Capítulo 7

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Clarice veio até mim e se sentou ao meu lado, passando a mão em minha costa. “Meu querido” suas palavras saiam doces e delicadas.
-- David, acho melhor você ir atrás dela. – Ela me aconselhou. – Se você não fizer isso, com certeza irá se arrepender.
-- Ei garoto. – Antônio estendeu a mão para mim, peguei-a e ele me puxou, me deixando de pé. – É melhor se apressar, antes que ela se vá para sempre.
Fiz o que ele mandou e desci a escada correndo, abrindo a porta e saindo da casa. Olhei ao redor e não avistei Sarah, decidi pegar o mesmo caminho que chegamos aqui. Com certeza Sarah ia voltar para o hotel.
Segui a trilha e não vi Sarah em lugar algum, continuei andando até ver sua sandália no chão. Me abaixei e peguei.
-- Sarah! – Comecei a gritar, ela não ia deixar sua sandália jogada por aí. – Sarah, se estiver por aqui, me responda! – Escutei um grito abafado e corri na direção. – Sarah! É você?! – Continuei andando até ver um homem e ele estava com Sarah, seu braço prendia o corpo dela, enquanto ele apontava uma faca para o seu pescoço. – Quem é você?
-- Apenas um vigilante. – Ela apertou Sarah ainda mais e isso me deixou com raiva. – Se vir comigo, prometo não machuca-la. – Ele deu um sorriso e foi o mesmo sorriso que o homem da janela do hotel deu. Era ele.
-- Por que você esta atrás de mim? Era você no hotel, não era? – Dei um passo em direção a eles, vi que Sarah estava desesperada.
-- É a minha função! – Ele apontou a faca para mim e depois voltou ao pescoço de sua refém. – Leva-lo até o chefe.
-- Quem é esse chefe? – Pedi calma, pois percebi que o homem estava pressionando a faca no pescoço dela e ele podia fazer um estrago.
-- Em breve você saberá, porque você irá até ele e o confrontará. – Vi uma lágrima descer pelo rosto de Sarah, ela não mexia um músculo.
“Anna!”, “Anna, vem me ajudar!” – Comecei a gritar em pensamento, eu precisava de ajuda.
-- Vocês estão com o meu irmão? – Eu estou preocupado, tento ser forte mas sem ele não dá. – Ele está bem?
-- Só posso dizer que estamos com seu irmão, se ele fica bem ou não depende de você. – Seu sorriso era amedrontador e ao mesmo tempo irritante.
-- Onde eu posso encontrar esse homem? – Ele me olhou de forma misteriosa.
-- Você saberá onde? – Ele estava me deixando confuso, como eu ia enfrentar uma pessoa tão poderosa sem saber nada dela?
Uma planta enroscou em suas pernas e o puxou contra uma árvore, era Clarice. Ele ficou preso e Sarah correu em minha direção, me abraçando com força.
-- Calma, eu estou aqui. – A abracei e ela não me largou. – Calma, calma. – Ela soluçava. – Vai ficar tudo bem. – Um galho prendeu seu pescoço e ele apenas ria. Antônio apareceu junto com Anna, ele fez um movimento com a mão que deixou o vigilante sem respirar, forçando seus pulmões. Antônio tinha algum controle sobre o ar. Anna concentrou muita carga em sua mão e mirou no homem, quando ela lançou para atingi-lo, ele sumiu e as faíscas acertaram a árvore, deixando algumas queimaduras. Sarah ainda estava com os braços envolta do meu corpo.
-- Vamos voltar para casa, agora! – Clarice ordenou e obedecemos, mas Anna ficou, ela ia fazer aquele truque da cura na árvore. Quando entramos, eu e Sarah fomos direto para o quarto, ela acabou sentando em minha cama.
-- Eu fiquei com tanto medo. – Ela começou a chorar. – Pensei que você não fosse aparecer e eu ia morrer ali. Sozinha.
