CAPÍTULO 38 - SEM TITULO

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Posso te perguntar uma coisa? - Zac diz, me tirando do transe. Estou deitada em algo parecido com uma maca de hospital, tentando não tremer todas as partes do meu corpo ao mesmo tempo enquanto o tatuador faz alguns testes com a máquina.
— Claro. - Sorrio em sua direção, ele está sentado ao meu lado.
— Quem é Noah?

Sem saber exatamente o motivo, meu corpo gela. É como se uma frente fria tivesse atingido Sacramento bem ali, naquela salinha de cores neutras. Algo em mim se revira, pois a voz de Zac traz um desdém que desconheço.

— Um amigo. Por que? - Eu seguro sua mão e tento não vacilar o sorriso, afinal, não tem porque estar nervosa assim.
— Você nunca me falou dele.
— Somos amigos a pouco tempo, o assunto não deve ter surgido.
— Pouco tempo quanto? - Ele levanta uma sobrancelha e percebo que o assunto também o incomoda, como se Zac soubesse de algo. Mas não há o que saber, então me mantenho calma.
— Menos de uma semana, na verdade. Por que esse interesse repentino em Noah?
— Você escreveu sobre ele.

Droga. O blog.

— Ah! Você leu. - Só percebo que meu tom é triste após terminar a frase. Me arrependo no mesmo segundo.
— Não era pra ler? - Ele levanta uma sobrancelha.
— Claro que era, meu bem. - Dou um sorriso tímido a ele. — Noah é um amigo, temos uma conexão interessante, acabei almoçando na casa dele esses dias, a postagem foi só sobre um almoço entre amigos.
— Você conheceu a família dele.
— Sim. - Respondo, me perguntando onde esse assunto está indo.
— Você nunca conheceu a minha família.
— Você nunca me convidou.
— Eu convidaria se...
— Pronta? - Félix interrompe Zac.
— Sim. - Digo, mas o sorriso nervoso não deixa meu rosto.
— Ela escolheu o antebraço. - Zac diz por mim, indicando com a mão o lugar que escolhemos juntos para a minha tatuagem. - E eu escolhi o pulso.
— Você vai tatuar também? - Pergunto, os olhos arregalados de surpresa.
— Sim. Sempre gostei de lobos. - Zac da de ombros, como se tatuar algo relacionado ao meu sobrenome não fosse uma loucura que ele estivesse prestes a cometer.
— Você vai tatuar o meu lobo?! - Sorrio incrédula.
— É só um lobo, Frida, não tem nada a ver com você.

Ele sorri e me dá um olhar de quem não está se importando, mas eu sei que não é assim. Então, de repente, à frente fria se torna um abraço caloroso nas borboletas do meu estômago, e tudo o que Zac me fazia sentir no começo, antes de eu decidir que nem gostava tanto dele assim, volta pra mim. É como se eu ainda fosse a Frida do começo, ingênua e secretamente apaixonada por ele. E a sensação não me dói mais.
O que dói agora é essa agulha entrando e saindo do meu braço. Eu deveria ter escolhido outro lugar.

— Você disse que não doía. - Digo enquanto a careta de dor toma conta do meu rosto.
— E não dói. É só uma picadinha.
— Zac, são trinta picadinhas por segundo, no mínimo. - Eu lanço a ele um olhar julgador e Zac ri, jogando os cabelos pra trás e agindo como se não fosse o homem mais bonito do mundo.
— Você é tão dramática.
— E você cortou o cabelo. - Passo minha mão livre em seus cachos recém cortados. Agora eles estão acima da orelha, mas o caimento de anjo ainda me encanta.
— Só um pouco, tava começando a encher o saco. Não se mexe não. - Ele me pede com a voz calma.

A dor ainda incomoda, mas alguns minutos depois ela já se torna suportável. Encaro as linhas permanentes se formando no meu braço e tento não me arrepender, afinal, um pedacinho de Zac sempre estará em mim agora, mesmo que eu o afaste.
Não que eu tenha alguma intenção de terminar isso que a gente tem, mas não posso negar que é um sentimento que já passou pela minha cabeça antes.

— E então? O que achou? - A voz de Felix me acorda um tempo depois e só então percebi que adormeci deitada na maca. Quando encaro meu braço, a sensação é nova. Varias linhas retas formam um lobo pequeno e singelo na parte interna do meu braço, dando cor a pele branca.
— Felix, eu amei! - Dou um sorriso sincero a ele, que retribui.
— Minha vez. - Zac me dá um leve empurrãozinho para que eu saia da maca e toma meu lugar.
— Você tem certeza disso?
— É só uma tatuagem. - Zac repete o que me disse a alguns minutos e eu dou um beijo em sua testa, sorrindo por ele realmente querer me marcar assim.
— Claro.

Dou um sorriso tímido a ele enquanto o tatuador embrulha meu braço bum papel filme. Me sinto um frango de padaria e a tatuagem coça com o atrito do papel, mas não reclamo. Pra quem sofreu agulhadas nos últimos quarenta e cinco minutos, uma coceirinha leve não é nada.
Quando a agulha toca a pele de Zac, ele nem vacila e me deixa com inveja. É como se ele não sentisse dor alguma.

— Sempre com essa cara de desprezo. - Felix debocha.
— A culpa não é minha se sua mão é leve.
— Zac, olha o tamanho das suas tatuagens. Não é possível que você não tenha sentido dor em nenhuma delas, pelo amor de Deus. - Félix rebate.
— Nunca saberás.

Quando ele termina de sorrir, começo a me perguntar quando foi que virei essa pessoa. Em que momento me tornei tão descontrolada a ponto de estar fazendo uma tatuagem com um cara como Zac? E talvez a beleza dele tenha me ludibriado um pouco, mas ainda é o Zac. O fotógrafo dos cachinhos escuros e dos olhos de âmbar que já devem ter magoado metade das modelos da Sacramento e arredores.
E o sentimento volta. Mas eu não sei exatamente como dar nome a ele.

— Está tudo bem? - Zac percebe que estou divagando.
— Sim. - Sorrio. — Olha como ficou linda.

Estendo meu braço a ele, que passa os dedos com carinho pela tatuagem.

— Obrigada. - Digo. — É o melhor presente que já ganhei.
— Sou feliz em te ver feliz.

Ele sorri e me deixa nervosa, porque quero beija-lo aqui mesmo. Nunca esperei ouvir algo assim de Zac. Ou de qualquer pessoa. Sorrio do jeito mais confortante que consigo, mas me prometo que assim que sairmos desse estúdio, eu sou dele.

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