Juntando os pedaços | √

Catorze

Idiota perdido no contos de falhas.
28 de Junho de 2020

Ele perdeu tudo no meio do caminho, quando só o que podia ver era dor e a vida de todos a sua volta estavam escapando por entre seus dedos. Quando planejou a sua própria morte, por ter medo de viver em um mundo sem Manuela. E fugir tinha se tornado a sua única opção. A dor ainda estava lá, forte, mas menos latente do que antes. Aparecia sempre que a lembrança tentava lhe pregar uma peça, ainda assim, de forma menos frequente do antes. Talvez seja por conta do tanto que estava trabalhando, ou pela presença cômoda da moça ao seu lado. Apenas ele podia dar essa resposta.

Tinha se passado tanto tempo desde que viu seus antigos amigos, que mal conseguia se lembrar dos detalhes da relação dos mesmos. Era como uma vida antiga, que sempre queria reviver. Por isso mudou todas as suas rotas, para não voltar a se aproximar do apartamento nem dos lugares que eles frequentam, o que não era tão difícil já que a cidade era grande e cheia de lugares para visitar. Só precisava se concentrar e não deixar o coração andar por conta própria.

A relação com Alaina estava sendo de altos e baixos, tinha que admitir que construir algo com ela depois de tudo que passou era complicado. Ainda tinha um cuidado estranho, querendo tomar conta de tudo e garantir que nada nunca fosse a tocar. Mas a empresária tinha suas preferências muito claras, e em nenhuma delas estava ser cuidado por aquele homem. Os dois estavam juntos, até o segundo parágrafo. Não era uma relação profunda a ponto de dar saltos, estava sendo feita de forma gradativa e ela não tinha nenhum pouco de pressa. Só queria viver o momento e estar com ele quando o luto era maior que a vontade de viver.

Naquele dia Ben deixou tudo claro. Contou sobre o seu antigo casamento, até os mínimos detalhes das brigas que tiveram, lhe garantiu ter mudado e pediu um tempo para conseguir lidar com tudo que estava acontecendo em seu peito. Ela escutou tudo sem dizer muita coisa, as informações pesavam tanto quanto a dor daquele homem, não tinha muito o que se fazer além de o acolher, e foi isso que começou a fazer desde então. Estava sempre atenta aos sinais, se Ben estava bem ou não.

Contudo, depois de alguns meses de relação as coisas começaram a se fechar. A agenda dos dois eram corridas e Ailana já estava marcando de fazer uma viagem internacional que duraria alguns meses. Não tinha espaço para um relacionamento com tanta coisa acontecendo em sua vida profissional. Por isso, depois de tanto tempo os encontros pararam de ser marcados. Não que isso fizesse tanta diferença para Ben, que também estava em uma loucura por conta da mudança de seu escritório. Tinha conseguido crescer ao ponto de precisar se mudar para um prédio no centro da cidade. Era necessário admitir que alguma coisa precisava ser feita, mas o telefone continuava mudo e a porta sempre estava fechada.

Em um desses dias de pura coragem Ben foi até o trabalho da sua então mulher. Era em um dos grandes prédios no centro da cidade, tão perto do que estava que só precisava caminhar por alguns minutos. Se sentou em uma das poltronas da sala de espera, enquanto a secretária estava tentando se comunicar com a mulher. Naquele dia a agenda estava cheia, e só podia falar com o mesmo por poucos minutos, mas era o suficiente para ele, iria ser breve e não podia voltar para casa naquele ciclo vicioso. Tampado os buracos com o amor de alguém, que tinha perspectivas diferentes das suas e tão pouco tempo para romances que não davam em nada.

Naquela semana, não tinha encontrado a empresaria uma única vez. Mesmo que tenha ligado durante todas as noites, nunca conseguiu realmente ser atendido. Querendo ou não ele sabia que estava sendo egoísta, sua falecida esposa era dependente dele, e assim que tentou se desvencilhar daquelas amarras acabaram brigando. Já a loira era diferente, os sinais já foram colocados em pauta desde o começo. Benício era uma contradição, e esperava sempre que fizessem o que queria. Aquela história estava se repetindo? Não, na camada mais profunda dos seus sentimentos o motivo era outro.