11- NEGÓCIOS (Parte I)

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Depois de poucos minutos paramos de encontrar bifurcações e o caminho foi se alargando, até que desembocou em um ambiente mais amplo e iluminado. Não consegui enxergar os arredores nos primeiros segundos, pois tinha me posicionado exatamente na nuca de Robert. Somente depois que o ruivo caminhou alguns passos para fora do túnel eu tive noção da dimensão do lugar no qual estávamos entrando.

Era enorme. Uma grande câmara circular, de paredes e chão de terra queimada. Para a minha forma de inseto tudo aquilo parecia ainda mais impressionante: Robert pisava próximo à parede, uma vez que o chão no centro da câmara dava lugar a um grande abismo. 

O caminho não era construído em um ângulo reto. Começava mais alto à nossa direita e descia gradualmente, em espiral para baixo. Nenhum tipo de cerca separava o caminho que seguíamos do buraco no centro, mas todas aquelas estruturas eram tão grandes que aquilo nem importava.

Tochas acompanhavam toda a borda do teto circular, deixando uma grande escuridão no centro dele, de modo que eu não conseguia decidir se existia algum tipo de abertura ou se estávamos em um ambiente completamente subterrâneo. Ao longo de toda a circunferência havia buracos indicando caminhos como o que acabávamos de sair. 

"Talvez algum deles leve a uma entrada grande o suficiente para Tam", pensei comigo mesmo, ainda que fosse arriscado seguir túneis desconhecidos que poderiam me mandar para qualquer parte de Cranius Cast.

Robert não ficou nem um pouco impressionado com a grandiosidade daquela sala. Na verdade, parecia muito habituado à cidade subterrânea. Virou para a esquerda e começou a descer pela rampa circular com a maior naturalidade do mundo.

Aquele lugar era barulhento. Desde o final do túnel já dava para ouvir o som distante de vozes entrecortadas falando simultaneamente, como em uma taverna ou plateia agitada. Enquanto Robert descia, as vozes ficavam cada vez mais altas, ao mesmo tempo em que eu era capaz de perceber alguns sons estranhos. 

Eu ouvia gritos. Não os gritos de vendedores anunciando produtos, nem gritos de bêbados, ou crianças, como é de se esperar em qualquer cidade normal. Eram gritos furiosos, acompanhados de gritos de sofrimento, acompanhados de sons metálicos e batidas fortes. Parecia que algum tipo de batalha estava acontecendo lá embaixo, mas, mesmo assim, Robert descia sem medo nenhum.

Demos duas longas voltas sem encontrar ninguém. As paredes continuavam apresentando passagens para outras trilhas subterrâneas, algumas rústicas como a que passamos e outras maiores, com um acabamento melhor. A impressão que eu tive era de que aquele lugar ainda estava em construção. Eu só vi as primeiras grades de ferro no início da terceira volta, quando as paredes começaram a dar lugar a jaulas construídas sob medida para acompanhar o formato arredondado da grande espiral.

Eram celas pequenas e mal iluminadas a ponto de eu não conseguir enxergar muito além dos limites do corredor. Seguiam todas o mesmo padrão: meia dúzia de barras de ferro enfiadas no chão e no teto, com uma porta pequena do lado direito, fechada com um grande cadeado. Em cada cadeado havia uma inscrição, um número identificador gravado rusticamente no metal. "1739", "1738", e assim por diante. 

Aquilo não era uma cidade: deveria ser uma prisão. Do Império? De algum grupo grande e organizado de piratas? Não dava pra saber.

As celas não estavam vazias. De tempos em tempos eu conseguia enxergar corpos semiobscurescidos pelas sombras. A maioria dos detentos estava no chão, deitada ou encostada nas paredes. Apesar do som de briga lá embaixo, não havia nenhum tipo de rebelião ou resistência no setor em que estávamos. 

Na verdade, as coisas eram mais ordinárias do que eu imaginava ser possível dentro de uma prisão. Com um olhar mais atento pude perceber que a grande maioria dos presos era composta por tritões. Magros, doentes e em farrapos, como os cadáveres que tínhamos encontrado mais cedo.

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