Capítulo 2

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  Deixei a bicicleta perto da parede, empurrei as portas e entrei no hotel, uma garota com quase a minha idade de uniforme veio até mim e fez uma expressão preocupada quando olhou para o meu rosto.
-- Você está bem? – Ela perguntou, levantando a mão para tocar no corte, mas eu desviei.
-- Estou, só quero um quarto. – Disse e ela foi para a parte de trás do balcão de atendente. – O mais barato. – Ela riu e começou a teclar, sem tirar os olhos da tela do computador.
-- O quarto 47. – Ela pegou uma chave e me entregou. – Fica no primeiro andar, é só subir as escadas.
-- Obrigado. – Não olhei mais para ela e subi as escadas com pressa. Achei meu quarto, coloquei a chave no fechadura e abri. O quarto tinha um ar frio e uma aparência agradável, um quadro me chamou atenção, era uma pintura, nela havia vários cavalos correndo em uma montanha e no canto da quadro havia uma garota com os cabelos ao vento. Era lindo. Ao lado tinha uma janela grande de vidro.
Fui ao banheiro e tomei um banho, senti como se um caminhão tivesse saído da minha costa. Peguei uma toalha e me enxuguei. Bateram na porta e eu fui abrir.
-- Vi que entrou no hotel sem malas ou mochila, então eu trouxe essas roupas que estavam nos achados e perdidos. – Ela segurava uma bermuda e uma camiseta, eu peguei e agradeci. – Tenha uma ótima noite, com licença. – Ela ia saindo, mas parou. – A propósito, eu me chamo Sarah.
-- Da... David. – ela deu um riso de lado e foi embora, fechei a porta e vesti só a bermuda preta. Me joguei na cama e comecei a chorar, em silêncio, pois não queria incomodar ninguém. Chorei até cair no sono. Como minha vida virou esse caos?
A luz do sol invadiu o quarto e eu acordei, vi uma mancha de sangue nos lençóis e percebi que era do corte no meu rosto, estava sangrando muito. Procurei por todo o quarto um kit de primeiros socorros, mas não encontrei. Peguei minha camisa velha, molhei e pressionei no corte. Mas que horas eram? Droga! Como eu fui esquecer meu celular? Bateram na porta e eu fui abrir.
-- Aí meu Deus! – Sarah se desesperou. – Espera, eu vou ajudar você. – Ela entrou e começou a procurar algo.
-- O que você está procurando? – Eu pressionei ainda mais o corte com o pano.
-- Um kit de primeiros socorros. – Eu a avisei que não tinha e ela ficou indignada. – Espere um pouco, eu vou buscar. – Fiz o que ela disse e me sentei na cama, não demorou muito e ela voltou. – Aqui, vem! – Ela era boa em fazer curativos, em segundos o corte parou de sangrar. Ela despejou um líquido e colocou um band aid na ferida, a dor logo passou.
-- Muito obrigado. – Agradeci a ela, que guardava os materiais no kit, ela também havia trocado os lençóis.
-- De nada. – Ela fechou a pequena mala vermelha e a carregou. – Vou trazer alguma coisa para você comer, está precisando.
-- Está bem, você pode trazer mais tarde? – Eu ainda estava cansado, meus pés ainda doíam. Ela disse que sim e saiu, me deitei novamente e fiquei pensando na noite de ontem. O que eu faço agora? Quem eu devo encontrar? Me fiz tantas perguntas que acabei adormecendo novamente.
Acordei com as pancadas na porta, levantei e fui abri, era Sarah novamente.
-- Por que demorou? – Ela se tocou com a pergunta que fez. – Desculpe.
-- Eu dormi novamente. – Ela segurava uma bandeja com uma tampa de alumínio. – Ah, desculpa, pode entrar. – Abri a porta e ela entrou, colocando a bandeja em uma mesinha pequena perto da poltrona.
-- Eu trouxe comida, com algumas frutas e uns doces. Você gosta de doce? – Disse que sim e me sentei na poltrona, ela tirou a bandeja. Peguei o controle e liguei a TV que ficava no canto. Estava passando uma reportagem, ah não.
