Mitologia Grega - Orfeu E Eurídice

"...Tê-la Conhecido"

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Caronte levou o barco à margem do rio Estige, onde Orfeu saltou sem ao menos dizer uma palavra, tamanha era sua ânsia e desespero. Andou apressado pela gruta, ouvindo apenas os seus próprios passos contra a rocha fria.
_Estamos quase lá - disse para a escuridão, sem esperar uma resposta.
Quando viu a luz do dia à sua frente, vinda da entrada da gruta, Orfeu não conseguiu mais se segurar, correu como nunca correra em direção à saída. Seu coração martelava o peito de tanta ansiedade. Mal via a hora de ter Eurídice de volta em seus braços.
A saída cresceu à sua frente e ele continuou a correr, cheio de expectativa.
Quando saiu para a luz do dia, correndo como nunca, virou-se imediatamente para trás. Estava com o medo estampado no rosto, pois temia que Eurídice não o acompanhasse, mas assim que se virou, um sorriso largo tomou conta de sua face, pois ali estava ela, atrás dele como Hades prometera.

_Eurí...
Algo estava errado. Eurídice não se aproximava dele.
O desespero tomou conta de seu coração quando percebeu que ele fora ansioso demais. Virou-se assim que saiu para a luz, mas esqueceu-se de lembrar que Hades disse que eles deviam estar banhados pela luz da superfície.
Eurídice ainda estava dentro da gruta quando ele se virou.
_Eurídice! - jogou a lira no chão e correu de volta, mas na porta da gruta sentiu como se uma força invisível o mantivesse do lado de fora - Eurídice, não!
Havia lágrimas nos olhos de sua mulher, enquanto mantinha as mãos pressionadas à parede invisível.
_Nós tivemos o nosso tempo - ela disse com a voz chorosa - Mas esse tempo acabou.
_Eurídice! Me perdoe! - chorou enquanto mantinha sua mão sobre a de Eurídice, separados apenas pelo poder do submundo.
_Eu te amo, Orfeu - mesmo com as lágrimas correndo soltas por seu rosto, ela sorriu - E sempre vou te amar.
Das sombras veio Caronte, que com seu rosto ainda oculto pelo capuz, segurou a ninfa pelos braços.
_Eu a amo, Eurídice. Você fez a minha vida feliz.

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Caronte arrastou a aloníade para o interior da gruta, enquanto esta chorava e tentava manter ao máximo sua visão sobre Orfeu.
_Caronte! Pare! - Orfeu implorou, mas o barqueiro continuou levando Eurídice cada vez mais para o fundo.
Orfeu se arrastou pelo chão até alcançar sua lira, mas quando virou-se novamente na direção da gruta, não conseguia ver mais nenhum deles. Levantou-se do chão e foi até a entrada, descobrindo que aquela força não estava mais presente. Correu gruta adentro, esperando que ainda houvesse uma chance.
Chegou às margens do Estige, mas não havia ninguém ali. Orfeu esperou por horas. Chamou o nome de Caronte, Hades e até Peséfone, mas ninguém veio lhe ver.
Por fim, rouco de tanto gritar, sentou-se à beira do Estige e começou a tocar uma melodia lenta e simples, totalmente diferente de tudo que já havia tocado. Naquela música não havia o calor de sua alma, apenas escuridão.
_Orfeu - apenas a altas horas da noite ouviu uma voz cheia tristeza, atrás de si.
Virou-se e se deparou com a figura brilhante e imponente de Apolo.
_Eu desperdicei minha chance - disse Orfeu, baixinho - Falhei com Eurídice, comigo e até mesmo com Hades, que foi tão generoso. Imagino que depois de tamanho fracasso, minha única opção é tirar minha vida.
Apolo se aproximou e sentou-se ao lado do filho.
_Não diga besteiras, Orfeu. Você é um herói, seu lugar é nos Campos Elísios, não em um lugar tão sem atrativos quanto o Tártaro. Continue sua vida, e terá a chance de ver o mais belo mundo que um mortal tem a chance de conhecer.
_Mas eu fracassei. Não mereço algo desse tipo.
Apolo se cansou. Levantou-se e agarrou Orfeu pelos ombros, erguendo-o do chão.
_Você é um herói! Um argonauta! Esteve ao lado dos mais ilustres homens e viveu as maiores aventuras. É filho de Apolo! Acha que está destinado a terminar com uma corda no pescoço? Acha que eu quero isso para meu filho? - Orfeu engoliu as lágrimas e tentou se recompor - Você a viu uma última vez não foi?
A lembrança de Eurídice era dolorosa, mas nesse momento conseguiu sentir um pequeno calor no peito ao recordar a imagem da esposa, tão perto dele.
_Sim, quase pude tocá-la.
_Ouviu suas últimas palavras? Disse as suas.
Orfeu conseguiu sorrir ao lembrar da declaração da esposa.
_Sim.
_Então não há assuntos pendentes e não deve haver arrependimentos - Orfeu começava a ganhar uma nova perspectiva diante da visão de Apolo - Pegue essa lembrança para que te aqueça anoite e siga em frente - a expressão de Apolo amoleceu, fitando seu filho, aquele herói que parecia tão frágil nesse momento - Sabe meu filho? Houve um homem tempos atrás, que amou desesperadamente uma deusa, e isso causou sua destruição. Mas escutei que enquanto era levado por Caronte, ele disse que "melhor era ter uma morte precoce, do que nunca tê-la conhecido".

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Fim

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