Sete

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Conto de falhas e sorrisos amarelos.
08 de junho

A relação de Marcos e Isabella era conturbada. Isso não era novidade para ninguém, até mesmo as duas garotas que tinha acabado de chegar, poderiam reconhecer que a forma como ambos se tratavam era bastante diferente dos casais convencionais. Era como se o convívio tivessem os desgastado tanto que até mesmo ficar no mesmo espaço já causava brigas. Ele, mesmo sendo um cara demasiadamente centrado, parecia louco quando estava na companhia de sua amada, um pouco fora de órbita, regado por um ciúme pouco saudável. A moça, por outro lado, gostava de como tudo se resolvia depois de uma briga acalorada, Marcos conseguia lhe dar atenção por alguns instantes, mas logo tudo voltava a ser a mesma monotonia de sempre.

Um dos motivos para tudo isso era o melhor amigo da mulher, Nathan era o típico cara bonitão e galanteador, que fazia muitas garotas se sentir atraído pelo seu olhar marcante e seu papo furado.  O modo como ele e Isa se tratavam era íntimo, já que eram amigos de longa data, e esse sempre foi o pior pesadelo do outro. Ser trocado por aquele cara era um dos seus maiores medos, mesmo que a moça nunca tenha dado espaço para esse tipo de sentimento. A última discussão tinha sido tão feia, que até mesmo a viagem para Paris teve que desmarcar.

Enquanto tentava desmontar meia dúzia de caixas de tintas que havia acabado de chegar Maria escutava, mais uma vez, essa queixa da sua nova patroa. Como em todos os dias daquela semana, o tom choroso e os olhos lacrimejantes dela lhe causava uma tristeza também familiar, uma mistura de compaixão com revolta. Para ela, olhando de fora da relação tudo era muito claro, aquele amor tinha se tornado apenas uma comodidade. Não existia mais sentimentos além da mágoa, perda e do sentimento de posse, não tinha como levar a lugar algum continuar com aquilo. Entretanto, não conseguia deixar claro em palavras tudo que estava pensando, era muito difícil se abrir assim, mesmo que a desconhecida em questão tivesse jogado toda a sua história ali. Por isso, tudo que fazia era preparar grandes canecas de café, quando o choro parecia ser mais forte e lhe tocar timidamente o ombro quando começava a soluçar.

—Você é uma boa funcionária, Maria.–lhe deu um sorriso, enquanto olhava para além da moça, focando no amontoado de bagunça.—Benício tinha razão, precisava de ajuda aqui.

—Fico feliz que esteja gostando do meu serviço.–sentiu sua pele ficar um pouco vermelha, sabendo que a vergonha já era mais que palpável. A mulher deu uma risadinha, como se tivesse contando uma boa piada.—Esse lugar é incrível.

—Tenho que concordo com você.–deu um suspiro, admirando com uma única volta todo o seu ateliê. As paredes eram repletas de quadros e obras de arte. Um bocado de plantas se fazia presente também, em uma mistura louca que lhe trazia uma paz que em nenhum outro lugar tinha sentindo.—É aqui que consigo deixar todos os meus sentimentos falarem.

—Queria ter um lugar assim.–murmurou a menina, se arrependendo no mesmo momento de dizer aquilo. Era um campo que não queria falar com a sua chefe, complemente inapropriado para o momento, além de que sabia como era Isabella, iria lhe perguntar tudo até chegar em uma resposta convincente.—Desculpa.

—Está se desculpando pelo que?–a pintora se voltou para a funcionária, já deixando a curiosidade falar mais alto. Maria era uma incógnita para ela, tão diferente da sua amiga, que chegava a ser estranho a amizade.—Não se desculpe por querer se encontrar em algum lugar, Mar.

—Falei aquilo em um momento de reflexão, eu não tenho nenhum hobby nem o que fazer quando estou em casa.–disse, tentando se defender, mas já era tarde. A outra já estava tentando encaixar as peças no quebra cabeça. Um suspiro foi dado pela mesma, tentando reunir forças para reverter a situação ela caminhou para a nova cafeteira. —Quer um café?

Juntando os pedaços | √Onde histórias criam vida. Descubra agora