A TEORIA DO CAOS

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"Névoa púrpura
por toda a minha cabeça
Agora as coisas não parecem
mais as mesmas
Estou agindo meio engraçado
mas não sei o motivo
Com licença
enquanto beijo o céu
Névoa púrpura
por todos os lados
Não sei se estou subindo
ou descendo
Estou feliz ou triste?
O que quer que seja,
aquela garota pôs
um feitiço em mim..."

- Purple Haze -
JIMMY HENDRIX




Era domingo e, ao contrário do que os outros funcionários da EletroCobre faziam com suas famílias naquele dia ensolarado, Bruno Adriano estava atravessando a Avenida Principal e chegando no canteiro de obras do Prédio Tirirical.

O eletricista carregava na face um olhar vítreo; sob os olhos bolsas de olheiras propagavam seu negrume como uma doença bacteriana. Elas surgiram logo após o divórcio e tinham como companheira um hematoma nascido de um soco. Nada de mais, sabe? Apenas uma briga com o vizinho da frente. De qualquer forma, tudo foi resolvido hoje mesmo. Quando a ex esposa e filho ingrato, que antes pertenciam ao nosso Bruno Adriano, chegarem e encontrarem o novo marido/pai deles no apartamento à frente de onde moravam antes irão vê-lo com um cutelo inserido naquela cabeça calva de Judas. Um dos olhos ( e eles vão vomitar nesse momento, garanto a vocês!) estará fora da órbita, esmagado sob o pé da mesinha de centro. O nariz do vizinho estará tão torto quanto possível, a cartilagem vasando vermelha por uma das narinas; embolada em uma massa de catarro.

Sim, aquilo foi mesmo RESOLVIDO!

Quanto ao problema no canteiro de obras... Sim, havia vários problemas por lá. Ele saiu para resolver no domingo de manhã.

Pernas grossas, mas com um sério desvio na tíbia faziam Bruno parecer um sósia do Corcunda de Notre Dame. Não acredita? E se eu lhe disser que além disso havia duas vértebras deslocadas por um acidente que por pouco não o deixou paraplégico? Elas ficaram a poucos milímetros do pulmão, o que trazia sérias dores diárias. Imagine tentar respirar e sentir o gosto de sangue subir até sua língua, ou a dor de levar um tiro a cada suspiro. Sim, por isso ele se curvava e andava como se fosse enfartar a qualquer momento. Havia também o problema do tabagismo que surgiu logo após a descoberta das puladas de cerca de sua senhora e o flagrante dado no filho de 13 anos num enlace profano com a poodle da família. A quarta cadela a morrer após o inimaginável ato do filho caçula. Bruno era a infelicidade em pessoa, um desgraçado abandonado pela vida.

Ele estava exausto, mas continuava a caminhar. Avançou pelo prédio num esforço digno de um semi deus. Passou por alguns corredores e abriu diversas gavetas. De algumas retirou um pote de graxa, pregos, um alicate, 1kg de arame liso e um martelo de carpinteiro. Refez o caminho até certo ponto e ali começou a empilhar suas coletas.

Voltou ao almoxarifado. Vistoriou outras gavetas.

Desta vez pegou algumas lâmpadas, 30 metros de fios de cobre, uma pistola de pregos e uma furadeira.

Voltou até a pilha de materiais coletados e descansou.

Bruno refez o trajeto por quatro longas horas e quando acabou de coletar tudo o que precisava começou sua tarefa. Isso foi por volta das dez da manhã e o ódio era seu combustível naquele Domingo.

[...]

Alexandre Butanol, para os íntimos: Romeu. O tal, foi o último funcionário a chegar naquela manhã de Segunda Feira chuvosa. Todos o viram entrar no refeitório, o aguardavam ansiosos para ouvir suas tiradas espertas e brincalhonas sobre os feios e desajustados. Ele era o tal galã; as mulheres eram atraídas por aquele queixo quadrado de super herói com a covinha do Clooney e os olhos azuis de um deus grego. O cabelo grisalho era, segundo o próprio, para dar o ar de maduro. O que era estranho, pois, ainda morava com a mãe mesmo com 47 anos pesando nas costas.

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