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"You did not break me
I'm still fighting for peace"
(Sia)

  A entrevista na rádio havia sido ótima. As palavras saíram da minha boca e da boca de Diego com uma facilidade imensa como se tudo tivesse sido combinado antes.     Contamos nossas histórias, como
nos conhecemos e o que pensávamos para o futuro. Fomos bem simpáticos e pelo visto encantamos não só os radialistas como também quem nos ouviu. Algumas pessoas na rua nos reconheciam e cumprimentavam sorrindo.
  No programa de televisão não foi diferente. A apresentadora se chamava Jane Fonseca e apresentava
o Talk Show matutino “Show de luzes”. Um nome bem clichê para um programa bem clichê mas que tinha como telespectadores o nosso publico alvo: amantes da arte. Jane Fonseca apresentava em seu programa – além de celebridades – artistas comuns, gente do povo que queriam expor sua arte. E os resultados eram ótimos. Pessoas viam o programa para decidir qual peça iam assistir no fim de semana, em que restaurante iam comer e que galeria de arte iam visitar.
  Apesar das caras de cansaço da equipe que nos circundava na gravação do programa – que mais
pareciam reféns de um sequestro, exalando a insatisfação com seu trabalho – eu e Diego eramos um
brilho em nossas vestes vermelhas e bem bordadas. Estávamos felizes e deslumbrados com todo aquele luxo, com todas aquelas câmeras e luzes, mas não deixamos transparecer. Fingimos costume, fomos simpáticos, fizemos pessoas rirem, contamos nossa história e falamos sobre nossa relação como parceiros. Por fim nos apresentamos e todos aplaudiram de pé no final. Nosso estilo expressivo de dança deixou as pessoas arrepiadas, pelo menos foi o que eu senti com a energia que exalava deles.
  Quando saímos do estúdio, uma atriz e um cantor sertanejo que estavam esperando sua vez para gravar para o programa, nos elogiaram. Disseram para não desistirmos que iriamos longe. Até tiramos fotos com eles e considerei meu dia ganho. Não é todos os dias que se tira foto com pessoas famosas.
  Em um estante nossas redes sócias estavam cheias de pessoas seguindo, curtindo e elogiando nosso trabalho. Eramos reconhecidos por toda a parte. Logo depois aparecemos em jornais impressos e fomos
entrevistados em jornais de notícias locais.
  Todo aquele reconhecimento finalmente chegando enchia o meu coração! Eu me sentia uma borboleta
que acabará de fazer metamorfose. Eu me sentia radiante e cheia. Mas não era a fama nem os holofotes que faziam isso. Era o reconhecimento. Eu dançava já a anos, mas nem meus colegas de sala sabiam disso direito, ninguém fazia ideia da minha capacidade e onde eu já havia chegado. Mas agora todos sabiam do que eu era capaz, sabiam que eu não era só a menininha boba e magrela do cabelo colorido. Eu desabrochei como uma flor ao som de uma entusiástica orquestra! Finalmente eu brilhava,
irradiava luzes por toda a parte e todos podiam ver!
  Mas parece que meu brilho deixava alguém incomodado, a única pessoa que eu não queria que ficasse incomodada com o meu brilho. Dias depois da entrevista no programa de TV Tomás me ligou.
  Como sempre ele começava com elogios. Disse que eu estava linda na televisão, que se orgulhava muito do meu trabalho e que eu era muito talentosa. Logo depois começava a seção de ciúmes. Ele argumentou que com todos esses holofotes muitos rapazes poderiam se interessar por mim. Logo depois disso, como de costume, Tomás pedia indiretamente provas do meu amor por ele. Por que isso Tomás? Eu me perguntava. Tomás sabia que eu o amava do mesmo modo que sabia que o céu é azul.
  Eu já não achava aquele ciúme mais tão bonitinho como antes. Era até pesado. Mas eu dava o que ele
precisava porque o amava.
  Ele tinha realmente orgulho de mim. Ficava feliz de me ver ir tão longe, mas a insegurança tirava todo esse brilho doce de um sentimento tão puro que é ficar feliz pelas conquistas de quem se ama. Ele teria que mudar isso, para o meu bem e para o bem dele. Mas daquela vez eu não disse nada, apenas sorri e dei o amor que ele tanto necessitava.
Naqueles dias, o sol estava escaldante e o cacto estava se esbaldando. Então mais um copo d’água não faria diferença. Pelo menos eu esperava que não. Eu ficaria muito feliz se aquele cacto relevasse os meus “defeitos” como eu relevei os defeitos de Tom naquele dia.

Asas protetoras - Terceiro livro da trilogia "anjo"Where stories live. Discover now