A TEORIA DO CAOS

En başından başla
                                    

Jogou o guarda chuva ao chão junto com a bolsa de ferramentas e antes mesmo de cumprimentar seu fã clube correu os olhos pela multidão e encontrou seu alvo preferido.

— E aí Brunão! Ficamos sabendo que agora além de feio... É corno!

Todos riram. Exceto...

— Consegue ouvir sua ex trepando com seu EX MELHOR AMIGO? Diz aí, cara!

Os operários gargalharam. Dênis, o supervisor por pouco não se engasgou com o suco denuva que bebericava e um dos engenheiros se queimou com o café expresso. Mas não deixaram de rir.

— Chama ele daquilo lá Bro! — Berrou alguém na multidão. Era Dênis, o Carpinteiro Chefe. Os olhos do homem lembravam duas moedas de um real bem polidas. Parecia um daqueles desenhos animados excitados ao verem uma bela dama de seios fartos e quando ele ria, era como um cão com tuberculose. Mas ele adorava apelidos. Os dos outros, não os dele é claro.

— Sim, claro que farei isso. — disse o galã — Estamos esperando sua resposta... "ELETRICORNO"!

Gargalhadas estouraram.

Bruno nada disse. Levantou, apanhou o capacete e o molho de chave da Central Elétrica, assinou o livro de ponto e sumiu de vista. A sirene então tocou e mais um dia de serviço teve início.

[...]

O eletricista Bruno terminou de checar toda sua arte quando faltavam quinze pro meio dia e com o ribombar das sirenes das viaturas da polícia se aproximando. Já não importava mais.

Bruno apertou o botão cor de sangue acima do painel elétrico principal e tudo o que restou a ele foi observar. Quanto a mim, iniciei a colheita mais adorável desse ano.

Os primeiros a serem atingidos pela minha foice foram o pessoal das estruturas: os técnicos em edificações e os armadores de ferragens. Estavam todos com vergalhões de 3/8" nas mãos fabricando a estrutura de alguns pilares quando algo invisível os possuiu pelas pontas dos dedos, estuprou os músculos e tendões de seus braços, fritou seus pulmões e cozinhou o resto dos órgãos a uma temperatura fatal. Um dos homens esvaziou a bexiga enquanto guilhotinava a língua a dentadas. Todos morreram de pé; as solas das botas fundidas à chapa de aço colocada ali no dia anterior. Havia um fio de cobre soldado nela que levava até o transformador da máquina de solda.

A segunda turma a morrer foram os carpinteiros. Despencaram de vinte metros, há poucos minutos da hora do almoço. Uma queda livre direto para o asfalto do futuro estacionamento onde daqui a exatos sete anos virei buscar o dono da empresa. Os carpinteiros viraram um tipo de massa de ossos e carne estraçalhada. Tudo porque a válvula de uma das pistolas de prego esquentou pelo excesso de graxa e partiu. Um dos disparos acertou um dos olhos de moeda do Carpinteiro Chefe e ele soltou o engate das roldanas do dispositivo que mantinha toda sua equipe a salvo da queda. Ele caiu logo atrás, gritando como uma criancinha até vir de seu crânio um som de plaft! ao encontrar o asfalto.

A terceira equipe a morrer foi a dos engenheiros e supervisores. Também de queda livre, mas desta vez confinados num elevador de carga. Ao chegarem ao térreo naquela velocidade absurda o fêmur de um deles atravessou o ombro esquerdo e o quadril se desintegrou e escapou pelos buracos feito na carne. O homem parecia uma almofada de agulhas com todos aqueles ossos pontiagudos saindo de todo lugar possível. O mais alto deles tinha 1,80m quando vivo... Mas no fim virou um compacto de carne de no máximo 0,70cm enfiado em todo aquele ferro retorcido.

E por fim, e não menos importante, o último a morrer dos inimigos de Bruno (naquele dia) foi o galã de novela Alexandre Butanol.

O Romeu tem que morrer! — gritava Bruno em êxtase.

Alexandre corria segurando um dos braços; estava quebrado e a fratura do osso tinha aberto uma fenda na carne que ia da base do pulso até perto do cotovelo. Um sorriso invertido e vermelho. Cacos de lâmpada brilhavam enterrados em sua face; o olho esquerdo estava cheio deles, sangue brotava dali também.

Alexandre caminhava deixando um rastro de sangue. Foi quando brandi minha foice que ele olhou para trás. Por isso não viu o lampejo do martelo se aproximar como um raio. Quando ouviu o impacto do metal contra sua cabeça ele já estava tombando de costas, braços esticados em uma súplica cega. O borrão que era sua visão não detectou Bruno Adriano e muito menos viu que ele havia trocado o martelo por uma furadeira e um alicate.

Adriano alcançou os joelhos do galã e em cada um fez oito furos com uma broca de aço rápido de 1/4" de polegadas. Com ele não tem esse negócio de avareza, gastou um furo para cada ano que aturou as provocações daquele sujeitinho de merda. Pegou o martelo novamente e abriu uma fenda naquele queixo quadrado e bonito supervalorizado pelas secretárias. O estrondo lembrou-lhe as cascas de amendoim que esmagava sob os dedos nos intervalos do serviço.

Bruno riu e disse: — Nunca mais!

O alicate... Bom, deixo ao seu cargo imaginar em que Bruno usou tal ferramenta e o que fez depois com você sabe o quê.

Aquela segunda feira foi épica. Infelizmente tive que ceifar o Adriano também. Gostava dele. Um bom sujeito. Mas, é que não posso tomar partido sabe? O destino dele foi selado quando a polícia foi envolvida. Eles não estavam pra brincadeira. Afinal, o delegado deles havia sido morto pelo vizinho... Com um cutelo!

TOTAL DE PALAVRAS: 1565

TABELA: VERÃO

PALAVRA / TEMA: AVAREZA

SOTURNOHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin