Capítulo 33 - A última dança

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As mães são sempre superestimadas. Vimos em propagandas, em histórias, como uma mãe deve ser, como ela deve se comportar e que não seríamos absolutamente nada sem elas. Crescemos com essa sensação de dependência latente, enquanto os anos passam e ao invés delas darem papinha na boquinha, nós imploramos pelo seu inestimável afeto e que sintam orgulho de nós.

Para Sinu eu estou morta, sou apenas uma ilusão da Sofia que ela mumificou para que a culpa não a matasse. Mesmo assim, não gostaria de perdê-la. Chego ao hospital com os pulmões em chamas e sem tempo para esperar, eu precisava de respostas.

- Sou a filha de Sinu, Camila Cabello, eu preciso saber como ela está! – disse sem rodeios na recepção.

- É necessário que aguarde, já vamos te dar uma resposta. – respondeu a recepcionista.

- Você sabe com quem está falando? – respondi desesperada. – Ou você me dá uma resposta ou eu invado essa merda de computador e o explodo na sua cara!

- Senhora... Sabemos que o momento é difícil, mas o que posso te pedir por gentileza é que aguarde.

Quando eu iria invadir o cenário, um doutor passou e me reconheceu.

- Senhora Cabello?

Minha cabeça estava girando e todas aquelas pessoas me olhando não me ajudavam, meus olhos insistiam em me trair, o que fazia com que eu parecesse nervosa e sem rumo.

- Sim, sou eu. É você que está com a minha mãe?

- Me acompanhe, por favor.

Ele me levou onde ela estava, ao passar por todos aqueles corredores brancos eu quis me edificar e simplesmente sumir, esse é um daqueles momentos em que você deseja estar em um pesadelo, mas sabe que não está, o que é preocupante e te traz sobrecarga psíquica.

- É necessário que você escute com atenção antes de entrar no quarto.

- Pelo amor de Deus doutor, isso é realmente necessário?

- Sua mãe está passando por um período nervoso, como um estresse pós-traumático, sabe o que pode ter acontecido para ela ter ficado nesse estado?

- É minha culpa essa merda, pode me prender a sete chaves eu não me importo! Agora posso entrar por essa maldita porta?

- Preciso que você me passe todas as informações possíveis para que eu possa tratá-la da melhor maneira.

Levei minhas mãos a cabeça e comecei a andar de um lado para o outro, incrível como as emoções humanas tornam qualquer um inconveniente.

- Tudo bem, vou te contar a minha história miserável. Eu matei a droga do meu pai e minha irmã em um acidente de carro, desde então minha mãe assumiu que eu sou minha irmãzinha, mas como pode ver eu não sou. Me chamo Camila Cabello e foi isso que eu fiz, esfreguei na cara dela, o cérebro velho que a mantinha funcionando deve ter pifado e agora ela está nessa cama. Só me faltava essa para que enfim eu possa ter matado toda a minha família. – parei ofegante. – Está satisfeito agora doutor?

- Suas informações foram muito importantes. – ele escreveu algumas anotações. – Ela está sedada com alguns medicamentos, mas pode ser possível que acorde. Se isso acontecer peço que não a encha de informações, iremos realizar um tratamento intensivo com ela, onde espero resolver todas essas questões.

- Muito obrigada.

Quando entrei por aquela porta e vi minha mãe naquele estado suspirei e cerrei o olho bem fundo, a vida era uma merda e continuava a jogar todas as suas bostas em cima de mim.

- Mãe...

Mantive minha mão pressionada na dela e me permiti sentir todo aquele momento, ela não estava acordada, mas gostaria que soubesse que eu me importava. Sentei perto de sua cama e deitei minha cabeça entre seus braços, onde desejei por tudo que é mais sagrado voltar no tempo, ela me colocaria para dormir e eu seria a sua doce Camila, como nunca deveria ter deixado de ser.

***

Acordei assustada, tive um sonho estranho com um desfiladeiro onde me encontrava sozinha e a única solução era pular. Sinu ainda estava dormindo, com um semblante calmo que contrastava com seus olhos esbugalhados de tensão que volta e meia voltavam ao meu cérebro, recordando-me de nossa última discussão.

Meu celular começou a tocar, imaginei que fosse Rose, que iria me pedir para trocar de turno, pois já estava na hora de chegar. Mas para minha surpresa era Jauregui.

- Estou um pouco ocupada no momento. – disse cansada.

- Onde você está?

- No hospital... Com a minha mãe.

- O que aconteceu com ela?

- Problemas de estresse, sua pressão baixou e ela acabou tendo algumas convulsões.

- Meu Deus Camila... Por que não me contou?

- Eu preciso mesmo responder isso?

Ficamos em silêncio, o que pessoalmente era incomodo, mas para uma ligação conseguia ser inevitavelmente pior.

- Sei que é egoísta da minha parte, mas você pode vir me ver? - Lauren tornou a dizer.

- Onde?

- Na danceteria perto da onde você mora, dizem que é muito legal e acho que precisamos disso.

- Tudo bem, vou esperar Rose chegar e vou para .

***

Eu via todas aquelas pessoas dançando felizes e me perguntava se elas realmente mostravam como se sentiam. Estava um trapo, cheguei ao balcão e pedi um whisky, quase o garçom me deu de graça só por piedade, mas eu disse que poderia bancar.

- Aceita um drinque? – disse um homem ao se aproximar.

O ruim de ser lésbica e não parecer homossexual era ter que lidar com essas merdas, eu não entendia como a existência masculina poderia ser importante para o mundo se podemos facilmente substituí-los por vibradores e inseminação artificial.

- Não, muito obrigada.

- Por favor, me deixe fazer companhia para essa gatinha solitária. – ele insistiu.

- Se você se aproximar ou dirigir a palavra mais uma vez, juro que eu arranco o seu pinto a dentadas.

- Nossa... Tudo bem, que humor.

Ás vezes é necessário ser rude, ainda mais quando eu gosto de ser.

O importante é que Lauren havia chegado, com um vestido vermelho parecido com a qual ela usou em seu aniversário. Seus lábios reforçavam ainda mais a cor do mesmo, o que me deixava excitada e meu coração acelerava em um ritmo denso. Até que por fim ela me viu e se aproximou.

- Você aceita dançar comigo? – Lauren sussurrou.

Control (COMPLETA)Where stories live. Discover now