Capítulo 21

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O horário passava bem devagar e todos já estavam ficando agoniados com a demora, treinamos um pouco e logo a noite chegou e a única coisa que falávamos era sobre o Enzo. Como ele devia ser? como íamos ganhar?
Acabamos indo para em uma praça, mas parecia deserta, nos sentamos e mais uma vez tentamos não chamar atenção.
-- Galera, eu já vi ele. – Todos ficaram surpresos. – E ele falou comigo.
-- Aonde? – Thomas perguntou.
-- Quando tive uma das visões, eu vi Candólia sendo destruída e também vi ele, não sei como, mas ele falou comigo, ele me viu.
-- David, é impossível alguém te ver, porque você não estava lá. – Anna disse.
-- Mas ele me viu, ele disse que ia me achar. – Lembrar daquele momento me deu calafrio.
-- Como ele é? – Valerie perguntou, era bom ver eles conversando, pois ainda não tive a chance de conversar com eles direito.
-- Eu não lembro muito bem, porque a poeira cobria seu rosto, mas lembro dele ser alto, de cabelos grisalhos, ele tinha uma postura autoritária e seus olhos tinham um poder que sugavam a alma de qualquer um. – Todos me olhavam, sem piscar ou se mexer.
-- Aonde é que aperta pra desistir? – Alice brincou. – É sério, eu estou com medo. – Ela agora falava com uma expressão séria.
-- Se a gente vencer, vamos acabar com o terror em Candólia e vamos reconstruir nosso lar. Finalmente vamos poder viver em paz.
-- E se a gente perder? – Guilherme se manifestou.
-- As consequências serão enormes, esse mundo será destruído e tudo e todos desaparecerão.
-- Antônio e Clarice depositaram esperança em nós, precisamos orgulha-los. – Falei, lembrando dos pais de Anna
-- Eles devem estar muito preocupados agora. – Anna olhava para baixo.
-- Devem estar nos esperando, com a vitória. – Guilherme disse, dando um sorriso sem mostrar os dentes. – Vão ficar orgulhosos.
-- Ai que saudade dos meus pais. – Anna deitou a cabeça no ombro de Guilherme. – Que aflição.
-- Vai ficar tudo bem. – Era o que eu queria acreditar. – Nós vamos conseguir.
-- Acha mesmo isso? – Aquela garota sentou do meu lado, ela parecia calma.
-- O que você está fazendo aqui? – Perguntei.
-- É que meu pai mandou vigiar vocês. – Ela riu. – Mesmo eu estando com uma vontade enorme de matar vocês, eu tenho que esperar o grupinho salvador chegar no lugar destinado. – Todos estavam me olhando, esperando eu fazer alguma coisa.
-- E como sabe que não vamos te matar primeiro? – Perguntei e ela segurou a risada.
-- Porque simplesmente vocês não vão conseguir. – Ela tentava não rir. – Isso é óbvio. – Ela ficou séria. – Meu pai é o homem mais poderoso de todos os mundos, acha mesmo que vai conseguir matá-lo?
-- É uma possibilidade. – Respondi.
-- Não, não é. – Ela se levantou. – Quer saber, eu vou embora.
-- Sua cretina! – Anna ficou de pé e correu para cima da garota. – Eu vou te matar! – Ela derrubou a mesma e lhe deu uns três tapas, mas a garota revidou depois e deu um soco em Anna, fazendo seu nariz sangrar.
-- Você vai me pagar pelos tapas! – E assim, ela sumiu.
-- Como é que ela fica bem do seu lado e você não faz nada?! – Anna estava gritando, dessa vez comigo.
-- Não grita! – Tentei acalma-la. – Vai chamar atenção.
-- Vou parar de gritar quando me dizer porquê não a matou!
-- Eu não sei!
-- Como não sabe? – Ela terminou de limpar o sangue que saia do seu nariz. – Ela vai ver só.
