Capítulo 35

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Cada passo que eu dava era como estar caminhando para a morte.

O que eu fiz? O que eu estava fazendo?

Engoli em seco. Eu tinha que fazer aquilo. Eu não queria perder minha patente e também não queria perder o Aeron. Aceitar aquela missão seria a única forma de ter os dois.

Eu poderia ficar um tempo longe, mas não seria muito, então logo poderia voltar e tirar minha licença, então dá meu jeito, pensar em uma forma de ficar ao com Aeron.

Entrei no caminho do dormitório do Aeron. Eu tinha passado o dia fora depois daquele inferno. Tive que organizar as coisas a duras penas. Mas nada seria pior do que aquilo. Nada. Cheguei na porta do dormitório e antes de levantar a mão para bater, tomei um susto, pois a porta foi aberta. Aeron surgiu ali.

- Minha loirinha...

Ele falou e me puxou para um abraço. Enfiando o rosto em meu pescoço. O abracei de volta e meu peito de repente se torcou em uma dor tão forte como se houvesse levado um tiro.

- Aeron...

Falei a ponto de quase começar a chorar. Ele me levou para dentro e fechou a porta, beijando-me, rosnando baixinho.

- Você voltou!

- Sim...

Minha voz estava apertada. Aeron me encarou daquele jeito inocente que derretia meu coração.

- Por que demorou tanto? - Ele franziu as sobrancelhas. - Demorou tanto, passei o dia preocupado, querendo ir atrás de você mesmo sabendo que não ia gostar...

Levei a mão ao rosto dele. Querendo gravar cada traço daquele. Não perder nenhum detalhe. Seriam dias difíceis longe dele e eu precisaria de cada lembrança para manter a sanidade.

- Sinto muito...

As palavras engasgaram na minha garganta. Aeron franziu as sobrancelhas ainda mais. Ele estava confuso.

- O que está acontecendo Elle?

- Meu chefe já sabia sobre nós dois. Foi terrível... Ele me ameaçou.

Todo o corpo dele ficou rígido. Senti os musculos das suas costas de repente trabalhando. Era como se estivesse se preparando para um luta.

Merda!

- Vou matá-lo!

Agarrei sua cintura. O rosto dele era uma carranca dura e totalmente bravo. Ele parecia prestes a matar alguém mesmo.

- Por favor, me escuta, não começa a tentar matar alguém. Essa situação foi inevitável...

Aeron sacudiu a cabeça em negativa.

- Você foi ameaçada. Como quer que eu aceite isso? Você é minha e merece proteção.

Toquei o rasto dele engolindo em seco. Meu coração estava a cada segundo mais destroçado e eu ainda não tinha nem chegado ao final daquela maldita história.

- Meu amor, me perdoa, mas não preciso... Não do jeito que imagina. Eu contornei o problema, mas agora estou sendo afastada daqui, irei para outro trabalho... E... E nós vamos ter que ficar um tempo afastados...

Aeron se afastou de mim como seu eu queimasse. Seu olhar era ferido. A dor em meu peito piorou em níveis ainda mais forte.

- Não, não... Não Elle. Você é minha!

- Sim, eu sou.

Tentei me aproximar dele. Mas Aeron não deixou. Quase cair de joelhos a sua frente.

- Então vai me deixar por que?

- Não estou te deixando. É só um afastamento temporário.

Ele se virou de costas. Indo para o quarto. Parecia um lobo selvagem, literalmente. Eu tinha o perturbado, estava claro, doía vê-lo assim. Só queria que ele pudesse entender.

- Você vai me deixar...

- Não definitivamente...

Aeron voltou a sala e me encarou. Seus olhos azuis injetados de dor e fúria, mais dor na verdade, era claro.

- O que eu fiz de errado? - A voz dele era embargada. - Te esperei, dei seu tempo, fiz tudo para que se sentisse bem...

- Aeron eu não estou fazendo isso porque fez algo de errado. Estou fazendo porque meu chefe não me deixou opções... Ele acha que estou "comprometida", quer dizer afetada pelo nosso relacionamento...

Eu sentia meus olhos enchendo de lágrimas. Aeron deu um aceno em negativa.

- É o seu trabalho, sempre vai ser seu trabalho...

As lágrimas caíram. Aeron parecia muito machucado.

- Eu vou voltar, prometo, por favor Aeron...

××

O coração dela não era meu, pelo menos não todo. Ele estava dividido. Eu não queria acreditar, mas aquela era verdade, Elle nunca poderia ser minha.

- Não vai...

Todo meu peito estava sendo pisoteado. Elle não iria voltar para mim. Se quisesse ficar comigo não estaria indo embora.

- Aeron, não faz isso. Confie em mim!

Ela tentou se aproximar. Mas não permitir. Se ela me tocasse tudo estaria perdido. Eu ia pedir de joelhos se fosse necessário para que não me deixasse. Mas eu tinha que ter algum orgulho. Aquela fêmea não me queria.

- Se vai embora vá logo Elle.

- Aeron, não...

Respirei fundo. Eu sentia que estava perdendo uma parte minha.

- Vai embora.

Ela mordeu seus lábios. Chorando. Aquilo foi ainda mais doloroso. Elle olhou para as suas mãos e engoliu em seco.

- Eu amo você, não se esqueça disso, nunca!

Ela não era uma fêmea má, mas naquele momento parecia ser ao me dizer aquilo, ao me dizer que me amava. Dei as costas para ela não suportando mais a encarar. Eu queria que ela ficasse comigo por vontade própria, não por causa do meu amor e meus pedidos, queria ser sua primeira escolha.

- Adeus Elizabeth!

Escutei ela ofegar. Mas com muito custo não a olhei. A única parte viva de mim estava morrendo ali. Quando escutei ela se mover até a porta eu soube que qualquer perspectiva de uma vida feliz que parecia tão próxima naqueles últimos tempos tinham saído com ela ao bater a porta.

UnbrokenWhere stories live. Discover now