13-O desaparecido sempre aparece

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O tempo está agradável neste momento, combina perfeitamente com a bela paisagem do entardecer. Observar o por do sol do meu quarto é algo que venho fazendo a um certo tempo. Enquanto o faço (Caso não saiba, meu passarinho voltou dois dias depois. Mesmo eu o soltando toda a manhã, ele sempre faz questão de voltar), Titi custuma cantar uma bela canção como trilha sonora para o momento. Ele se apoia na ponta do batente e canta em despedida ao Sol dando boas-vindas a lua e as estrelas.

"Você está cantando muito bem hoje Titi. Será que a Bluzy não quer nos fazer companhia também? Não se preocupe, ela não gosta de comer passarinhos. Ela prefere queijo."
Vou até a cama de Bluzy, que está, como o esperado, em cima do criado-mudo ao lado da cama da Cloe. A pego no colo e a apoio em cima do batente, sem soltar minhas mãos que envolvem seu corpo com força.
"O que acha Bluzy? Realmente o céu está mais brilhante hoje. Talvez hoje seja um dia especial. O que vocês acham?" A única resposta que recebo são os olhos vermelhos de Bluzy que me encaram duvidosos. Dou um sorriso.
A coloco em sua cama novamente e dou uma última espiada antes de fechar a janela de uma vez.

Adeus Pinheiros. Adeus pássaros. Adeus céu aquarelado... hum, estranho. Tem um ser suspeito ali. Ele esta sentado nos degraus do dormitorio masculino olhando para o nada, sozinho. Será que é o Lucas? Não, porquê seria justo ele que sumiu a quatro dias e está sendo considerado como fugitivo do Colégio?...Melhor eu ir checar.

Após colocar Titi em sua gaiola vou em direção ao dormitório masculino. Estou em uma distância razoável, escondida atrás de uma pilastra de madeira que segura parte da fachada do dormitório.

O garoto está com seu rosto voltado para o céu, mas a toca de seu moletom preto acaba anulando qualquer possibilidade que eu tenha de ver seu rosto. Ele realmente está chorando. Um choro silencioso, que é audível para mim, já que não há nenhuma movimentação nessa área. Tento me aproximar sem ser vista, evitando qualquer barulho intruso que ousasse quebrar o silêncio.
O garoto tira a toca e revela seus cabelos castanhos que começam a se bagunçar ao sentirem a leveza do vento por entre eles. Com isso também revela seu rosto e as lágrimas que escorrem de seus olhos e que começam a se dessipar ao chegarem nas bochechas.
É o Lucas! Finalmente o encontrei.
Meu sorriso vai embora quando lembro que o sujeito está chorando. Talvez ele precise de companhia. O que devo fazer? Queria poder ter coragem de abraça-lo, isso o faria se sentir melhor.
Assisti-lo chorando parece tão desumano, não posso fazer isso.

Lentamente me arrasto até ele. Tomo coragem, não acredito que farei algo assim, constrangedor, e me sento ao seu lado.

"O que você está fazendo aqui?" Ele me pergunta sem olhar para mim, focando em um ponto entre as árvores a nossa frente.

"Eu..." gaguejo tentando pensar em algo.

"Vai embora!" Ele fecha sua mão formando um punho, o que me assusta, mas não é capaz de me fazer ir embora.

"Você sumiu." Digo tentando parecer tranquila, ignorando suas palavras.

"Eu disse para ir. Eu quero ficar sozinho." Ele diz com sua voz trêmula, ainda sem olhar para mim.

Um mentiroso reconhece o seu parceiro. Eu sei Lucas, que você não quer ficar sozinho. Você está apenas com vergonha de que te vejam assim, você não quer admitir que realmente precisa de alguém, você acha que pode lidar com isso sozinho, não acha?

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