Capítulo 13 - Laços

26.4K 1.8K 5.1K
                                    

Estremeci quando a brisa da manhã serpenteou pelas janelas, me despertando lentamente. Abri os olhos, piscando para me acostumar com a claridade, e notei, apesar de ainda meio grogue de sono, que os braços de Jungkook estavam firmes ao redor da minha cintura, me segurando e me aninhando contra o seu corpo. Ele respirava calma e pesadamente perto da minha orelha, fazendo cócegas e mechas do meu cabelo cor de ouro balançarem, por isso eu sabia que ele ainda estava dormindo. Me virei com cuidado, ficando frente a frente com ele, e me encolhi um pouco mais contra o seu peito, o topo da minha cabeça se encaixando no seu queixo e a pontinha do meu nariz resvalando na pele macia e cheirosa do seu pescoço.

E aquilo era tudo que eu precisava para continuar tendo certeza de que ele era real.

— Jungkookie...? — sussurrei, minha voz saindo rouca e suave.

E então me dei conta de que não o chamei apenas pelo nome, mas por um apelido que não poderia ser visto como nada menos que carinhoso. E aquela não era a primeira vez que eu fazia aquilo. Corei, minhas bochechas esquentando tão rápido quanto as palavras saíram da minha boca. Só que eu e Jungkook já havíamos passado daquele estágio no nosso casamento, e eu não deveria mais corar por causa de um apelido bobo quando ele já havia me visto sem roupas e era o pai do meu filho. Entretanto, ele pareceu não me ouvir e continuou de olhos fechados, um inspirar e um expirar lento movendo o peito dele de encontro ao meu. Eu suspirei, um misto de colônia de banho, sabão de rosas e menta fresca invadindo o meu nariz. E pela primeira vez em muito tempo me senti em casa. No lugar certo. No meu lugar no mundo.

Toquei os fios do seu cabelo, negros feito as penas de um corvo e tão macios quanto uma bola de algodão, e afastei uma mecha para trás da sua orelha, o olhando por uma eternidade. Jungkook tinha traços fortes e bem marcados, principalmente na linha do maxilar, que era angulosa e afiada. E ele, definitivamente, era um homem muito, muito bonito, eu não podia negar. Mas daquele jeito, entregue a um sono pesado e aparentemente tranquilo, os lábios entreabertos formando um biquinho e as bochechas levemente rosadas de calor, ele não parecia o Duque das Terras-Altas, atarefado até o último fio de cabelo, nem o homem de vinte e sete anos com quem me casei, responsável e integro acima de qualquer coisa. Ele era apenas um garoto marcado por perdas e dores. Perdas que eu jamais poderia calcular e dores que eu jamais compreenderia, a menos que as sentisse também. Além disso, ele também havia enfrentado dores por minha causa, dores que eu poderia ter evitado se tivesse sido mais prudente nas minhas atitudes e sentimentos. E eu sentia muito tê-lo feito passar por tanta coisa por causa do meu egoísmo e da minha imaturidade.

— Fique bom logo. — falei, me afastando um pouco dele para olhá-lo de cima. Jungkook parecia um anjo vestido de negro, uma cor que eu havia passado a apreciar mais do que gostaria de admitir. Principalmente quando era ele quem estava vestido com ela. — Tarla precisa de você. Eu preciso de você, Jungkook. E nosso filho precisa do outro papai dele.

Jungkook se moveu sobre o colchão, como se estivesse prestes a acordar, mas não acordou. Só me apertou um pouco mais nos seus braços, me prendendo num abraço quase impossível de desfazer. Senti quando ele sorriu contra a minha pele e encostou os lábios nela, me beijando carinhosamente, mas talvez tenha sido apenas coisa da minha cabeça. Mas então ele brincou com as pontas dos dedos na minha barriga, enfiando o nariz nos meus fios de cabelo e aspirando o meu cheiro, me fazendo arrepiar até o meu último pelinho estar em pé. Ofeguei, apertando a camisa dele entre os meus dedos e sentindo o meu estômago revirar. Jungkook emitiu um sonzinho abafado que eu pensei ser um gemido satisfeito ou algo mais gutural, como um grunhido, mas preferi ignorar. Era o melhor a se fazer aquela hora da manhã e com ele naquelas condições. Com nós dois estando tão pertos. Grudados.

— Jimin... meu doce Jimin.

Ele murmurou, a voz rouca e entorpecida.

Mas foi só isso. Um murmúrio solto no meio do sono. Ou talvez de um sonho bom. Corei um pouquinho mais, algo dentro de mim esmurrando o meu peito e arranhando o meu estômago furiosamente, me deixando estranhamente enjoado. Uma emoção diferente, pulsante, mas nada ruim corria dentro de mim. Algo que me aquecia e me dava certezas. Certeza de que era ali que eu deveria estar. Com ele. Nos seus braços. Entretanto, por mais que eu quisesse continuar deitado ao seu lado até que o sol fosse embora e trouxesse a lua novamente, Jungkook precisava de cuidados ou suas feridas se tornariam novas e profundas cicatrizes. E eu não queria que sua pele fosse marcada novamente. Ele já tinha lembranças dolorosas demais espalhadas pelo corpo.

Um mais um igual a quatro ✹ JikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora