19 - EXECUÇÃO (Parte II)

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O cômodo era idêntico à sala onde fomos interrogados, com a exceção do chão suspenso de madeira e um sofá improvisado com caixotes e tecido que se estendia à nossa esquerda. 

Grudado no sofá, um grande mastro de madeira, com, pelo menos, um metro de diâmetro, erguia-se até sumir na escuridão. Eu já tinha me acostumado às construções sem teto. Aquele mastro, no entanto, me fazia pensar sobre todo o tipo de estrutura que poderia estar suspensa acima de nossas cabeças. O poste era o mesmo que sustentava a escada espiral que usamos para subir até o segundo andar e se enterrava no cascalho logo abaixo. 

Ao lado dele repousava ninguém mais que Ted, o garoto da taverna. Ele cochilava abraçando os próprios joelhos, nas mesmas roupas simples da noite anterior. Sentado sobre o sofá também havia outro homem, este grande e gordo, os longos cabelos negros presos em uma trança comprida. Ele nos cumprimentou sorridente.

Atrás da escrivaninha central, uma mulher permanecia de pé em guarda. Era mais alta que Zenit, e a composição de seus músculos, bem como as cicatrizes em sua pele escura, me fizeram acreditar que o montante que apoiava no chão fora da bainha era mais do que mero objeto de intimidação. Sua expressão era séria. Macy podia parecer ríspida, mas a frieza daquela mulher era assassina.

Na cadeira ao seu lado um jovem loiro, de cabelos compridos presos em um coque alto e barba bem aparada debruçava-se sobre os cotovelos em cima de uma alta pilha de papéis. Sentado em uma cadeira estofada, foi o primeiro a nos dirigir a palavra.

— Boa tarde. Meu nome é August Entoc. Sentem-se e fiquem à vontade. — Indicou as três cadeiras diante da escrivaninha. — Temos algum tempo para conversar.

— Não será necessário. — Me precipitei. — Trazemos notícias urgentes que requerem ações imediatas!

Sente-se. — Sussurrou a mulher da espada. Nenhum de nós teria coragem de desobedecê-la.

— Obrigado, Sofia. O que temos aqui? — August sorriu, sem emoção. Fazia o tipo galante, que projeta a voz em tons amigáveis, não por intenção, mas sim por hábito.  — Um físico, um ilusionista e um... — Soltou uma risada antes de completar. — ... talentoso portador de maldição! Não é todo dia que um grupo como esse vem se aconselhar comigo.

— Cranius Cast. — Falei enquanto puxava uma cadeira, ignorando completamente a sua capacidade de identificar nossa magia. — A ilha esconde um depósito do Império! Um depósito de escravos. São centenas de tritões escondidos lá embaixo, alguns gigantes, e ouvi sobre humanos também!

— Parece que nossas suspeitas estão confirmadas. — Comentou o homem gordo do sofá. O pequeno Ted pulou de susto ao ouvir sua voz grave e olhou para nós, perplexo, somente então percebendo que tinha dormido.

— É. Infelizmente sim. — Respondeu Entoc.

— Então vocês já sabem? — Disse Zenit, animado. — Ótimo, isso nos poupa muitas explicações. Meus amigos aqui conhecem as entradas, então, com a nossa ajuda, vocês terão todas as ferramentas necessárias para invadir aquele lugar. Como você mesmo observou, somos mágicos. Com o planejamento adequado, poderemos resgatar os escravos.

— Vocês não são os únicos. — Pontuou August, apontando para o sofá. — A especialidade de Rodrigo é abrir portas entre lugares distantes, e Ted protege a todos nós com a invisibilidade.

— Ah, eu faço o que eu posso. — Ted murmurou com a voz suave, enquanto dirigia um pequeno aceno de mão para mim e Tony. — Golias é quem fica com o trabalho pesado...

— Mais mágicos? Melhor ainda! Nosso time será forte o suficiente para resgatar a todos. — Exclamou Zenit. — O que me dizem? Estamos juntos nessa?!

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