26. Contato perturbador

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EM ALGUM LUGAR NO ESCURO.

Abri meus olhos de repente. Foi um pouco agonizante porque eu estava sem ar. Respirei fundo procurando reabastecer meus pulmões, mas não melhorou porque minha boca também estava seca e eu estava suando litros. Alisei a garganta, sentindo que estava sem voz, e olhei à minha volta, pois tudo estava escuro e eu não sabia como tinha ido parar sobre uma cama com lençóis me cobrindo como se eu tivesse me debatido muito antes de despertar.

– Olá? – eu tentei interrogar a escuridão, mas tudo que me saiu foi um arquejo rouco por conta da voz ressequida que ecoou pelo que me pareceu metros e mais metros de um breu sem fim.

Fiz uma careta depois disto e tentei engolir em seco, então afastei os lençóis e me levantei da cama, com apenas uma coisa se passando em minha mente: Onde estou?

– Olá-á? Que lugar é esse? Olá. – Tentei outra vez chamar, depois que consegui reabastecer minha boca com saliva, mas as perguntas reverberaram ainda mais longe na imensidão escura que me envolvia, me convenci, enfim, de que eu estava sozinha.

Estranho.

Minha última lembrança era de ter chegado à casa de Dâna, ter dado boa noite para Dinter-Dim e ter ido para o quarto com Mabel, onde ambas agarramos no sono, portanto, tudo aquilo não fazia sentido e as dúvidas já estavam me deixando perturbada.

Fechei os olhos várias vezes seguidas, tentando desfazer qualquer ilusão, mas não funcionou. Tentei me beliscar, mas se era um sonho, eu não estava conseguindo acordar. Foi então que num desses beliscões eu percebi que o braço que tinha sido picado pela Fogo-Fátuo estava tão normal quanto antes, como se nada tivesse acontecido a ele. Sorri e alisei o local, feliz porque eu estava certa e, no fim das contas, acabou sarando, mas...

Enquanto eu comemorava isso, tochas se acenderam de repente à minha frente. Tomei um susto. Elas seguiram em duas filas indianas, formando um caminho que me pareceu ser pelos corredores da casa de Dâna, pois o piso era de madeira e as paredes tinham ossos e peles de animais estendidas, bem como eu lembrava. Foi bom ver algo familiar finalmente, mas o estranho era que as tochas tinham começado do nada, onde antes parecia só existir o breu. Olhei por alguns segundos, para me certificar do perigo, e só então comecei a me aproximar devagar. Foi quando, tão de repente como surgiram, a silhueta de um menino surgiu ao final delas. Arregalei meus olhos e estanquei. Ele ficou parado também, na primeira curva do corredor, distante de mim e me olhando sem nada dizer ou fazer, mas mesmo de longe algo nele me fez lembrar...

Greg? Greg, é você? – sussurrei, sem querer fazer muito barulho, pois o eco com certeza faria a pergunta chegar até ele.

Contudo, em vez de me responder, ele se virou de lado e me chamou com veemência. E repetiu o gesto até que eu entendesse. Relutei em obedecer, afinal, era apenas uma silhueta, mas quando a voz inconfundível de Greg falou meu nome, eu não me contive:

– Tine, vem logo! Estamos precisando de você, vem logo. – E então ele tornou a sumir, voltando por onde tinha vindo.

Já eu, corri sem pensar duas vezes.

– Greg, me espera! – pedi. – Vai devagar!

Entretanto notei que à medida que eu passava pelas tochas, elas se apagavam e a fumaça se expandia cobrindo tudo às minhas costas como um nevoeiro fantasmagórico, o que me deu motivos para não parar. Quando dobrei no corredor do qual Greg tinha me chamado, deparei-me com um arco ogival do qual vinha uma forte luz que me ofuscava. Pisquei os olhos por conta da dor na retina, pus o braço a frente e segui, pois ele continuava a me chamar além dali.

Então, assim que o cruzei, tive outra surpresa. Greg não estava livre como instantes atrás. Ele estava no chão, com as mãos amarradas e a boca tapada por um pano sujo, olhando-me com medo e súplica, e para piorar a situação, junto a ele, Dâna e Celina se contorciam e gemiam tentando se livrar das algemas também, tão quão assustadas.

Crônicas de Penina - Livro 1 - Os desenhos de Cornélio (COMPLETO)Kde žijí příběhy. Začni objevovat