CAPÍTULO 41 - ONDAS

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— Aquele não era Zac. - Ruby diz assim que eu entro no quarto e começo a procurar pela minha toalha. Ela está deitada na cama ouvindo algum pop baixo na caixinha de som.
— Por que está aqui?
— Visitando o papai. - Ela encolhe os ombros e coloca a franja longa pra trás da orelha. Percebo que os cabelos dela estão mais vermelhos dessa vez.
— Às dez da noite?
— Precisava sair de casa um pouco.
— Está tudo bem?
— Vamos destrocar? - Ela pergunta de cabeça baixa. — Sara sente muito a sua falta.
— Já tinha falado com o papai sobre isso, mas o assunto acabou fugindo. - Eu me sento na cama ao seu lado. — Vou voltar pra casa amanhã. Tem certeza que não quer ficar lá comigo?
— Tenho. Sinto falta de casa.
— Ok. Vou tomar um banho.
— Você já não tomou um hoje? - Ruby sorri e eu sei do que ela está falando. Tento segurar o sorriso mas não consigo. Dou um tapinha na perna dela e me levanto da cama. — Quem era aquele, afinal? - Eu me sento na cama novamente.
— Noah. - Suspiro. — Noah Levi. Mas somos só amigos.
— Não foi isso que pareceu.
— Eu sei! Mas não sei o que deu em nós dois, geralmente somos só grandes amigos mesmo. Foi do nada, sabe? Ele só se aproximou e...

É quando o aleatório começa a tocar uma música que eu me lembro e percebo a merda que eu fiz.
Mikky Ekko.

— Droga! Zac!
— O que tem Zac?
— Eu esqueci totalmente que ele existe! Esqueci de responder, de avisar que já tinha saído, ele ia me buscar na escola e...meu deus, eu vim embora com o Noah!
— Essa é a maior das suas preocupações?
— E eu beijei o Noah. - Concluo, sentindo meu corpo todo formigar. — Como diabos vou contar a Zac que o traí?
— Zac não precisa saber. Você vai terminar com ele? Pra ficar com Noah?

A ideia me chama atenção e meu coração acelera antes de lembrar que é impossível.

— Não... - Me encolho e abraço os joelhos.
— Por quê?
— Noah também namora. A anos. E ele é maluco por ela.
— Tão maluco que te beijou...
— Foi só uma distração. - Dou de ombros.
— Foi só isso pra você?
— Sim. - Minto. — Claro que foi.

Antes que Ruby faça mais perguntas corro pro banho, deixando a água gelada levar embora todo os vestígios da pele de Noah na minha. Somos amigos, eu tento me convencer, somos só amigos.
Um banho e uma xícara de chá de camomila me tranquilizam e eu sento na escrivaninha pra escrever.
Começo a postagem citando a rua de Noah, sabendo que será uma analogia que apenas nós dois entenderemos e ficando feliz por dividir certos segredinhos com ele.

"Postagem em Frida Wolf.
Eu espero que eu nunca te perca, espero que nunca acabe. Jamais andaria por Cornelia Street novamente.
Esse seria o tipo de coração partido que o tempo jamais poderia curar.
Mas quais são os tipos de corações partidos que o tempo pode curar?"

Quando percebo, estou encarando o computador a mais de dez minutos e nada acontece. Nenhuma palavra sai. Há um turbilhão de sentimentos em mim e eu não consigo nem me mover para ir dormir. Resolvo postar apenas esse pequeno parágrafo e abro uma nova página, sem a intenção de postar o que quer que venha a seguir.

"Postagem em Frida Wolf.

Gostaria de dizer que você foi como uma brisa, pra comparar com o fato de que o que tivemos foi absurdamente rápido e leve, mas não dá pra colocar do lado de uma brisa o sentimento que você causou em mim. Também não se compara com um furacão, visto que furacão deixa rastros e os seus ainda não foram percebidos por aqui (embora algo sem nome tome conta de mim quando você me lembro de hoje), mas talvez dê pra te comparar com o mar, caso você e ele me permitam, já que eu não entendo nenhum de vocês dois. Não posso entrar de cabeça, não posso me jogar sem medo e, muito pelo contrário, fui ensinada a vida toda a tomar cuidado com fenômenos incontroláveis. Fui ensinada a colocar um pé na frente do outro, sentindo a temperatura e o estado de espírito pra evitar um possível afogamento. Eu vou agir assim com você, me perguntando "será que aqui é mais fundo?" antes de começar qualquer papo de sentimentalismo. Me perguntei onde ficaria confortável, e me encontrei no teu peito como me encontrei no mergulho rápido em uma onda que veio sem me avisar. A água era gelada, então refrescava. O dia era quente, então me aquecia. Eu não conseguia explicar o sentido dos arrepios, mas gostei de você ter sido quem os causou. Você deixou indecisões de um tempo aberto com previsão de chuva a qualquer momento. E um frio na barriga tão leve que eu quase não senti."

Por ter sido a coisa mais sincera - e confusa - que já escrevi, resolvo postar. Fecho o notebook e me deito na cama ao lado de Ruby, que já está no milésimo sono.

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