Capítulo 10 - Faíscas

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O instante seguinte foi melhor.

Caminhar aliviava todas, ou quase todas, minhas preocupações. A sensação estranha de pesar e estremecimento arranhava meu coração, como se algo não estivesse certo. Passei a mão no meu peito, próximo a clavícula, que diariamente eu tinha que tomar cuidado para não deixar a mostra. Eu não era marcado, e não podia deixar que minha mentira. Nossa mentira. Minha e de Jungkook, fosse descoberta.

Apenas balancei a cabeça, observando a nuvem de poeira que levantava a cada passo meu.

Jungkook. O nome dele soava como um miado em minha cabeça. Era tão grave e ao mesmo tempo aveludado. Balancei a cabeça de novo. O que eu estava pensando? Será que a falta que eu sentia de Jungkook estava mexendo com meu cérebro?

Tudo bem que eu precisava vê-lo. Precisava tanto quanto preciso de ar para respirar. E eu não entendia essa necessidade em meu interior, não era como se eu sentisse algo grande ou profundo por ele...Não, quero dizer, eu não estava apaixonado por Jungkook e nem nada assim. Eu só queria vê-lo e ter certeza que ele estava bem. Sim, era isso. Eu queria saber como ele estava.

Com essa certeza eu continuei caminhando, talvez, se eu contasse com minha pouca sorte eu o encontrasse pelo palácio.

Olhei para o céu, apertando os olhos devido a claridade. O sol estava deslizando acima do horizonte, vazando luz dourada entre os ramos das flores e manchando as colinas em veios de ouro puro.

Sorri pequeno ao sentir no rosto o beijo de uma brisa morna, com cheiro de calor e mar e rosas da primavera.

O tédio arranhou meu estômago de novo enquanto andava pelos corredores do palácio, a atenção dividida entre os pilares que ganhavam um tom de vermelho-escuro e as peças raras de valor pessoal e político. Passei os dedos em tudo que estava perto o suficiente: os candelabros de prata e ferro, vasos de flores com gemas cravadas na louça, obras de arte e tapeçarias feitas à mão.

Vi minha imagem em um dos vasos que refletia como um espelho. E entendi porque Jungkook vivia tomado pelo horror, preocupado ao ponto de me sufocar. Meus olhos estavam vítreos e o rosto mais pálido do que já esteve um dia.

Baixei os olhos para minhas mãos, os dedos recheados de arranhões, a palma ainda enfaixada. Jungkook não dizia muito, mas eu via seus olhos passarem por cada pedaço meu quando estávamos juntos, num cuidado que causava caricias em minha pele sem que ele de fato me tocasse.

Suspirei. Talvez eu estivesse enganado, e não fosse ele quem me sufocava, mas sim ele quem se sufocava com tanta preocupação.

E apesar dos meus machucados ainda permanecerem, e não mostrarem sinais de melhora, eu estava bem. Namjoon havia me dito isso.

Um tanto atrapalhado, e envergonhado por pensar tanto em Jungkook, avancei pelo chão de pedra, virando o corredor, encontrando a cozinha. Abri a porta dos fundos e fui na direção dos jardins, determinado a encontrar meu marido e clarear algumas coisas, como o motivo dele se encontrar tanto com o rei, fazer tantas tarefas para o rei. E viver se encontrando com o rei.

Eu não ia ficar parado e sozinho no quarto criando teias de aranha enquanto Jungkook resolvia problemas que eu não tinha ideia do que se tratava. Nós estávamos casados, e mesmo que não compartilhássemos sentimentos, nada nos impedia de compartilhar outras coisas, como ideias, desejos e problemas.

Política podia não ser um assunto muito divertido, e nem nos aproximar mais, só que se a economia do reino estava sofrendo, ele poderia me falar. Jungkook era quase um faz-tudo para o rei, serviços que não tinham relação alguma com seu título. E isso era estranho. Oras, era normal que eu ficasse curioso e tivesse tantas perguntas e dúvidas.

Um mais um igual a quatro ✹ JikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora