12- SINTONIA

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Há poucos metros de nós, um gigante era arrastado pela força de oito carcereiros. Fazia resistência com os pés no chão, mas as algemas presas nos pulsos e calcanhares faziam com que desistisse da determinação silenciosa e avançasse um passo a cada puxão violento. A pele em volta das algemas já sangrava com ferimentos abertos pelo que pareceu ter sido horas de resistência. 

Seu rosto era como o de Tomas e Tam, mas era mais baixo, mais gordo e tinha cabelos mais compridos, da mesma cor escura. A expressão em seu rosto dividia-se entre o cansaço e o sofrimento, e de tempos em tempos soltava gemidos de dor.

— Vocês vão ver! — O gigante rugiu em tom de choro, claramente esgotado. — Os Mentirosos vão pegar todos vocês!

De novo essa história de mentirosos. Eu não tive muito tempo para refletir sobre o significado da frase, pois o grito de Levi chamou a atenção de alguns soldados de cima, que nos avistaram parados na beira do buraco e começaram a gritar, tentando conseguir a atenção dos carcereiros que dividiam o andar conosco.

— Eles estão aí! — Uma soldado gritava em voz alta e aguda. — Caleidoscópio está aí! Derrubem ele! — Mais uma vez, a fama de Tony trabalhava em favor de nossos inimigos.

Tony já não usava o disfarce de Robert, mas a sua presença ainda era destoante ali. Sem conhecer nenhum rosto pertencente ao Exército, não era possível se disfarçar de carcereiro e a última coisa que desejávamos era ser confundidos com escravos. Por isso até compreendi o motivo pelo qual Tony adquiriu a forma de um jovem qualquer e concentrava a sua atenção em não ser visto, em vez de tentar passar despercebido.

Bem, sua estratégia havia falhado. Tínhamos sido vistos. Toda a confusão presente no andar no qual nos encontrávamos trabalhava em nosso favor, impedindo que nossos perseguidores fossem ouvidos pelos homens que nos cercavam. Mesmo assim, alguns conhecedores da planta do lugar já deveriam estar no túnel que levava direto até onde estávamos, enquanto outra parte deles descia a grande espiral. 

Caleidoscópio não perdeu tempo e abandonou todo o cuidado com que caminhava, terminando de contornar o buraco correndo como um suicida em direção ao túnel que pretendíamos seguir. Teve sorte de não se desequilibrar e conseguiu se afastar do buraco sem esbarrar em ninguém. Em poucos segundos, já estávamos perto da parede novamente.

Fechou a porta atrás de si e eu já podia ouvi-lo ofegar quando percebi que dessa vez o caminho levava para cima. Aquilo era um bom sinal. Alguns segundos depois, Tony foi obrigado a diminuir o passo, não apenas porque estava cansado, mas porque a subida ficava cada vez mais íngreme, o que me fez suspeitar que aquele túnel ainda não estava pronto para uso. 

A velocidade de locomoção de Caleidoscópio estava muito prejudicada, o que era bem ruim, pois caso não nos apressássemos logo nos alcançariam. Quando percebi que Tony já não conseguia andar sobre duas pernas e foi obrigado a começar a escalar o chão do túnel, decidi que algo precisava ser feito. Eu tinha que tentar pelo menos ganhar um pouco de tempo para que ele subisse em segurança. 

Eu podia virar humano e voltar pelo túnel, com certeza pensariam que eu era Caleidoscópio e me pegariam no lugar dele. Nesse caso, eu morreria em seu lugar, e acho que não gostava dele tanto assim pra me sacrificar desse jeito, portanto decidi tentar distrair alguns dos perseguidores em minha forma de abelha.

A menos que estivessem preparados com redes como os tritões que me prenderam no potinho, eu estaria em vantagem pela possibilidade de voar. "Vou distraí-los", sussurrei para Tony e me afastei antes que pudesse responder. 

Voei até a entrada do túnel e fiquei no teto, esperando que abrissem a porta. No momento que a luz invadiu o estreito corredor, saí voando em direção à grande massa de marinheiros.

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