Prólogo

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PAREDÃO DE ENGOR, EM PENINA

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PAREDÃO DE ENGOR, EM PENINA.

Trovões anunciavam tempestade pela frente. O céu se fechou, de repente, em nuvens negras e densas e tudo em volta se encheu de um vento frio, mórbido, que assobiava tão sorrateiramente que poderia facilmente ser prenúncio de morte...

Poderia facilmente.

Então um relâmpago palpitou assustadoramente claro, entre as nuvens, e foi quando Festos irrompeu da escuridão, correndo com todas as suas forças, ofegante e assombrado. Era um velho de cabeça branca, altamente magro e de olhos quase a saírem pelas órbitas. Sua capa tremia conforme a correria e o vento, como folhas de uma grande árvore exposta ao vento. A julgar pela determinação e o empenho, que já quase o deixavam sem forças, Festos definitivamente sabia onde tinha que chegar... e parecia querer isso mais que tudo.

Não parou.

Nem pararia.

Atrás dele, outro relâmpago preencheu o céu. O descampado rochoso em volta foi rapidamente iluminado pelo flash, mas logo tudo voltou ao breu. Seus pés rápidos pisaram numa densa poça quando os primeiros pingos de chuva começaram a cair. Na noite fria, seus suspiros de cansaço e seus gemidos de desespero eram os únicos barulhos antes da chuva, e então tudo em volta mergulhou em pingos d'água. O barulho dos gotejos prevaleceu e logo Festos se tornou apenas um vulto desesperado a correr em meio a chuva.

Não demorou e um grande paredão rochoso surgiu à frente. Era um enorme penhasco, porém, visto de baixo. À medida que Festos se aproximou, a proporção entre ele e a altura do paredão foi se tornando mais nítida. Era imenso, porém, na atual conjuntura, isso era o de menos, pois em sua carreira exaustiva, o velho estava determinado mesmo era em alcançar a base do paredão, o que ele conseguiria sem interrupções, caso tivesse visto uma enorme pedra em seu caminho, que a escuridão em volta não permitiu.

Festos, então, tropeçou e caiu.

Gritou e sua capa o fez parecer uma bola de panos a rolar. Tentou se recompor rapidamente, a fim de não ser alcançado – pois era o que mais temia. Olhou por sobre o ombro e não viu nada além do breu – o que era tão preocupante quanto ter visto algo. A quietude pode despertar muito mais medos, mas talvez sua corrida o tivesse dado uma boa vantagem afinal de contas, embora preferisse não apostar nisso.

De bruços ainda no chão, ofegando muito e com bastante água a lhe escorrer pelo rosto, Festos apalpou as pedras abaixo de si, todas molhadas. Suas feições enrugadas estavam apavoradas, mas a sanidade ainda o permitia agir. Em sussurros, ele disse:

– Me ajudem... isso é uma ordem! Ponham-se em defesa... estamos sob ataque...

Suas mãos estavam abertas no chão, e delas pareceu sair certa energia. De repente, as pedras grandes e os pedriscos começaram a se rastejarem na direção da qual Festos tinha vindo. Sem esperar pelo que aconteceria, ele se pôs de pé e correu novamente, e dali não demorou para alcançar o sopé do penhasco. Havia uma caverna ali, com uma entrada discreta, agora toda úmida, mas inconfundível para Festos àquela altura de seu desespero.

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Where stories live. Discover now