Antonella VI

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Queremos agradecer pelos 6K e 2.3K estrelinhas.

— Olá, Antonella. — ele disse, enfiando as mãos no bolso ainda de costas.

— Oi. — respondi e suspirei cansada, vendo que limpar o banheiro era só o começo dos longos sete anos que estão por vir.

— Sabe. Eu estava pensando, ou melhor, eu estava me lembrando de como... — ele pausou por dois segundos e virou-se para mim. — De como as coisas eram antigamente. Você lembra?

Neguei, movendo a cabeça para os lados e continuei o caminho até a porta a qual tentei abrir, mas não consegui.

— Eu tranquei a porta, querida. — comentou e com um sorriso irônico tirou a mão direita do bolso para mostrar a chave que ele girava no indicador.

Ele continuou parado com a expressão de quem estava aguardando um protesto meu, mas a única coisa que conseguiu foi um olhar cansado. E sem muita escolha eu caminhei pra trás da minha mesa, ficando mais próxima da mochila onde eu guardava minha pistola.

Cruzei os braços, tentando não transparecer minhas intenções e perguntei:

— Qual o significado disso?

— Estamos conversando, não vê?

— Você nos trancou, e se fez isso é porque não tem boas intenções.

— Que foi? Você está com medo? — ele perguntou aproximando-se, e com sucesso eu conseguir controlar a vontade de recuar e me mantive parada encarando seu rosto que agora estava bem próximo ao meu.

— De você? Não. — menti, tentando a todo custo controlar o sentindo de pânico que aquela situação estava causando em mim.

Existia um limite para meu medo de qualquer atitude vinda dele, e ele acabou de extrapolá-lo.

— Você é tão linda, Antonella. — ele soprou, percorrendo os olhos por todo meu rosto até finalmente se afastar e voltar a olhar pela janela.

Me mantive calada e — somente quando tive certeza de que ele não veria — soltei o ar que estava segurando. Tentei controlar a respiração e recobrar a calma. Aquela era uma péssima hora para o Lucca se atrasar. Nunca quis tanto que ele estivesse debaixo desse teto como eu queria agora.

Esse sentimento deve ser o mesmo que a Karin ou a Giovanna sentem quando sabem que não podem resolver a situação, e então precisam do companheiro. E mesmo que não seja da mesma forma que o Lorenzo e a Giovanna, ou Erico e a Karin, Lucca e eu nos tornamos companheiros, certo? Então é normal precisar dele essas horas, não é?

Droga. Eu deveria estar pensando em um jeito de sair daqui, não nisso. O pensamento dissipou o efeito que aquela tensão estava causando na minha cabeça, e eu voltei a focar em Mateo — que deveria ser minha única preocupação no momento. Então eu cuidadosamente deslizei minha mão para dentro da mochila e retirei no momento em que senti que o pente e a pistola ainda estavam ali.

Isso me acalmou um pouco mais, ao menos eu ainda teria uma chance para me defender caso as coisas saíssem do controle. Até porque eu não aguentaria "sair no braço" com Mateo.

— Você sempre foi, na verdade. — ele continuou. — Eu era um homem sortudo naquela época, e feliz também. — confessou com o olhar distante. Parecia estar lembrando mesmo.

Suspirei, vendo que eu só sairia dali depois que conversássemos. A situação pedia isso, então apontei a cadeira em frente à mesa num pedido mudo para que ele se sentasse.

Ele entendeu de imediato e sentou-se com os olhos vidrados em mim.

— Mateo. — comecei, retirando a mochila do nosso meio e sentei, deixando-a em minhas coxas caso eu precisasse.

Divã (Concluída)Where stories live. Discover now