-- Sarah, me desculpa por ter falado aquelas coisas, eu não queria. – Me desculpei segurando em sua mão, fazendo com que nossos dedos ficassem entrelaçados. – Me perdoa?
-- David, por favor, não saia mais de perto de mim. – Ela me abraçou, se jogando em cima de mim e fazendo nós dois cair na cama, abraçados.
Ficamos deitados, conversando e rindo por um tempo. Sarah contou mais sobre a vida dela e eu contei sobre a minha, falei o quanto amo o meu irmão e o quanto sinto saudades da minha família.
-- E o seu pai? – Ela estava deitada, apoiando a cabeça com a mão. – Você o conhece?
-- Não, nunca o vi. – Respondi, pensando no homem que me deixou quando eu nasci. – Não sei seus motivos para me abandonar, deixando minha mãe sozinha.
-- Tem a possibilidade dele ser de Candólia? – Olhei em seus olhos e ela se jogou na cama. – Ele pode ter alguma dessas habilidades.
-- É uma possibilidade, ou ele pode ser um homem comum que não teve coragem de cuidar do próprio filho mas teve coragem de abandona-lo. – Sarah se levantou e colocou as mãos na cintura.
-- Crianças, precisamos conversar. – Antônio abriu a porta e deu um leve susto em Sarah. – Agora! – Ele voltou para o primeiro andar da casa e nós o acompanhamos.
-- Bom, encarando os fatos ocorridos, percebemos que chegou a hora. – Todos se reuniram na sala, Clarice estava pé e Anna sentada na poltrona ao seu lado. Me sentei no mesmo sofá ao lado de Antônio, Sarah preferiu ficar em pé.
-- Hora de quê? – Perguntei, querendo logo uma resposta.
-- Hora de partir e lutar contra o mau, hora de realizar os feitos que você nasceu para fazer. – Clarice disse, com um pequeno sorriso no rosto. Eu estava tomado pelo pânico, eu não podia estar pronto para isso.
-- Clarice, eu... – Anna se levantou e me olhou.
-- A gente vai se organizar hoje e vamos partir amanhã pela manhã. Decida agora, ela vai ou não? – A garota apontou para Sarah. – Só avisando que se ela for, a responsabilidae vai ser sua.
-- Ela vai. – Olhei para Sarah que também me olhou, percebi que ela estava pronta. – Eu vou cuidar dela. – Rimos e Anna revirou os olhos.
- Bom, eu vou preparar suas mochilas. – Clarice se ofereceu. – Vou colocar tudo o que vocês possam precisar. Ok?
Ela subiu a escada e sumiu no andar de cima, Antônio continuou nos instruindo sobre o que fazer e o que não fazer. Ele pediu para que esperássemos enquanto ele ia no seu quarto, segundos depois ele voltou com um papel na mão.
-- Jessica Cooper, 17 anos. – Todos nós fizemos silêncio para ouvir. Ele continuou: -- Thomas Dylan, 21 anos. – Ele parou e nos observou. – Alice Evans, 18 anos. Jason Tompson, 16 anos. Valerie Johnson, 17 anos. – Ele respirou fundo. – E por último Ágata e Hugo Carter, ambos de 17 anos.
-- Então essas são as pessoas que devemos procurar? – Anna tinha uma expressão diferente. – Vamos perder muito tempo. – Ela não se conformava em buscar outras pessoas.
-- Vocês precisam da ajuda deles, passamos anos procurando por pessoas como elas e toda ajuda é bem vinda. – Antônio advertiu. Ele veio até mim e entregou o papel, onde tinha os nomes e endereços das pessoas. Anna também veio até mim e puxou o papel das minhas mãos, lendo-o. Bateram na porta.
-- Quem é? – Antônio perguntou e uma voz masculina respondeu.
-- É o Gui, senhor Antônio. Posso entrar? – Antônio pediu para que Anna guardasse o papel e permitiu que o garoto entrasse. – Bom Dia, eu vim falar com a Anna. – Ele era um pouco mais novo que eu, tinha cabelos bagunçados e usava óculos. Ele vestia uma camisa simples, calça jeans e sapatos stars.
