Trinta

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"Às vezes, a revelação divina significa simplesmente adaptar seu cérebro para escutar o que seu coração já sabe."-Dan Brown

Meus passos são curtos para entrar no cômodo de paredes brancas e móveis de cor marrom, principalmente pela Glinda está com a pequena Leslie nos braços me oferecendo um sorriso de conforto.

-Olha quem veio te conhecer, Leslie.-Glinda muda a voz para falar com a bebê,que abre um sorriso gostoso de se ver.-Essa é sua irmã.

Meus olhos encontram os da bebê,ela é tão linda que me emociono.É parecida em tudo com a Glinda,desde a pele branca,os olhos azuis e os cabelos castanhos claros.

-Eu posso pegá-la?-Estendo os braços para a bebê ao fazer a pergunta a mãe.

-Você deve.-Glinda me entrega aquele pequeno ser.

O primeiro contato físico me fez derramar algumas lágrimas,e Leslie fez um barulho com a boca fazendo escorrer babá,sua mãozinha foi de encontro a boca e ela balançou os pezinhos cobertos por uma sandália de dedo.Seus olhos transmitem doçura,e seu cheirinho é gostoso de sentir.

-Leslie transmite amor seja a quem veja-a ou toque-à.-Glinda conta.-Será impossível alguém não amá-la.

-Às vezes o amor se transforma em ódio,então ela pode correr uns riscos.-Toco na bochecha gorda da bebê.

-Farei o possível para que não.-Glinda suspira.-Roberta me deixou esperá-la aqui depois de muita insistência da minha parte.Uma coisa que creio nunca mudar é a antipatia que sentimos uma pela outra.

-Era de se esperar.-Balanço a bebê.-Vocês têm uma rixa longa, tanto por serem seres diferentes quanto por amar o mesmo homem.

-Bom,com ela eu sei que não há como me resolver,mas com você há.-Glinda caminha para a janela aberta e olha o céu.-Entendo que não possa ser uma boa hora para você,já que os outros filhos do Adriel estão aí em baixo,mas foi justamente por isso que vim,para que Leslie possa conhecer os irmãos e eu finalmente possa alcançar um perdão seu.

-Pode começar,Glinda.Sou toda ouvidos.-Sento na poltrona ainda com a bebê nos braços,agora seus dedinhos se enrolam nos meus cachos soltos e ela ainda sorri e faz barulhos com a boca.

-Eu amo o Adriel desde que me entendo por gente.-A voz da Glinda é suave.-Lembro-me de quando eu tinha dez anos e ele quatorze,pensei estar passando mal ao olhá-lo e observar detalhadamente cada traço dele, meu estômago estava pesado,a respiração falha e o coração em um ritmo acelerado e então eu desmaiei.-Ela ri.-Ao acordar soube com toda a certeza que o que nutria pelo Adriel era amor. Minha mãe ficou em êxtase ao saber disso,pois já dizia que eu seria dele e ele meu.Nossos pais faziam planos para nós,nos forçavam a passeios,encontros, jantares,danças e planejavam namoro,noivado e casamento enquanto o Adriel era forçado a cortejar uma amiga.No fundo eu gostava de todos os planos por já estar apaixonada,mas me incomodava o fato do Adriel ficar desconfortável e ter toda aquela pressão sobre nós.Entendi desde cedo que o Adriel não me amava na mesma intensidade,e isso não me impediu de insistir, de ficar ao seu lado,de amá-lo.

-Você sofre com esse amor há muito tempo.-Comento.-Isso não é doentio?

-Nem todo o amor é doce e compreensível.-Glinda se vira para me olhar.-Alguns chegam a ser dolorosos e destrutivos.

-Isso não é doentio?-Repito.

-Eu estou fadada a amar uma única pessoa para sempre.-Glinda senta na poltrona ao lado e enrola os dedos uns aos outros nervosa.-Eu posso me atrair por outros homens ou mulheres,mas nunca será como o amor que sinto pelo Adriel,às vezes sinto que ele é irracional,exatamente o que me levou a ceder aos pedidos dele,eu queria agradá-lo a todo custo e talvez assim ele me veria com outros olhos,mas eu apenas me iludia cada vez mais pois sabia quais eram os reais sentimentos do Adriel por mim.

Imperatriz em AscençãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora