Dezesseis

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A ausência na presença.
12 de Julho de 2020


Por alguns segundos, Ben pensou que seria fácil voltar para a vida das pessoas que considerava antes de toda aquela merda acontecer. Era só aparecer em sua porta, com os braços abertos e uma garrafa de vinho. No entanto, voltar era ainda mais difícil do que ir embora. Não podia simplesmente passar por cima de tudo que tinha feito e voltar na cara limpa, estava arrasado por ter que admitir que só teve coragem para ir até Ailana e terminar com ela, mas não para concluir o seu plano e voltar a se aproximar de Maria.

Sua rotina era como a sua ex namorada tinha dito que seria. Estava em um ciclo vicioso de ir para o trabalho, ficar mais tempo no escritório do que o saudável, ficar rodando perto do ateliê de Isabella querendo que uma súbita coragem tomasse conta do seu corpo e o fizesse entrar. Infelizmente, de todas as cinco vezes que ficou ali, em nenhuma delas conseguiu realmente dar um próximo passo. Não conseguia pensar ao menos no que dizer, como elas iram reagir e se até mesmo o rejeitasse, como iria embora depois de fazer tantos planos na cabeça?

Em uma dessas noites de pura angústia e arrependimento ele tentou encontrar uma rota de escape, entre as garrafas vazias do seu apartamento, no entanto, uma missão falha já que nada mais se encontrava ali. O álcool tinha deixado de ser seu aliado desde que tinha saído do outro apartamento, tendo apenas duas grandes recaídas, mas naquele momento parecia ser o único poderia deixar o seu corpo contente novamente. Por isso, depois de sair do seu apartamento pegou o seu carro e foi no único bar que conseguia lembrar de ter ido antes, do outro lado da cidade, tão perto da sua antiga casa que fazia o seu coração bater ainda mais forte. O que estava querendo mesmo era que todos aparecerem ali para o acolher.

O lugar era grande, com bancos de couro, mesas vermelhas e uma mistura de cores quentes. Tinha um grande número de pessoas na porta, algumas até mesmo familiar. Ele respirou fundo e passou por entre todos, se arrependendo no mesmo instante em que pensou em pisar os pés naquele lugar. Em uma das mesas do canto da porta estava um dos homens de um ano atrás, sentado com  os olhos vazios e um copo de cerveja em sua mão. Nathan não o reconheceu de imediato, muito por conta dos seus pensamentos estar meio longe quanto também pela forma em que Ben estava, tinha deixado a barba crescer e seus fios escuros estavam mais bagunçados do que o normal, parecia ter envelhecido sete anos em um.

Eles se encaram de maneira assustada tempo o suficiente, até alguém empurrar mais Benício para dentro do lugar. Suas pernas voltaram até autonomia quando começou a caminhar para perto da mesa do outro rapaz, os segundos de coragem tinha vindo para uma pessoa totalmente diferente da que gostaria.

—Benício?–o outro se escutou chamar, para ele, a sua voz estava distante e um pouco embaralhada. Mesmo não estando bêbado ainda. O moreno tentou dar um sorriso sincero quando se levantou e concluiu:—Quando tempo, cara.

—É sim.–respondeu meio sem graça, quando sentiu os braços lhe puxando para um abraço desajeito, não era exatamente o que queria fazer mas estava ligado no automático.—Tem um tempão que não nos vemos em.

A relação dos dois sempre foi um passo a menos do que com o restante. Tinha conhecido o tatuado por conta dos seus outros amigos, Marcos, Isabella e Aline, como o mesmo ficava desaparecido por bastante tempo e só voltava durante algumas festas, pouquíssimas vezes tiveram realmente uma boa conversa. Ele era o tipo de cara que fazia Ben revirar os olhos e ir para o outro lado da calçada, mulherengo e extremamente ambicioso, tão diferente de si que era meio óbvio como não tinham muita coisa em comum. Até aquela garota que fios encaracolados colocar todo isso abaixo.

Juntando os pedaços | √Where stories live. Discover now