-- Essa garota é diferente, ela tem uma alma forte, não consigo machuca-la.
-- Vai dar uma de bonzinho agora? – Anna estava sendo debochada. – David, você tem que entender que na primeira oportunidade ela vai tentar te matar.
-- Eu sei disso e não pretendo deixar isso acontecer.
-- Vamos dormir, por favor. – Ela voltou para o seu lugar. – Amanhã o dia vai ser longo. – Ela bocejou. –Temos que estar preparados.
  Todos dormimos logo e mais uma vez eu tive pesadelos, acordei no meio da noite duas vezes, esperei um pouco, para ver se o sono voltaria. Vi o grupo e estava faltando um.
-- Jason! – Tentei chama-lo sem fazer muito barulho e acordar os outros. – Jason!
-- Oi!
-- Aonde você está? – Perguntei, ouvindo sua voz de algum lugar.
-- Aqui atrás. – Me aproximei de uma árvore e ele estava lá, sentado.
-- O que está fazendo aqui?
-- Estou sem sono, decidi respirar um pouco e ver as estrelas e você?
-- Pesadelos. – Me aproximei. – Posso sentar?
-- Claro. – Me sentei do seu lado. – Como é saber que você tem toda uma responsabilidade nas costas?
-- Bem assustador.
-- Deve ser, tem um mundo em suas mãos, nosso mundo.
-- Se lembra de Candólia? – Perguntei, olhando na direção que ele olhava, para as estrelas.
-- Não, mas meus pais me falaram sobre. – Fiquei surpreso.
-- Seus pais?
-- Sim, eles me disseram como tiveram que fugir e vir para a Terra.
-- Falando assim parece que somos alienígenas. – Rimos.
-- Aos olhos de quem não entende, podemos ser. – Ele não tirava os olhos das estrelas. – O diferente assusta e muitos não estão preparados para aceitar o que não faz parte da sua realidade.
-- Como seus pais fugiram de Candólia? – Perguntei.
-- Uma mulher de lá, que tem controle sobre o lugar, optou por fugir para a Terra, porque seria o melhor lugar. Ela abriu alguns portais para essa dimensão e muitos vieram, mas ela não conseguiu fugir e acabou morrendo, ninguém sabe onde estão seus filhos. – Ele continuou. – Minha mãe disse que sua irmã, que seria a próxima a ter governo sobre Candólia está sendo mantida como refém.
-- Jason, eu acho que sei onde estão os filhos dessa mulher.
-- Sabe? – Seus olhos pousaram em mim. – Sempre foi um mistério.
-- Ela tinha quantos filhos? – Perguntei, tentado ligar os pontos.
-- Dois, um menino e uma menina. – Ele parou para pensar, tentando entender. – Duas crianças.
-- Gêmeos? – Perguntei, erguendo uma sobrancelha e finalmente ele entendeu.
-- Você acha que o Hugo e a Ágata são os filhos dela? – Ele estava com os olhos arregalados. – David, eles são os próximos governantes de Candólia.
-- Eu ainda não falei direito com eles. – Respirei fundo. – Jason, eu juro, vou tentar proteger todos vocês, até o fim da minha vida. – Ele me entendia. – Promete pra mim, se chegarmos ao limite você me dará ódio e raiva, você me passará todos os sentimentos negativos possíveis.
-- Para quê? – Ele começou a ficar confuso.
-- Eu vou precisar matar aquele cara e vou precisar de muita raiva, assim meus poderes vão se manifestar com mais força.
-- Poderes é um termo engraçado. – Ele riu.
-- É sério. – O garoto a minha frente ficou sério.
-- Tudo bem, vou fazer. – Agradeci e voltamos a olhar para as estrelas. -- Pode contar comigo.
-- Temos que dormir. – Amanhã será a decisão para o nosso futuro e o futuro dos dois mundos. Esse peso precisava me deixar e eu não quero decepcionar ninguém.

EscuridãoWhere stories live. Discover now