Despedidas

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A expressão no rosto de Huor era serena. O robe vinho parecia tristemente apagado, sem a chama da vida do mago para o alimentar. Ninde passava as mãos em seus cabelos brancos, debruçada sobre o pequeno platô de galhos e folhas onde se encontrava o companheiro. As lágrimas da incerteza lhe corriam pelo rosto. Felpas uivava a seu lado. Um triste uivo de lamento, pois estava conectado às emoções da caçadora. E se algo desse errado? Era tão arriscado. Mas precisava tentar.

Ninde chegara há alguns minutos de Terralém e pedira momentos a sós com Huor. Fora recebida com olhares tristes e consoladores, mas ninguém ousou perguntar onde estivera ou por que demorara. Encontrara o marido rodeado por druidas, xamãs e sacerdotes. Ainda podia ouvir a sonora voz do arquidruida Malfurion ao longe. Todos haviam tentado o melhor de suas habilidades, mas eram categóricos afirmando que não havia solução. Apenas Berwyn se mantivera próximo.

O arquidruida permanecia sentado aos pés de Huor, as pernas cruzadas, os olhos fechados e indiferente a tudo ao redor. Sua pele assumira um tom esverdeado e pequenas folhas brotavam de seus cabelos. As extremidades de seus membros afilaram-se e mais pareciam galhos. Era o que mantinha o mago vivo.

A caçadora aproximou o rosto do mago e beijou-lhe os lábios. Uma última vez. Manteve o rosto próximo o suficiente por alguns momentos, deixando que três lágrimas caíssem no rosto de Huor, que permanecia imóvel.

Espero que me perdoe, meu amor — a voz não mais que um sussurro élfico.

O braço de Ninde surgiu da dobra do manto e em sua mão a esfera purpúrea reluzia. A caçadora fechou os olhos e recitou de maneira quase inaudível as palavras obscuras que lhe foram ensinadas. O brilho sinistro agora era mais intenso e o globo parecia pulsar. Algo se agitou dentro da pedra. Algo se remexia no interior daquela esfera demoníaca. Algo estava vivo ali dentro.

Berwyn abriu os olhos repentinamente.

— Ele... ele se foi.

O arquidruida se levantou em um sobressalto, a pele lentamente assumindo sua cor suave de costume.

— Ele se foi! Huor... Huor se foi — falou mais alto e em consternação, atraindo a atenção de todos que estavam a alguns metros. Ninde chorava.

Thaynahra foi a primeira a se aproximar, alarmada.

— Berwyn — ela tocou o ombro do amigo — o que houve?

— Ele se foi, Thay. Huor — a confusão tomava o druida — a vida deixou seu corpo. Eu não... não sei o que houve.

Os elfos se aproximaram do corpo de Huor, que estava tão imóvel e indiferente quanto antes. Ninde se afastara, o corpo envolvido pelo manto élfico. Berwyn e a caçadora trocaram um olhar. O rosto de Ninde era uma confusão indecifrável de sentimentos, mas seus olhos clamavam por piedade.

— Ninde — Thaynahra rompeu um silêncio fúnebre que pairava naquele pequeno elevado de terra em Auberdine. O sol dava seus primeiros indícios de despedida, com seus raios já preguiçosos. — Todos sentimos muito, minha amiga.

As elfas se abraçaram, embora Ninde pouco correspondesse. Seu olhar se mantinha distante e incrédulo. A arquidruidesa se afastou e segurou as mãos da amiga, olhando em seus olhos com afeto. A caçadora recolheu as mãos com hesitação e limpou a garganta em um breve pigarro.

— Eu... eu preciso ir a Ventobravo — disse incerta.

Os druidas se entreolharam incrédulos. Mais pessoas se aproximavam querendo prestar seus pêsames e oferecer algum tipo de ajuda. Uma irritação começou a agitar Ninde, que se sentia sufocada.

— Eu preciso ir — repetiu a caçadora.

— Ninde, existem algumas coisas que precisaremos arranjar — Thaynahra falou com carinho, dirigindo um olhar bondoso à amiga.

— Me recuso a enterrar meu marido — a caçadora respondeu de forma ríspida. A inquietação de Felpas, a seu lado, aumentava.

— Mas... Ninde? — Dessa vez foi Berwyn quem tentou intervir.

— Não, Berwyn. Não posso. Me perdoe.

Um silêncio se instaurou novamente e todos os membros daquele pequeno grupo entenderam que não era o melhor momento para prestar condolências à caçadora. Thaynahra chamou por um mago, que prontamente abriu um portal para Ventobravo. Nada mais foi dito.

A caçadora estava prestes a atravessar o portal quando sentiu o toque em seu ombro. A expressão no rosto do arquidruida Berwyn era grave. Ninde se sentiu desconfortável com seu olhar inquisidor.

— Seja lá o que está prestes a fazer... Faça funcionar!

Ninde piscou os olhos demoradamente e passou a mão na dobra do manto. A esfera purpúrea ainda pulsava. A elfa noturna entrou rapidamente no portal, sem olhar novamente para trás.

Naabot mo na ang dulo ng mga na-publish na parte.

⏰ Huling update: Sep 30, 2019 ⏰

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