Quatro

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Tristeza irreversível
26 de março de 2019

Ben ficou louco da vida com o novo estagiário, que havia transformado sua organizada e complicada agenda em um verdadeiro desastres. O moço, apesar de ter menos de vinte, também não era bom com a tecnologia, e modificar todos os seus horários era um grande indício disso. Aquele era um dia daqueles. Turbulento e nublado. O céu estava de um azul intenso, nuvens pesadas cobriram o sol. O vento era insistente, e o frio chegava a ser sádico. Não era um dia bom para trabalhar, nem para sair do conforto de casa aliás. No entanto, assim como milhares de pessoas moço teve que acordar antes das seis, e logo enfrentar mais um dia de congestionamento. Só mais um dia na monótona rotina de sempre.

O seu antigo advogado havia chegado ao seu escritório antes da hora prevista na sua agenda. Culpa do estagiário, e dele também, afinal já estava quase previsto que aquele rapaz estranho e desengonçado teria dificuldades de se acostumar com a correria do dia a dia do seu novo trabalho. O senhor Alcântara estava esperando na sala de reuniões, ele era amigo de Ben. Apesar de ter o dobro da sua idade, e agir como um adolescente do colegial, o Augustos conseguia ser um cara legal. Mesmo não concordando com o rumo que seu amigo deu aos seus investimentos. E da forma precipitada que ele saiu da sua cidade.

Sim, Augustos era o único ali que conhecia a historia. O primeiro que o mesmo procurou assim que chegou na capital. Seu porto seguro naquela selva de pedras.

—Desculpa o atraso cara. O dia hoje começou com o pé esquerdo.–disse olhando de relance para o seu estagiário, o vendo ficar com o rosto levemente vermelho e sair de fininho.

—Se fosse apenas com você.–ele olhou para o a janela do escritório ascendendo um cigarro, o outro fez o mesmo. —Tenho algumas novidades não tão boas para te contar.

Alcântara era o típico cara de meia idade com um relacionamento duradouro, quase duas décadas, com três filhos e sem amarras. Vivia uma mistura maluca em uma rotina de trabalho que exigia mais da metade do seu tempo e o bar. Mergulhado em seu próprio mundo não percebia como o seu casamento estava indo direto pelo ralo. A sua mulher, Patrícia, estava conhecendo um rapaz, que lhe dava a atenção e o prazer que a anos seu marido não proporcionava. A distância entre eles era palpável, todos ao seu redor sabiam que as coisas não estava indo bem, excerto ele é claro.

—Não me diga que vai precisar que eu fique com algum caso seu novamente.– ele fez uma careta relembrando o acontecimento. Defender um traficante por venda de drogas e tentativa de homicídio, contratado exclusivamente pela mãe desesperada.—Nunca vou me esquecer do olhar da mãe daquele rapaz.

—Por isso você só trabalha com divórcio. Nunca entendi como deixou todas as outras competências para lidar com mulheres chorosas e homens arrependidos.–observou Augustos, sabia que estava sendo exagerado, mas existia um pouco de mágoa ali, sempre pensou como Benício era perfeito para seguir os seus passos e ir até mesmo mais longe afinal não um lar para cuidar.- Só precisa me telefonar que lhe entrego alguns casos de verdade, meu amigo.-

—Não me dou muito bem tratando de assuntos tão sérios, cara, não quero ter que defender algo que não acredito, muito menos colocar atrás das grandes algum inocente.-sentiu seu telefone vibrar em seu bolso, mas não chegou a verificar já que logo o barulho parou.—Mas foi por isso que veio até aqui a essa hora hoje?

—Não.–sentiu seu coração bater um pouco mais rápido assim que as palavras forma ditas, estava se tentando medir sua fala para tudo ser mais tranquilo, mesmo sabendo que era quase impossível prever quais seriam as reações do menino.—Não foi sobre isso.

Juntando os pedaços | √Where stories live. Discover now