Capítulo 37

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Pulei da cama indo em direção a porta. Peguei minha arma sobre a mesinha com o abajur. Fui até a porta checando o olho mágico e tomei um susto. Era o Kall.

Que porra era essa?

Passei a mão pelo rosto limpando qualquer resquício de lágrimas. Olhei minhas roupas. Ainda usava o jeans do dia anterior e nem como a camisa. Então enfiei a arma nas costas e abrir a porta.

- Kall?

Ele estava muito sério e totalmente tenso, podia ver, percebid também que me cheirou e passou os olhos por dentro do apartamento como se procurasse algo.

- O Aaron está aqui?

A pergunta dele me deixou zonza.

O QUE?

Como poderia vir perguntar de Aeron para mim depois do que houve? Eu tinha certeza que a Claire já tinha informado a todos o que ocorreu. Não acontecia algo a um dos irmãos NE's sem que o outro não fosse informado.

- Claro que não Kall. - Engolir o gosto amargo na boca. - Você sabe que ele me mandou embora!

Ele passou as mãos pelo cabelo parecendo muito mais preocupado. Logo em seguida pegou seu celular, parecia estar enviando uma mensagem. Observei aquilo intrigada. Quando Kall me olhou ele estava seríssimo.

- Ellie, o Aeron sumiu!

Um caminhão de carga me acertando teria menos força do que aquela confissão do Kall. Me segurei no respaldo da porta precisando realmente de apoio de algo sólido, pois minhas pernas pareciam gelatinas.

- Não...

Era imbecil negar algo que estava sendo afirmado, mas às vezes nossa cabeça não funcionava de maneira coerente, ainda mais quando se tratava de alguém que amávamos. Eu tinha descoberto que minha paixão por Aeron ia muoto além e naquele segundo isso ficava mais evidente.

- Infelizmente é verdade Elle...

Kall parecia tão penalizado como quanto se tivesse culpa, mas duvidava disso. Ele era um NE e NE's se protegiam até a morte se necessário.

- Como?

Minha voz era somente um fantasma da pessoa que eu sempre fui. Forte e com a aparência de ser indestrutível, mas naquele momento eu me sentia totalmente devastada, irremediavelmente.

- Não sei, ontem conversamos depois que se foi, eu disse a ele que deveria conversar com você. - Kall suspirou triste. - Aeron queria te ver imediatamente, eu disse que não, que esperasse até essa manhã, aparentemente ele concordou, porém hoje de manhã quando fomos atrás dele tinha simplesmente sumido!

Ter facas, tiros, ou os dois atravessando meu peito seria muito mais agradável do que escutar aquilo.

Meu Deus era tudo minha culpa!

Cobrir meu rosto tentando não colapsar. Aeron estava Deus sabe onde e precisava ser encontrado. Por mais que ele fosse grande e forte o mundo ainda sim era muito perigoso para ele. Tinham pessoas que podiam machucá-lo sem pensar duas vezes. Até morto poderia ser...

NÃO!

Levantei o rosto para o Kall respirando fundo. Eu tinha que conseguir me firmar. Manter a calma e a frieza. Aeron precisava de mim, do meu conhecimento, esse não era o primeiro caso de desaparecimento que eu tinha na minha frente, mas era o mais importante. Eu deveria lutar com todas as minhas forças para solucioná-lo.

- Vomos para o prédio da Cúpula. Quero todas as imagens das câmeras de saídas...

Falei menos firme do que queria, mas pelo menos consegui falar e não começar a chorar. Me abaixei pegando meus sapatos, saindo do apartamento sem calçá-los, passando por Kall ao bater a porta. Quando me virei ele ainda estava parado encarando-me muito surpreso ao que parecia.

- O que?

Perguntei impaciente. Ele queria me ver chorar? Eu estava bem perto. Talvez eu começasse no caminho. Aquela devia ser a reação que todas as mulheres iam ter de cara e era o que devia estar aguardando.

- Você disse a Claire que tinha de ir embora... Ainda hoje!

Ah sim... Eu tinha mesmo ou poderia ser enviada para as portas do inferno, perder minha patente, mas de fato, o que isso importava agora? Aeron não estava mais seguro...

Antes eu teria a segurança que ele estaria com seus irmãos e pelo menos buscando uma vida, agora, agora não mais, ele estava por aí em algum lugar totalmente em perigo, podendo estar correndo o risco de morrer.

Se ele moresse do que ia valer ter minha patente, meu mundinho ordenado, quando a única coisa com a qual me senti feliz na vida tinha morrido por minha causa? Nada.

Viver em um mundo onde Aeron meramente não estivesse, pelo menos para que eu soubesse que estaria bem, seria o mesmo que estar morta. Poderia não ficar com ele, mas não viver sem sua existência.

- Foda-se tudo. Ele precisa de mim!

Kall deu um sorriso triste e se aproximou tocando meu ombro.

- Ele tinha medo de não ser a prioridade em sua vida, mas olhe só, se enganou...

Engoli em seco. Ah merda. Eu ia chorar.

- Não se enganou, ele devia estar vindo atrás de mim... Por isso sumiu!

- Ainda não sabemos...

- Logo vamos. Venha, não quero perder tempo.

Disse e me virei caminhando apressada e descalça. Não importava que merda acontecesse comigo depois. Eu só tinha uma certeza. Iria encontrar o Aeron nem que para isso eu precisasse descer ao inferno e barganhar com o capeta.

××

Em outro lado do país...

- Senhor, tem uma ligação!

Um homem vestido de preto sentado em uma cadeira na sacada de uma enorme mansão de frente para o mar, fumava um charuto, com uma tranquilidade que lhe era implícita e assegurada por uma enorme fortuna. Ele olhou para o seu mordomo e pegou o celular.

- Sim?

Respondeu de maneira calma e baixa esperando que a pessoa do outro lado da linha se manifestasse.

- Senhor, sou eu. Desculpe o horário.

Ele já tinha reconhecido a voz do sujeito e também sabia que somente uma pessoa lhe ligaria naquela linha. Apesar de ser uma linha segura eles não usavam muito celulares. Naquele ramo todo o cuidado era pouco.

- Apenas me diga que tem algo importante, se não, pode desligar.

O homem ao outro lado parecia estar sorrindo. Ele podia saber.

- Temos um dos seus brinquedos. Foi recuperado!

Aquilo sim era uma boa notícia.

- Qual deles?

- 867!

Esplêndido. Seu melhor brinquedo.

- Ótimo trabalho!

- Prepare tudo, estou mandando irem buscá-lo. Sua recompensa será alta!

O outro homem riu.

- Obrigada senhor.

Ele desligou em seguida voltando a fumar seu charuto e sorrindo satisfeito. Sempre soube que era questão de tempo até começar a pegar de volta tudo que lhe foi roubado.

Agora que tinha seu primeiro brinquedo de volta já pensava em como usar para fazer com que todo aquele sistema de merda que a Stacy levantou começasse a cair. Já tinha uma ideia de por onde devia começar.

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