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"Nem vou lhe beijar 
Gastando assim o meu batom…"
(Zé Ramalho)



- Ele está mesmo morto. - afirmou Diego depois de cutucar o cacto com um lápis. Ele não aguentou só meu depoimento, teve que ir a minha casa para ver com os próprios olhos.
- É... Eu consegui matar um cacto.
Por fora, eu estava até calma com aquela situação, demonstrando apenas a culpa por ter matado a pobre plantinha. No entanto, dentro de mim estava acontecendo uma guerra. Com a turnê e todas as novidades eu tinha deixado de dar importância ao significado do cacto. Pra mim, aquilo não significava nada, uma planta não podia determinar o começo ou o fim de certo relacionamento. Afinal, o amor é o que conta. Mas algo havia mudado.
Diego como sempre, sabia tudo o que estava passando de troca da minha cabeça, não importa o quanto eu quisesse esconder. Porém, ele não sabia de tudo. Não sabia o que a confusão ia me levar a fazer. Não sabia que a confusão afirmava ainda mais as certezas da minha razão, apesar de intensificar o burburinho do meu coração. Então, como todo humano normal, ele perguntou para saber.
- O que você está sentindo com relação a isso?
- Você disse que era um termômetro. - respondi
- Sim, mas você não pode deixar que uma planta determine seu futuro.
- Eu sei. Mas é que ... - As ideias eram mais coerentes na minha cabeça, em voz alta parecia devaneios bobos falados pelos cotovelos - não é o cacto.
- Como assim? - Diego quis tirar de mim meus pensamentos.
- Estou... Eu estou... - eu nunca tinha dito aquilo em voz alta, apenas em pensamentos passageiros que eu negava. Então contei até três e deixei as palavras saírem da minha boca - Eu estou cansada de Tomás!
- E o que levou a essa reviravolta impressionante?
- Começou quando ele quis me mudar. A história das roupas lembra?
- Eu lembro
- Pois é. Ele só cobrava e cobrava. Com o tempo, só "eu te amo" não pagava o saldo negativo que ele deixava no meu coração. Depois ele passou a me ligar todo dia e eu enjoei. Como quando você começa a trabalhar com algo que gostava muito de fazer e acaba não gostando mais.
- Eu entendo Louise.
- Não é que eu não o ame, mas eu amo mais a mim mesma, e aí entramos em outro assunto: a proposta.
- Sim, eu pensei. Eu quero aceitar.
– Talvez nunca mais tenhamos uma oportunidade como essa. Eu não vou desperdiçar isso por causa de um amor. Não é que eu não ame Tomás, mas é que eu amo mais a mim mesma.
  Diego sorriu e ambos sabíamos o que deveríamos fazer.

Asas protetoras - Terceiro livro da trilogia "anjo"Where stories live. Discover now