“Vizinhos afirmam que essa família era constituída de quatro integrantes, o pai, a mãe e os dois filhos.”
-- Meu Deus, o que aconteceu? – A garota estava concentrada na TV.
-- Eu não sei, posso mudar? – Comecei a ficar nervoso. Minha casa apareceu na imagem.
“Os corpos dos pais foram encontrados dentro de casa e os dois garotos continuam desaparecidos.”
Meu coração estava acelerado, eu estava suando frio.
“O garoto mais novo se chama Caio Simon, tem 16 anos de idade.” A imagem do meu irmão apareceu na tela.
-- Sarah...
“ O outro rapaz se chama David Willians de 19 anos, a polícia afirma encontrar digitais do garoto por todo o corpo das vítimas.” Enquanto a mulher falava minha foto apareceu na TV e Sarah olhava para a tela e para mim, confusa. “Como somente as digitais do mais velho foram encontradas é provável que ele tenha assassinado seus pais, também é possível ele ter sequestrado o irmão mais novo, mas são apenas hipóteses.”
-- Eu posso explicar. – Ela entrou em pânico. – Sarah, nada disso é verdade. – Ela começou a caminhar até a porta. – Por favor, eu não matei ninguém e também não sequestrei meu irmão. – Ela abriu a porta e se preparou para sair. – Sarah, eu estou sozinho!
-- Eu preciso pensar, está bem? – Ela me olhou e saiu. Minha liberdade está nas mãos da Sarah.
As horas passaram bem devagar e meu desespero só aumentava, eu não sabia o que Sarah estava fazendo, a polícia podia estar vindo nesse momento. Quando dei por mim já tinha anoitecido. Tomei outro banho e tive que usar a mesma bermuda, dessa vez vesti a camisa também, deixando o colar por baixo.
-- Está bem, me conte tudo o que aconteceu com você! – Sarah invadiu o quarto, batendo seu salto no piso de madeira. – Não esconda nada, ou eu chamo a polícia. – Ela segurava um celular.
-- Está bem. – Fui até a cama e me sentei. – Quer se sentar?
-- Não, obrigada. – Ela cruzou os braços. – Fale daí. – Respirei fundo e comecei a contar a história. Claro que Sarah pensou que eu era um maluco ou que havia usado drogas.
-- Por favor, você precisa acreditar em mim. – Implorei e ela se sentou ao meu lado.
-- Sua sorte que eu gosto de uma loucura. – Ela riu. – Digamos que o que você disse é verdade, o que vai fazer agora?
-- Minha mãe disse para encontrar uma garota e ela ia me ajudar, mas não faço ideia de quem seja. – Ela olhou para o teto como se estivesse pensando.
-- Você tem que ficar escondido aqui, não pode sair e não pode ser visto. – Ela levantou e colocou a mão na cintura. – O noticiário passou por todo hotel, todos viram seu rosto.
-- Está bem, não vou sair. – Peguei em sua mão. – Muito obrigado mesmo. – Ela riu e foi embora, olhei novamente para aquele quadro. Eu só queria estar em casa, abraçado com minha mãe, atormentando meu irmão e brigando com meu padrasto. Senti as lágrimas caírem. Ainda haviam algumas frutas na mesa, eu as comi e me deitei, peguei o lençol e me cobri. Mais lutas viriam amanhã e eu tinha que estar preparado.
Parecia que eu tinha dormido só alguns minutos e já era manhã, me levantei só esperando o momento de Sarah passar por aquela porta, mas enquanto ela não chegava eu fui tomar um banho. Bateram na porta.
-- Já estou indo. – Me vesti, tirei a água do cabelo e fui abrir a porta. Não era Sarah.
-- Bom dia senhor, eu me chamo Eloísa e estou entregando esses papéis. – Ela riu. -- Caso você olhe esses garotos por aí, ligue para esse número. – Ela me entregou os papéis e antes de soltar ela olhou para a foto estampada na folha e olhou para mim, droga! Ferrou tudo.

EscuridãoWhere stories live. Discover now