21. Os mercenários de Malcon

217 21 11
                                    

NAS RUAS DA CIDADE-FORTE.

Depois de nos esgueirarmos pela rampa de acesso ao castelo em direção às primeiras vielas da cidade, cujo início se dava a partir de córregos vindos da muralha, começamos a correr pela Cidade-Forte e ouvimos uma trombeta soar alto lá em cima, no castelo.

Era o anúncio de que havia coisa errada acontecendo e, portanto, todos os moradores deveriam entrar para suas casas – assim ficaria mais fácil achar os fugitivos nas ruas vazias. Não houve correria nem alvoroço de pessoas, isso porque já havia escurecido bastante e muitos dos cidadãos já tinham se retirado das ruas para seus lares. Mesmo assim aquilo fez com que as ruas ficassem ainda mais desertas e silenciosas.

Dinter-Dim foi à nossa frente, com os sininhos ressoando, guiando-nos porquê de nós três, ele conhecia melhor a cidade. Eu vinha puxando Mabel pelo braço logo atrás dele, enquanto observava que as casas na Cidade-Forte não seguiam coladas umas nas outras, elas eram modestas e as ruas de pedras eram desproporcionais e ora alargavam-se ora estreitavam-se – sem falar que alguns moradores ainda faziam o favor de encher as frentes de suas casas com carroças ou jarros de flores, o que tornava ainda mais estreitas algumas vielas.

O bom era que essas distâncias de uma casa para outra davam espaço para alguns becos e passagens que ligavam uma via à outra, apenas cruzando suas laterais – a maioria de dois andares. O bobo parecia conhecê-las muito bem, pois a cada cinco casas que passávamos, ele entrava em um novo beco e saia em passagens mais sinuosas. Por ser noite e estar escuro, eu não estava muito preocupada em observar as construções, mas por duas ou três vez jurei ter visto sombras nas janelas das casas, como que nos observando.

– Isso vai ajudar a despistá-los – Dinter-Dim nos disse, quando paramos numa esquina para averiguar se havia pessoas ali. Eufóricas e assustadas, eu e Mabel nos encostamos numa parede e ela derrubou um cesto com algumas coisas de metal, o que fez um barulho grande no silêncio em que tudo estava. – Shiiiii! – Dinter-Dim pediu, com o dedo no meio da boca e os olhos bem arregalados. – Desse jeito vamos ser pegues antes de chegarmos às barreiras.

Porém era tarde para pedir isso. Ainda estávamos encostadas pedindo desculpas quando começamos a ouvir o tilintar das armaduras e os gritos dos soldados pelas ruas silenciosas. Ainda estavam longe, mas se aproximavam rápidos e pareciam ser muitos correndo e se espalhando pelas vielas. Dinter-Dim olhou para cima, tentando identificar qual o melhor lado para escoar, mas logo voltou a se apressar sem muitos planos.

Vamos, vamos, vamos! Por aqui!

Ele seguiu em frente, onde já estávamos indo, mas cerca de dez casa depois, olhei para trás e vi dois ou três soldados aparecerem sob a luz do luar. O bobo ia na frente e não os viu. Ele dobrou no beco mais próximo como parte do percurso, achando que estaríamos na sua cola, mas se nós duas continuássemos, seríamos vistas, então eu puxei Mabel imediatamente para a parede e nos encostamos num recuo dela, a fim de passarmos despercebidas, até porque a única luz que incidia era a da lua, que era fraca o suficiente para nos ocultar.

De soslaio rente as pedras frias eu vi os soldados perscrutarem em volta, há uns duzentos metros de nós entre os becos e sobre as carroças paradas de frente às casas, então suspirei aliviada quando percebi que eles desistiriam ali e voltariam por onde tinham vindo. Eles se olharam e acenaram em negativa, fazendo menção de se retirarem.

Contudo eu tinha me esquecido de uma coisa: Dinter-Dim não sabia e como tivesse percebido que nós duas ficamos para trás, o bobo voltou – e o pior, voltou sem averiguar.

Tine? Onde estão vocês? – ele perguntou assim que retornou de onde tinha entrado. Então, mesmo de longe, os soldados que já quase tinham sumido, se viraram e o viram.

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Where stories live. Discover now