Inacreditável

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Era puro gelo.

Naquela época do ano estava especialmente gelado.

É natural que as pessoas imaginem como é viver no Alasca e pensem que não há como sobreviver num lugar assim, tão inóspito, mas para mim e minha família isso já era algo comum. Viver numa comunidade como Wales é se sentir realmente em casa. Talvez eu não conhecesse realidades muito diferentes, exceto Bering, aonde eu sempre vou com minha mãe, que, aliás, é minha única parenta viva. Ela é meu conceito de família, junto com meu padrinho Hannes.

É verdade que é uma vida difícil, mas como nasci aqui, nada me surpreende muito. Tenho consciência que nem todas as pessoas tem o mesmo tipo de vida que eu por aqui, visto que alguns são paupérrimos e passam necessidades, todavia essa situação ocorre em todo o mundo, então não é algo exclusivo dos locais de difícil acesso como este. À exceção do frio excessivo e dos seis meses em plena escuridão, não vejo grandes contratempos em viver no Alasca.

Nossa cultura é típica de povoado. Muitas histórias, lendas e contos relacionados muitas vezes ao sobrenatural. Óbvio que não acredito em nada disso.

Oras, estamos no século XXI! Por que motivo eu acreditaria em magia e tais coisas absurdas?

Além disso, sou um estudante de biologia marinha, como poderia acreditar nas lendas em detrimento da ciência? Impossível. Completamente inaceitável.

Em algumas épocas do ano, acontecem festividades na vila, nesses períodos é comum que as crianças se sentem em volta dos mais velhos para ouvir histórias dos mesmos a contar suas vivências. É claro que eu não fazia mais parte disso, afinal tinha crescido, estava sempre ocupado com meus estudos e de fato, não faria sentido ficar ouvido histórias que sei que não são reais.

Passo meu tempo livre da mesma maneira que passo meu tempo ocupado: lendo, estudando.

Você deve estar me achando um idiota, porém não, eu não sou. O caso é que quando estou ocupado, estou lendo meu material da faculdade e no meu tempo livre, leio o que gosto, meus livros de ficção científica nunca ficam muito distantes de mim!

Você também deve estar se perguntando se não tenho nada melhor para fazer além de assistir séries, ver animes, ler, desenhar ou tocar meu violão... Talvez esteja se preocupando com o fato de eu não ter comentado sobre uma namorada. Pois é aí que está, eu não poderia comentar sobre algo que não tenho.

Bem, na verdade eu tenho. Não é bem uma namorada, eu diria que está mais para uma ficante da faculdade, a História. Ela é loira, baixinha e tem grandes olhos azuis que despertam meus instintos de proteção. As vezes acho que eu combinaria muito mais como irmão dela, mas meu corpo jovem e cheio de hormônios não diz o mesmo, se é que você me entende.

No fundo, sei que minha atração não está especificamente nela, mas em sua semelhança com Armin, um colega que sempre esteve por perto quando precisei... Perto demais. Ah sim, sou bissexual.

Eu não queria aceitar que me excitava com ela pelo simples fato de me lembrar dele. Especialmente depois que passou a usar um perfume bem parecido. É como sentir o cheiro daquela pele branquinha dele naquele corpo de menina. Eu sei que pareço um idiota apaixonado, porém não é esse o tipo de sentimento que tenho pelo Arlert. Na verdade, nunca amei ninguém que não fosse a minha mãe, visto que não conheci meu pai, pois ele morreu logo após meu nascimento.

Está achando tudo muito simples até aqui? Eu poderia rir de você se esse fosse o caso, porém minha situação atual não tem a menor graça.

Minha mãe tem uma doença terminal. Descobrimos isso há mais ou menos seis meses. Desde então ela procura compensar sua futura ausência me protegendo excessivamente, se bem que isso é um costume dela que apenas se intensificou. Cansei de me irritar com isso, porém não digo nada, afinal não posso negar nada a ela, especialmente se considerar seu estado.

Até seu amor • EreriOnde histórias criam vida. Descubra agora