Trinta e Sete

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"O medo nunca está no perigo, mas em nós."-Stendhal

Digito a mensagem para a Lala avisando que já sai do ensaio fotográfico e vou parar para comer alguma coisa antes de encontrá-la em casa para a passagem de som da banda.

As ruas de Trevisol estão muito movimentadas por ser sábado, ainda mais por causa de um evento de comemoração aos trezentos anos de fundação do Estado.Lojas,lanchonetes e cinema estão liquidando os preços,os museus abrem as portas por mais horas,os teatros retratam outras peças,em outras palavras todo trevisolano está em festa.

A lanchonete que sempre frequento está lotada,o que torna o lugar ainda mais abafado, mesmo que o ar condicionado esteja ligado no máximo,a primavera chegou para castigar em Trevisol.O atendente que já conhece meu pedido,me indica um dos bancos no balcão e faz sinal para que eu espere,por esses minutos respondo as mensagens empolgadas dos meus amigos por conta da apresentação que teremos no evento do estado,respondo também as poesias do Chaz.

-Aqui está.-O rapaz põe meu pedido em minha frente.

-Obrigada.-Agradeço bebericando o suco.

Faço minha refeição com tranquilidade,mastigando devagar e sentido algo estranho ao meu redor.A mão de alguém cutuca minha costela fazendo-me quase saltar no banco,olho para o lado vendo uma garotinha de aproximadamente sete anos com um dente faltando.

-Oi,Lavine.-Ela acena feliz.-Sou a Milena,e eu adoro a sua banda.

-Muito obrigada,Milena.-A olho com carinho.-Há algo que eu possa fazer por você?

-Eu quero uma foto.-Seus cachos balançam quando ela mexe a cabeça.

-Claro.-Desço do banco e me ajoelhou ao seu lado segurando o telefone em minhas mãos.-Por que não sorri?

-Eu não tenho dente.-A menina aponta para a própria boca.

-Isso não é problema nenhum,eu não tinha um dente na minha festa de formatura e mesmo assim não deixei de sorrir.-Conto.-Quando um momento é bom,não importa como estejamos se a única vontade for rir até não aguentar mais.

-Você é mais bonita do que na tela do celular.-Ela aperta a ponta do meu nariz e vira o rosto para a frente.

Sorriu para a câmera e tiro a primeira foto,das sete que ela pede,cada uma com uma careta diferente.

-Você é uma menina muito bonita.-Toco seu cabelo.

-Obrigada.-Ela quase grita se jogando dos meus braços mais uma vez antes de correr para os pais,que acenam de volta para mim.

Dois adolescentes com camisas em tons de laranja diferentes também se aproximam,pedindo fotos.Esse pedido é quase constante e me surpreende cada vez mais,eu moro aqui faz anos e não conhecia metade das pessoas que tirei foto nos últimos meses.

Me sento novamente no banco, mas uma sensação ruim toma conta de mim quando seguro o copo de suco,por isso resolvo pedir uma água e terminar meu lanche,ao fim pago a conta de deixo o ambiente para trás.

O sol aquece minha pele,o que torna tudo mais quente são as minhas roupas:a calça jeans escura,a blusa amarela de amarrações nas mangas curtas e a bota de cano curto.Pelos óculos escuros noto uma movimentação estranha,e a forte sensação na nuca me faz entrar na primeira loja que tem as portas abertas por uma cliente.

O formigamento permanece,até que eu vislumbro olhos vermelhos escuros me procurando do lado de fora,e tudo acaba bem rápido,pois uma mão toca meu ombro.

-Acho que você está na parte errada.-Jonas,o primo da Luna, tem os braços cruzados.

Olho em volta,vendo que estou na parte masculina,mais especificamente perto das roupas íntimas para os homens.

Imperatriz em AscençãoWhere stories live. Discover now