-- De onde você está vindo? – Anna foi abraça-lo. Ele olhou para nós confuso.
-- Eu fui resolver uns problemas da escola do meu irmão, eu consegui criar um site que pode ajudar nos estudos dele e tals.
-- Sério? Guilherme, isso é incrível? – Anna olhou para ele e depois para nós. – Gui, esses são David meu primo e Sarah, amiga dele. David e Sarah, esse é o Guilherme, meu melhor amigo.
-- Prazer. – Nos cumprimentamos e ele foi conversar com Anna na cozinha. Antônio subiu e eu fiquei conversando com Sarah, até que Anna passou correndo por nós e subiu as escadas, rindo. – Então, o que vieram fazer aqui? – O garoto perguntou, se aproximando e sentando na poltrona.
-- A gente veio passar um tempo, mas vamos embora logo. – Respondi, pensando na mentira de Anna de dizer que somos primos.
-- Gostaram do vilarejo? – Ele afundou na poltrona. – É calmo e parado, mas é legal.
-- Na verdade nós nem saímos assim, só olhamos mesmo e voltamos para dentro da casa. – Sarah respondeu no meu lugar. – E você, a quanto tempo mora aqui?
-- Desde... Desde quando eu nasci. – Ele gaguejou. – Eu cresci aqui.
-- Aqui, achei! – Anna era outra pessoa quando estava com Guilherme. Ela voltou com um celular e entregou ao garoto. – Eu nem uso muito, não sou muito de tecnologia. – O garoto olhou meio tímido para ele, deu um sorriso sem mostrar os dentes e abaixou a cabeça para mexer no celular. Anna me olhou.
“Não diga nada estranho.”  Ela me olhou fixamente e eu entendi que ele não sabia o seu segredo, ele não sabia das habilidades. “Porque não conta, ele é seu melhor amigo” pensei. “Você ia gostar de saber que sua melhor amiga pode ler mentes?” Eu quase ri, mas permaneci sério. “Que feio Anna, você ler a mente do seu amiguinho sem ele saber.” Eu estava segurando o riso e Sarah percebeu. “Idiota, eu não leio a mente dele, nunca fiz isso.” Ela estava com uma expressão zangada e Sarah estava confusa. “Talvez eu conte.” Dei um sorriso debochado. “Você não tem coragem e iria se arriscar também, ou esqueceu que é um de nós?” Ela voltou a atenção para o garoto.
-- Sarah, eu vou para o quarto, depois eu almoço. – Ela balançou a cabeça e eu fui em direção as escadas. “Ele vai almoçar aqui, eu o havia convidado.” Anna disse no meu pensamento. Fui para o quarto.
Sarah veio me chamar para almoçar e nós descemos, vi Antônio sentado na ponta da mesa e Clarice a esquerda do seu lado. Anna estava do lado de Guilherme, me sentei e fiquei de frente para Anna e Sarah ficou de frente para o garoto, que a encarou por um tempo. Todos nós ficamos em silêncio, até que ele se manifestou:
-- Posso vir amanhã te ver? – Sua pergunta saiu meio abafada.
-- É que amanhã não vai dar, vou sair com meu primo, nós vamos fazer uma espécie de viagem, não sabemos quando voltamos. – Vi a decepção no olhar do rapaz.
-- Vão para que lugar? – Ele perguntou e todos ficamos sem resposta.
-- Nós vamos sair sem rumo, vamos ver para onde a vida vai nos levar. – Guilherme riu.
-- Eu vivo dizendo para eles que isso é meio perigoso, mas eles não me escutam. – Clarice disse rindo, tentando confirmar a mentira.
Quando terminamos, Anna foi para a sala com sua visita e eu fui para o quarto novamente, escovei os dentes e me sentei na cama, pensando no verdadeiro rumo que minha vida ia tomar. Fiquei no quarto o dia todo, não queria conversar e nem responder perguntas. Queria apenas ficar no quarto.

EscuridãoWhere stories live. Discover now