30

7 0 0
                                    

10 anos depois...

– Au-revoir ! – disse minha aluna ao ir embora me deixando sozinha com a grande sala de dança, seus espelhos e suas barras.
  Finalmente, no silêncio, eu podia processar o que acontecera dentro de mim durante todo aquele dia corrido. Já sentada no chão olhando para meu reflexo no espelho me permiti deitar no piso e relaxar um pouco.
  Tomás esteve em meus pensamentos durante todo o dia. Toda a nossa história, os mínimos detalhes, tudo aquilo passou na minha mente, aparentemente sem necessidade. A muito meu ex amante tinha se tornado uma lembrança longínqua. Alguém que eu não me arrependia de ter abrido mão, mas que também me enchia de uma boa nostalgia.
  Lembro-me de ter me recuperando bem do término. Troquei as playlists, mudei o cabelo e fui para Paris decidida a começar uma nova vida.
  Eu e Diego vivemos momentos icônicos. Nos tornamos muito famosos, conhecidos mundialmente. Fizemos uma revolução no cenário artístico. Participamos de filmes, séries e vídeos musicais famosíssimos. Estudamos e dançamos. Foi uma boa época. Sabíamos que a fama cessaria um dia, e de fato foi o que aconteceu. Nós restou os diplomas, um legado, nomes, rostos e boas lembranças. Contudo sou mais feliz agora do que quando me pediram autógrafos.
  Meu último feito foi fundar uma escola de dança, onde faço de tudo para que qualquer um que queira dançar tenha essa oportunidade.
  Meu telefone toca e me levanto para buscá-lo na bolsa. Fico feliz e segura ao ver que é Diego.
– Alô! – falo animada
– Olá! Tudo bem por aí?
– Está tudo tranquilo. Apesar de que eu fiquei pensando no Tomás hoje. Por alguma razão minha cabeça decidiu desenterrar tudo hoje. Acho que a história toda daria uns três livros.
– Entendo, ele foi importante pra você. Já faz dez anos, não é?
– Sim, dez anos. Nas minhas conversas com Dália, costumo receber notícias dele. Ela sempre diz que ele está com a cara no trabalho e que está bem. Eu torço por ele.
– Todos torcemos por ele, é um bom homem. Muito dedicado no que faz.
– Com certeza. – disse enquanto suspirava, continuei:  Às vezes, eu penso em como seria se eu o encontrasse novamente, eu não sei o que eu faria.
– Provavelmente sairia correndo ou fingiria de morta.
  Ri alto da conclusão dele. Depois de um breve silêncio mudei o assunto.
– Quando você vai voltar de Los Angeles? Paris precisa de você.
– Que dizer que você precisa de mim.
– Talvez...
– Vou voltar amanhã. Chegarei às 22 horas. Você vai me buscar?
– Deixa comigo!
– E seu encontro ontem? No que deu? – Perguntou Diego com uma curiosidade nova.
– O cara era legal, sabe, bem legal e tudo mas...
– Faltou a química. – Completou minha frase como sempre fazia.
– Sim. Faltou a química. E você? Conheceu alguém em Los Angeles?
  Diego suspirou e disse em seguida:
– Você sabe que minha cara metade está em Paris. Não existe outra.
– Você fica demorando a se declarar, ela vai acabar encontrando outro cara por aí. – provoquei, ao que ele respondeu:
– Não tem perigo. Agora tenho que desligar, um beijo.
– Ok, pra vc também. Até amanhã
  Dizendo isso desliguei o celular e decidi que era hora de ir embora. Vesti meu casaco, coloquei a mochila nas costas, apaguei as luzes e fechei a porta. Comecei a caminhar pela rua charmosa até meu bar favorito. O bar estava relativamente vazio. Apenas alguns amigos em uma mesa, um casal em outra e um homem perto do balcão. Me aproximei e pedi uma taça de vinho para o barman. Enquanto esperava meu drink procurei algo para ouvir, já que era dia de nostalgia decidi colocar a banda que iniciou toda aquela história que decidiu passar como um filme na minha cabeça. Antes que eu desse play para a música agradável do For Day agitar meu coração um som ainda mais inquietante soou até meus ouvidos. Uma voz a muito esquecida que disse trazendo a tona as cores de uma história cristalizada no tempo:
– Você ainda gosta de For Day?
Olhei para o lado e me deparei com aqueles olhos negros e profundos. Tomás.

Asas protetoras - Terceiro livro da trilogia "anjo"Where stories live. Discover now