43- PÉROLAS GÊMEAS

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— Acorda! Vamos logo! — Zenit me chacoalhava, apreensivo.

— O que...?

— Não dá tempo de explicar, precisamos sair daqui o quanto antes. Todos os Mentirosos já foram embora. O Império está a caminho!

Levantei, ainda tonto pelo desmaio. Thomas esperava ao meu lado, apreensivo, mas intacto. Os cadáveres de Estela, Levi, Rick e Napoleão continuavam no chão. Como havíamos escapado do Lorde Tritão? Onde ele estava? Eu não era capaz de imaginar uma explicação lógica para a minha sobrevivência.

Aquele lugar parecia muito maior agora que estava vazio, de celas abertas e destruídas. Para onde quer que eu olhasse, haviam cadáveres. A maior parte era de gigantes, mas também vi dezenas de soldados e Mentirosos espalhados pela rampa espiral. Alguns gemidos denunciavam a existência de sobreviventes em meio à carnificina. Preferi não pensar muito sobre eles.

No centro do buraco a situação deveria estar ainda mais assustadora, e preferi poupar meus pesadelos da imagem desagradável das centenas de corpos amontoados nas afiadas estacas de metal.

O combate havia chegado ao fim. Sem a possibilidade de encontrar Levi no meio dos destroços, só me restava pensar no futuro.

Impaciente, Zenit me puxou pelo braço, em direção ao caminho escuro de onde saíra mais cedo. Estava desesperado para partir. Ainda assim, eu não podia deixar a prisão. Faltava mais uma pessoa em nosso grupo.

— TONY! — Gritei. — Onde está você?! — Sem resposta.

— Eu já procurei bastante por ele. — Alertou Zenit. — Olhei por todas as celas. Não está em lugar nenhum. O desgraçado já deve ter fugido. Vamos logo! Não sei se você sabe, mas os soldados vão nos matar se nos encontrarem aqui!

— Zenit está certo, Romeo. Não o atrase. — Meu irmão me empurrou, assegurando nossa fuga.

Nós três caminhamos durante alguns minutos em meio aos túneis subterrâneos antes de subir por uma escada de mão, até um alçapão pequeno que levava à superfície. Perguntei sobre o desfecho da batalha durante todo o percurso, mas nenhum dos dois parecia disposto a perder tempo com histórias enquanto ainda estivéssemos na ilha nevada.

— Eu não participei muito mais do que você. — Zenit falou, depois de minha insistência. — Lorde Tritão me desmaiou logo depois. Quando acordei, ele tinha desaparecido. Talvez tenha pensado que já estivéssemos mortos ou sei lá.

— Eu estava escondido dentro de uma cela e não consegui ver nada. — Thomas admitiu. — Quando tomei coragem para sair, só haviam vocês dois e os corpos no chão.

Senti o vento gelado no rosto quando emergimos para a superfície de Cranius Cast. Eu estava bem agasalhado, mas meu irmão tremia de frio. Aquela era uma região da ilha desconhecida por mim, mas pude ver o veleiro de Zenit atracado em uma praia deserta, distante dos navios de Mentirosos e de onde eu mesmo escondi minha embarcação.

— Ufa! Ainda está aí! — Zenit comemorou. — Vamos! Rápido, Romeo. Nos tire daqui.

Embarcamos imediatamente, e, com ajuda de Thomas, dentro de minutos o barco estava pronto para partir. Zenit se trancou na cabine principal e não saiu durante horas, me fazendo pensar se havia se ferido na batalha contra Lorde Tritão.

— Quem diria — Thomas se dirigiu a mim, depois de se agasalhar com minha capa de pele de macaco, que estava largada em minha antiga cabine. — os monstros da sua cabeça eram, de fato, reais.

— Imagine a reação da mãe se visse uma coisa dessas...

— Talvez devêssemos ter trazido ela junto. Lorde Tritão não seria páreo para aqueles tamancos.

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