32. A batalha pela montanha

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NOS PORTÕES EXTERNOS DA GUILDA.

Ao chegarmos nas últimas galerias antes de sairmos pelas portas redondas que finalmente me dariam acesso ao exterior da montanha de Dulin, o grupo de Mestres no qual eu estava infiltrada parou. Fiquei atenta ao que eles fariam, pois não queria ser percebida como penetra, então a mesma mulher que antes me colocou entre eles voltou a tomar a frente e a dar as ordens:

– Escutem. Para muitos de vocês, já fazem alguns anos que as Câmaras são tudo que veem, certo? – E várias vozes, não todas, responderam que sim. – Pois bem, devido a isso eu aconselho que usem seus capuzes e não olhem para o céu diretamente, pelo menos não quando sairmos, isso pode afetar a visão. Já deve ser noite lá fora, mas mesmo a luz da lua é forte na altura em que vamos estar.

– Certo, senhora Esterce – as mesmas vozes de antes concordaram em uníssono, todos puxando seus capuzes para cobrir a cabeça. A mulher respirou fundo depois disto e acrescentou:

– Vocês estão prestes a fazer história, então tenham coragem e protejam a entrada das Câmaras a todo custo – incentivou e, enquanto colocava o cristal na pedra para abri-la, encerrou baixinho: – Vamos proteger Dulin, aprendizes, seja do que for que vem aí.

A pedra, então, rodou para o lado depois do contato com o cristal e a luz do luar invadiu um pouco o corredor. Engoli em seco e acompanhei o fluxo dos que passavam segurando a respiração com nervosismo. Eu não fazia ideia de quantas horas eu tinha ficado presa dentro daquela montanha – pelo visto foram muitas – mas já estava de noite e provavelmente as defesas montariam vigília por toda a madrugada, pois as escadas que ligavam em zigue-zague aquelas portas até o chão estavam lotadas de Mestres enfileirados e encapuzados. Notei os Mestres com os quais eu tinha saído respirarem fundo o ar fresco do exterior e alguns poucos tirarem os capuzes para sentirem a brisa contra seus rostos pálidos, mesmo contra as recomendações da senhora Esterce. Eles eram tão brancos que pareciam fantasmas sob o luar. Por outro lado, até mesmo eu, que em comparação a eles não tinha ficado tanto tempo lá dentro, notei a diferença, tanto na temperatura – dentro da montanha era muito mais quente – quanto nos sons em volta.

Quando estávamos todos a postos no terceiro nível da escadaria, olhei para baixo na tentativa de identificar os envolvidos com o plano que eu agora sabia estar em curso, mas não avistei ninguém.

Será que acabei vindo parar do lado errado da estátua?

Eu estava no terceiro nível do lado esquerdo da imensa figura de um homem que saia do paredão da montanha, e pelo que eu lembrava de ter escutado, Gilimen falou que Vangard ficaria no primeiro nível e Shawn deveria estar no segundo para executar seja lá qual fosse sua parte no plano sórdido deles. Mas nenhum dos três estavam daquele lado e conclui isso depois de várias varreduras, o que me levou a crer que eles só poderiam ter ficado no lado oposto da estátua, embora fosse impossível eu me certificar disto, pois devido ao seu imenso tamanho e à sua extensa largura, não era possível ver além dela para o outro lado. Sendo assim, só me restava aguardar pela oportunidade certa de fugir dali sem ser notada, afinal de contas, eu não poderia participar de uma frente de batalha como aquela sem nenhuma arma e completamente despreparada.

Olhei para a lua e para a floresta que se estendia e corria por quilômetros à nossa frente, agora escura e quieta como todos em volta, e da altura que estávamos era possível ter uma boa visão de todo o vale em volta até o horizonte de montanhas longínquas, envoltas pela escuridão da noite. Não dava para eu fugir com tudo escuro como estava e eu não sabia o caminho para Aileen, sem contar os Morcegos-Albinos, que estavam sabe-se lá em quais pontos da floresta. Seria menos arriscado esperar o amanhecer e assim decidir o que fazer. Por um momento, enquanto eu considerava isso, pensei em Dinter-Dim e Mabel, que provavelmente já estariam em Aileen, e torci comigo mesma para que eles tivessem tido sucesso em avisar aos governantes sobre a ameaça, e ao mesmo tempo para que não viessem até ali me procurar, pois seria igualmente perigoso.

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Where stories live. Discover now