Capítulo 16

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-- Olha, olha, finalmente pegaram o fugitivo. – Um dos policiais falou. – Você deu uma grande dor de cabeça pra gente, viu rapaz. – Ele riu.
-- Olha, ele é mudo. – Todos riram.
-- Vai ficar aqui essa noite garoto, amanhã um agente vem fazer algumas perguntas. – Os policiais que estavam ali foram embora, ficando apenas eu e os três rapazes.
-- É você que estavam procurando esse tempo todo? – Um deles perguntou. Não respondi. – Ei, eu tô falando com você.
-- Calma cara, ele acabou de chegar. – Eu estava de costas para todos eles, então não soube quem estava falando. – E aí parceiro. – Olhei para o lado e vi um dos garotos estendendo a mão para mim, ele usava uma camiseta preta e uma calça jeans, tinha a pele um pouco bronzeada e os olhos castanhos ganhavam um destaque. Apertei sua mão. – Seu nome é David, certo?
-- Como sabe? – perguntei e um deles riu.
-- Todos sabem seu nome, você fez o caos pelas cidades que passou, depois que matou...
-- Eu não matei ninguém! – Quase eu gritava, estava ficando nervoso, pois não queria falar sobre isso.
-- E quem matou? – O garoto que riu perguntou, fixei em seus olhos pretos, seus cabelos eram enrolados e claros, ele não parou de me olhar.
-- Nenhum de vocês vai entender se eu contar. – Eles me olharam intrigados, bem pensavam que eu era um louco e se eu contasse eu poderia ir parar em um manicômio.
-- Então tenta...
-- É melhor não. – Me sentei e deixei eles de lado, não falei mais com nenhum. Os minutos passavam bem devagar e parecia que nada acontecia. Depois de algumas horas os três foram dormir e eu fiquei acordado, refletindo sobre o meu passado, sobre minha família, sobre a minha vida. Minha mãe e meu padrasto estão mortos e meu irmão foi sequestrado, espero que não tenham feito nenhum tipo de tortura com ele, ou eu mato todos. Senti uma lágrima cair, mas limpei logo, não poderia chorar, eu tinha que ser forte.
“Anna... Anna...” fiquei esperando por uma resposta, mas não ouvi nada, ela não respondeu. “Anna...”
Nem me dei conta de que dormi, pois quando acordei senti uns raios de sol passarem pelo meu olho.
-- Olha quem acordou. – O garoto que me cumprimentou estava de pé, encostado em uma parede.
-- Como é o seu nome? – Ele cruzou os braços e encheu o peito de ar.
-- Meu nome é Carlos. – Carlos, repeti em um tom baixo. – O que foi?
-- Esse era o nome do meu padrasto. – Aquilo só me fez ficar triste.
-- Foi mal aí. – Ele falou e depois continuou a apresentação. – Esse que tá no chão é o Tiago e o outro é o Pedro.
-- Ei garoto, vamos, tem gente querendo falar com você! – Um dos policiais veio e me levou até uma sala com apenas uma iluminação e meus braços estavam algemados. Sentei em uma cadeira de ferro, com uma mesa a frente. Em questão de segundos um homem de barba feita e cabelos alinhados entrou, ele vestia roupas sociais e segurava uma pasta.
-- Só pra confirma, repita seu nome por favor.
-- David Willians. – Ele balançou a cabeça olhando para o papel que retirou da pasta e pôs sobre a mesa.
-- E, David, por que você está aqui? – Ele cruzou os braços e me encarou, pelo que vi em seus olhos ele já sabia a história que se espalhou pelos quatro cantos, ele só queria ouvir de mim.
-- Estou aqui injustamente, não fiz nada, eu apenas...
-- Estou aqui para tentar te ajudar, mas se você mentir para mim as coisas serão totalmente diferentes. – Ele ignorou a cadeira a sua frente e ficou em pé, me olhando.
-- Eu não estou mentindo, o problema não é meu se não quiser acreditar. – Ele bateu na mesa, fazendo um barulho enorme por causa do tamanho da sala:
-- Não minta pra mim! – Sua expressão era de cansada e ele parecia impaciente.
