19 - EXECUÇÃO (Parte II)

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August respondeu com um longo suspiro. Cruzou as mãos sobre a escrivaninha antes de voltar a falar.

— Agradeço pela valiosa informação. Vocês se esforçaram para chegar até aqui, e quero deixar claro que reconheço a ambição de libertar os escravizados pelo Império como algo puro e legítimo. No entanto, as coisas nem sempre acontecem como desejamos. Peço que ouçam com atenção. Explicarei a nossa situação atual e depois tenho uma proposta para fazer a vocês três. — Pela primeira vez, me olhou nos olhos. — Posso ajudá-los, mas antes disso vocês precisarão nos ajudar.

— Está bem. — Concordei. — Nada mais justo.

— Como nunca vi vocês antes, entretanto, tenho certeza de que é a primeira vez que entramos em contato direto. Deixando de lado qualquer tipo de coisa que possam ter ouvido a nosso respeito, gostaria de esclarecer que tudo o que fazemos tem como objetivo absoluto a dissolução do Império e a construção de instrumentos de governo que favoreçam o desenvolvimento dos grupos humanos nas ilhas de Arasmo. Todas as informações que nos entregarem serão usadas para esse fim. Conscientes disso, vocês têm liberdade para responder ou não minhas próximas perguntas. — Caleidoscópio já tinha cochilado diante do discurso e Zenit olhava em volta, distraído.

— Entendido. — Respondi.

— Em primeiro lugar: o que os levou até os subterrâneos de Cranius Cast? Como sabem que é de fato um depósito do Império? — Enquanto August falava, Rodrigo anotava nossa conversa com a agilidade de um escriba.

— Acreditávamos na existência da cidade subterrânea. Um amigo nosso, o gigante Levi, foi arrastado para o subsolo da ilha, de acordo com o que o irmão dele nos contou. Entramos na esperança de resgatá-lo.

— Levi. — O loiro apertou os olhos, como que tentando lembrar de um rosto conhecido. — O gigante fanfarrão. Ele costumava dar um jeito nos corsários menores associados ao Império. Sim, você fala a verdade. Ele e o irmão moram em Cast. Onde está o mais jovem?

— Morreu há pouco tempo.

— Uma pena. Levi era um bom homem. — Então balançou a cabeça de leve, recuperando o foco. — Pode prosseguir?

— Entrei lá e me disfarcei junto a Robert, o ruivo. — August não pareceu reconhecer o nome. — Lá embaixo ele encontrou um homem com quem debateu o preço de cada escravo. Foi quando ouvi que humanos também estavam sendo negociados. Ele conversou sobre a prisão de Netuno, sua execução e alguma coisa sobre uma alga chamada Aquami. Na verdade não entendi muito bem essa parte, mas foi quando percebi que eram parte do Império. Também vi um gigante que poderia ser Levi. Estava apanhando lá dentro. E então fugimos.

— O que disseram sobre Aquami?

— Era a única palavra conhecida presente em um dos documentos apreendidos junto a Netuno, se não estou enganado. Por que? O que essa alga tem a ver com vocês, afinal?

— Temo não poder lhe responder com precisão. — August franziu os lábios. — Considere que Aquami é o maior e mais perfeito projeto anti-imperial já colocado em prática. Através dessa explicação, já é possível ter noção da importância do sigilo.

Dei de ombros, confuso. Eu não tinha nada a ver com aquilo. Estava colaborando na esperança de conseguir ajuda. Não estava nem um pouco curioso sobre o que os mentirosos andavam planejando para nos libertar do Império. "Seja o que for, é difícil que funcione", foi tudo o que pensei sobre o assunto. Ted já estava cochilando de novo, a cabeça apoiada sobre o mastro, quando Entoc lhe chamou a atenção:

Imaginário! — Disse, referindo-se ao menino com um apelido que eu não tinha ouvido antes. — Volte ao trabalho! — Olhou o horário em um luxuoso relógio de pulso. — Pelo menos durante mais cinco horas.

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