— E porque a mudança? - ela coloca café em minha xícara.

— Não sei, só vesti e gostei de estar diferente. - dou de ombros.

— Entendi e, me diz uma coisa, essa mudança é por você ou por conta do que aconteceu?

— Não sei, acho que as duas coisas. - coloco um pão de queijo na boca.

— Filha, cuidado pra não se perder no meio dessas mudanças todas e, além disso, a roupa não vai fazer nada mudar.

— Eu sei mãe, é só uma roupa, relaxa. - quando termino a frase meu celular toca novamente e eu o ignoro.

— Não vai atender?

— Ainda não estou preparada pra essa conversa.

— E vai fugir dele o dia todo, mesmo estando na mesma sala? Acho difícil.

— Não, só quero ter o caminho até a escola livre desse assunto, porque sei que lá isso vai ser inevitável.

— Certo, faça como achar melhor, mas, ainda sobre isso, precisamos agendar uma consulta médica.

— Mãe?!

— Eu sei que vocês não fizeram nada, mas uma hora vai acontecer, e nada melhor que uma opinião médica sobre esse assunto, além disso, você vai poder tirar suas duvidas, se informar melhor e conversar com alguém além de mim.

— Mãe, eu sempre quero poder conversar sobre isso ou qualquer outra coisa com você e não com um estranho.

— Eu sei filha e fico feliz por você ter esse pensamento, mas não custa nada. – me olha séria.

— Tudo bem, pode agendar, eu vou, mas te quero lá comigo.

— Claro. - seu sorriso é amplo.

Terminamos o café em silêncio depois disso, mamãe focada em seu tablet e eu, tentando organizar a bagunça que ainda persiste em se formar em minha mente. A decisão que tomei a respeito do Eduardo é a única parte dessa bagunça que se mantém fixa e intacta na minha consciência, o restante fica passando e se embolando bem diante dos meus olhos.

— Vamos? - minha mãe chama a minha atenção enquanto olho o Facebook esperando por ela na sala.

— Vamos, só estou compartilhando esse vídeo. - falo andando atrás dela enquanto ainda olho para a tela do celular.

— Acho que as duas ligações evitadas não foram suficientes. - ela para com a mão na porta e eu quase bato nela.

— O que foi mãe? - pergunto quando ela abre caminho e meus olhos seguem o destino da rua.

Paraliso, analisando cada detalhe dele, ainda distraído, olhando para o celular, recostado em seu carro. O cabelo molhado e bem penteado, as roupas casuais, porém impecáveis que definem seu estilo despojado e único complementado por seus inseparáveis fones de ouvido.

Seus olhos saem da tela do aparelho vindo em minha direção e se encontram com os meus, fazendo a sensação de arrepio na espinha voltar, agora mais intenso, quase tirando a minha respiração.

— Acredito que não é um bom momento ir até lá cumprimentar. - mamãe fala fechando a porta e me tirando do transe.

— Não faça isso, por favor. - falo baixo e a olho de canto.

— Então, boa aula. - beija meu rosto e se despede.

Caminho em direção ao carro com os olhos fixos em Eduardo, que continua parado no mesmo lugar, me encarando de volta e a cada passo, sinto as pulsações do meu coração aumentarem, só não posso deixar que
isso atrapalhe tudo que tenho a dizer.

Melodia do AmorOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz