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"Hoje contei pras paredes, coisas do meu coração"

(Marisa Monte)

Doce criança

Eu estou aqui

não precisa ter medo;

Eu estou aqui

Não chore criança, ainda é cedo.

Nunca vou te abandonar

nas noites de pesadelo;

Mesmo quando os monstros vierem te pegar

estarei aqui para protegê-lo.

Então, tenha força minha criança

pois um dia vamos poder viver.

Com luz do sol na sua infância

gigantes vamos ser."

Olá, cheguei em casa em segurança e está tudo bem por aqui. Encontrei esse poema de um autor desconhecido, espero que goste, conversaremos mais sobre ele depois. Estou lendo bastante Vinícios de Moraes também, acho que vai gostar. Os sonetos dele são como música agradável.

Um abraço

De: Louise Lane

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  Os créditos passaram, e eu estava esperando o próximo episódio. Contudo continuava a atuar. É tão patético o fato de ter que esconder seus sentimentos por alguém. Chega a ser hilário pensar que algo tão simples e natural gera tanto sofrimento. O homem pode fazer de tudo para mudar, mas ele não consegue permanecer um dia se quer vivo sem atacar e reprimir a natureza.

  Desde que tinha ido embora do palácio muita coisa mudara. A dança fazia parta de cem por cento da minha vida. Além da dança tinha que me esforçar em tirar boas nota. Ainda tinha o trabalho, que não podia reclamar. Tinha que dar tempo para minha família e para mim como bailarina. Isa até pagou uma mulher para dar um trato no meu cabelo verde e tentar arrumá-lo. Isso envolvia muitas seções de hidratação profunda que estava dado certo.

  Com tudo isso, meus pensamentos se moviam como um cubo mágico que se recusava a ser montado. Mas de alguma maneira tudo estava perfeito.

  Ele me amava. Só essas três palavras já bastavam, como um remédio para quem está morrendo. E eu estava morrendo. Eu estava em estado vegetativo e apenas o tempo poderia me curar e cuidar de mim, mendicando-me com amor.

  Eu tentava me sustentar com uma pilula por semanas. Tentava pensar que amor não acaba. Eu queria tatuar aquilo no meu corpo, pois eu era totalmente dependente daquele amor. Meu coração precisava estar cheio. Eu ouvi certa vez que amor não sustenta por inteiro. Para mim funcionava.

  Contudo, apesar da bagunça que estava minha cabeça, eu conseguia me sentir feliz. Com toda aquela correria atrás de sucesso, eu ainda me sentia feliz, pois ele me amava, ele me respeitava, ele estava ali, e o tempo estava cuidando de mim. Eu estava viva e protegida, aquecida e medicada.

  Dobrei o papel e coloquei no envelope. Anotei o endereço, selei o envelope, levantei-me do banco da praça e fui em direção ao correio. Apesar de tanto tempo fazendo esse mesmo trajeto todos os meses ainda sentia uma pontada de medo a cada vez. O medo me desgastava tanto que era como se eu tivesse engolido areia. Apenas coloquei a carta no balcão, dei o dinheiro e fui embora.

  As pessoas andando de um lado para o outro, distraídas consigo mesmas, transformam tudo em cinza. Apesar das cores tristes da sociedade, não o esqueço nem pot um só segundo. Pois tudo me lembra ele. Tudo me faz pensar na nossa história. Ás vezes nem parece que isso tudo aconteceu comigo. Quantas em cada 10 garotas tem oportunidades como as minhas e conseguem alcançar tão alto com uma idade tão baixa? Quantas garotas entre 10 já sentiram reciprocidade? Um privilégio de poucos claro.

  E lá estava eu. Ainda assim a vida passava diante dos meus olhos e não podia fazer nada. Parar o tempo seria uma boa opção dada as circunstâncias. Mas, a vida continua e covardia não leva nem à próxima esquina.

  No meio de toda a cansativa jornada na tentativa de explicar meus sentimentos, me perdi novamente. O redemoinho de palavras se atropelando e me sufocando sem piedade. A ausência de pontos e motivos plausíveis. A ausência de nexo e sons. Uma certeza e uma infinidade de inconstantes ondas vitais.

Asas protetoras - Terceiro livro da trilogia "anjo"Onde histórias criam vida. Descubra agora