar e vou embora, bom trabalho para você! – Acena antes de ir.
— Obrigada, igualmente.
A mulher se vai e o tédio surge, já fiz tudo o que tinha para fazer, já li meu livro, assisto vídeos no YouTube. Realmente a situação estava precária para o lado da loja, nenhum cliente.

Olhava o movimento da rua, quando meu estomago faz um barulho alto.
— UFF, que fome! - Penso em voz alta-.
— Deu para falar sozinha agora é? - Lola chega de fininho assustando-me.
— Ah, não faça mais isso, quase que me mata de susto! – Acerto um tapa nas costas da minha amiga-.

Ela começa a rir da minha cara.
— Que culpa eu tenho se você está aí viajando na maionese, e ainda falando com as paredes? - Entra e se senta no banquinho.

— Só estava pensando no que comer, estou com fome. É você? O que faz aqui uma hora dessa? Não tinha que estar no trabalho?

Lola era formada em engenharia Química e trabalhava numa fábrica de cosmético.
— Sim, mas o escritório está infestado de piolhos de pombos, estão dedetizando! Como estou livre, vim pegar um pouco da sua comida.
— Mas é folgada mesmo, além de vir aqui me assustar ainda quer minha comida? – Balanço a cabeça em sinal de negação.
— Amigas são para essas coisas né?
— Sim, minha bela amiga, mas sinto lhe informa que hoje não trouxe marmita, a comida de ontem não sobrou e minha mãe deve estar cozinhando nesse momento.
— Se soube nem vinha! - Bufa-.
Minha barriga ronca novamente, me lembro do cartão que a mulher deixou mais cedo.
— Você tem dinheiro aí? Se tiver vamos dividir e pedir marmita.
— Só tenho vinte euros. - Tira a nota do bolso-.
— Pode ser.
Pego o cartão que estava debaixo do grampeador e ligo, para ganhar os descontos que no caso é a sobremesa grátis, logo digo que sou a moça da biblioteca.

— Pronto, só esperar, vai demorar cerca de vinte minutos. - Olho no relógio.

Ficamos conversando até que escutamos a buzina.
— Chegou! - Grito animada e corro em direção à porta.
O rapaz magrelo e alto me entrega a sacola e olha a nota fiscal.
— São R$25,60.
— Vou buscar o dinheiro.

— Nossa, que emprego bom, você fica sem fazer nada o dia todo. — Lola dá uma mordida na sua coxa de frango.
— Pois é, está desse jeito há meses, sempre vejo o senhor José olhando os gráficos de rendimento e parece que a situação é péssima.
— Mas acredito que vai melhorar, deve ser só fase ruim.

Terminamos de comer e minutos depois ela vai para casa. Limpo a mesa com alguns vestígios de comida e como sempre nada para fazer. Assim foi o restante do meu dia, no total atendi quatro pessoas, falhando na meta diária que é de dez vendas.
Fecho a loja as dezoito horas e sigo a passos de tartaruga para casa.

Um Romance Para Nós DoisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora