Passarinho

44-Falsidade

"Aí como eu odeio isso!"

"Calma Cloe... Te irrita tanto ser paparicada um pouco?"

Estávamos indo em direção ao quarto de Jihoon, Cloe parecia mais impaciente do que o comum, estava odiando ser levada por mim na cadeira de rodas, queria sair correndo e vê-lo o quanto antes. Se não fosse por isso tenho certeza que se aproveitaria dessa situação para passear por todo o hospital sendo levada por mim. Com direito a comida na boca. Ou melhor, sabem aqueles nenéns que jogam o brinquedo no chão, você pega e devolve e ele joga novamente? E aí ele te prende nesse círculo até que você percebe que está vendo feito de trouxa? A Cloe seria esse bebê!

"Quero ser paparicada na hora que eu quiser! Aliás, minha mãe está fazendo isso por desencargo de consciência, tenho certeza!"

"Não acho isso. Ela parecia bem preocupada!" Cloe revira os olhos e suspira. Não entendo até agora o porque de toda essa raiva. Aliás, não entendo porque ela não me contou sobre a diretora ser a mãe dela. Acho que já estava na hora dela me dizer! "Já que entramos nesse assunto" eu paro de andar. "Já tá na hora de me dizer. Porque não me contou antes?"

"Contar o quê?"

"A sua mãe né?"

Ela suspira e começa a rodar para frente, antes que se afaste demais eu seguro a cadeira. Essa cadeira de rodas é elétrica, mas colocamos ela no modo Arcaico para que Cloe não sumisse derrepente.
Cloe continua olhando para frente, de costas para mim.

"É uma história beeeeeeeeem longa!"

A coloco próxima a um banco de madeira a frente do balcão de atendimento, onde uma enfermeira organiza vários papéis enquanto fala ao telefone. O hospital parece muito movimentado a essa hora! Há muitos pacientes e visitantes circulando.

"Nós temos tempo. Agora me conta!"

"Tá bom!" Ela me lance um olhar emburrada. "Há dois anos atrás, praticamente toda a escola sabia que eu era a Filha da Diretora! Minha mãe tinha uma fotografia nossa na mesa e na parede da sala. E outras nos corredores! Acredita? Enfim, acho que ela gostava de mostrar aos outros que era uma "boa mãe". Eu tinha muitas amigas também, como a Vivian da nossa sala! Aquela desgraçada!"

"Foca Cloe!"

"Tá legal, calma! Enfim, podemos dizer que eu era bem popular, os professores sempre me elogiavam, aumentavam aquele pontinho na nota. Eu gostava muito disso tudo" lembro-me de quando vi Cloe pela primeira vez, entrando no refeitório. Liza estava com raiva de colocá-la no grupo por ela ser a queridinha da escola... "Só que nada é perfeito! Eu fui enganada por minhas "amigas"!" Cloe sorri olhando para a enfermeira que corre desesperada. "Eu escutei elas conversando, falando mal de mim. No começo achei que era tudo um engano. Eu até decidi dar uma chance para ela! Como era de costume eu sempre pedia para que os professores também dessem uma força na nota delas, e até as tirava de confusões! Entao, um dia eu disse que não poderia ajudar daquela vez. Seria só alguns dias e logo tudo voltaria ao normal. Dei a desculpa de que minha mãe estava começando a se irritar com tantas coisas encobertas, o que não era de tudo mentira. Mas ela ficaram muito bravas, disseram que eu era péssima, que não era amiga delas de verdade. Eu cheguei e rebati" Cloe gesticula com as mãos, toda agitada com a História. "Disse que ouvia toda a conversa, que elas que eram falsas! Admito que eu tinha a mini esperança delas dizerem que estava viajando, e que me amavam, mas não. Ela afirmaram sem nenhum pudor. Que ódio Malu! Eu tive vontade de partir pra cima delas! Como elas podiam ser tão cínicas?" Ela me questiona indignada.

"Não sei amiga! Ainda bem que você se livrou desse peso!"

"Graças aos Céus!" Suas mãos se erguem para cima. "Depois de toda essa confusão eu fui ter uma conversa seria com minha mãe. Pedi para ela se livrar de todos os quadros, tirar as poucas postagens minhas da internet e proibir que os professores me tratassem com privilégios. Foi doloroso descobrir que no fim eles só me tratavam bem por interesse. Admito que minha auto-estima caiu por um tempo."