-- Me solta e você verá do que sou capaz de fazer. – Estendi a mão para ele e o mesmo franziu a testa.
-- Está me ameaçando senhor Willians? – Ele sentou na cadeira a minha frente. – Está me ameaçando?
-- Não, eu...
-- Como era o nome da sua mãe e do seu padrastro? -- Sua voz saia meio rouca enquanto ele lia o papel em sua mão.
-- Diana e Carlos.
-- E o seu irmão?
-- Caio.
-- Por qual motivo os matou e sequestrou seu irmão?
-- Nenhum, pois simplesmente eu não os matei e estou tentendo encontrar meu irmão.
-- Como se chamam os outros garotos que estavam com você. -- Eu não poderia falar o nome deles, não poderia entrega-los.
-- Eu não me lembro. -- Ergui uma sobrancelha.
-- Você não se lembra? -- Ele me olhava fixamente. -- Como aquela casa caiu? E onde está a mulher que morava lá?
-- Eu não me lembro. -- Eu pretendia repetir isso para qualquer pergunta que ele fizesse.
-- Agora está por si só senhor Willians, não vou poder fazer nada, sugiro que se prepare para pelo menos uns quinze anos de cadeia.
-- Quinze? Não, eu não posso ser preso! – Ele me olhou, sério.
-- Você tem problemas garoto. – Ele se levantou, pegou a sua pasta e saiu, me deixando sozinho apenas por um tempo, logo dois policiais entraram e me puxaram pelos braços, me levando de volta a cela com aqueles três garotos.
-- Olha quem voltou! – O Pedro falou, balançando aqueles cabelos enrolados. – Pensei que não ia mais voltar. – Ele falou assim que eu entrei na cela e percebi que só haviam dois garotos.
-- Onde está o Tiago? – Perguntei.
-- Ele já foi, conseguiu liberdade. – Carlos respondeu.
-- Liberdade, coisa que você nunca mais vai saber o que é.
-- Me esquece. – Virei de costas para ele assim como fiz da primeira vez. “Anna...Anna” aquela agonia só aumentava e cada segundo que se passava eu queria sair daquele lugar.
Trouxeram comida e eu só comi porque estava com muita fome, pois a comida era horrível. As horas se passaram lentamente e eu precisava muito de um banho, acabei cochilando pela tarde e consequentemente eu ia passar a noite acordado. Fiquei sentado no chão, tentando me aquecer de alguma forma, pois a noite estava muito fria, coloquei minhas pernas contra o peito e passei o braço em volta delas. Escutei uns pequenos chiados, bem agudos, incomodarem meus ouvidos, olhei para o chão no meu lado e vi um ratinho, não parecia ser um ratinho normal, ele tinha algo na boca, me aproximei e ele colocou um pequeno papel, que estava enrolado, no chão. Peguei e li:
David, estamos bem e não vamos demorar para te buscar, por favor, aguenta mais um pouco. Achamos os outros Candolianos. A Anna não queria falar com você e achou melhor ninguém tentar fazer contato por enquanto, mas acho melhor você saber logo, a Sarah foi levada por aqueles caras e não sabemos pra onde levaram ela, não queria te deixar preocupado, mas acho que deveria saber e vamos voltar logo, prometo.
Assina: Ágata
Saber que Sarah foi levada só me deixou mais preocupado e mais agoniado. Eles não deveriam fazer isso, não deveriam. Vi a parede ao meu lado rachar, mas foi uma rachadura pequena, e a poeira sumiu rápido.
-- O que foi isso? – Carlos acordou assustado e eu fingi que estava dormindo, para não explicar o que aconteceu. Acabei dormindo de verdade, mas tive pesadelos, relacionado a Sarah, no pesadelo vi aqueles caras torturando ela, fazendo todo tipo de maldade. Eu não podia deixar eles fazerem isso com ela. Sarah é especial pra mim e ninguém vai machuca-la, nem ela, nem meu irmão.

EscuridãoWhere stories live. Discover now