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Eis que ela surge, mala de rodinhas sendo arrastada a seu lado, suas usuais vestes negras - porque ela sempre usava preto - e uma expressão típica de mãe - os lábios comprimidos um contra o outro, o cenho franzido, os olhos me buscando.

Minha mamãezinha. Dona Sinuhe.

Acenei e ela caminhou em minha direção até parar a minha frente, então me avaliou de cima a baixo.

-Me diga que não está se certificando que não estou grávida.

Ela entortou os lábios.

-Como confiar, Karla Camila? Se dependesse de você eu jamais ficaria sabendo.

Encolhi os ombros. Recebi a mala de suas mãos e caminhamos lado a lado até o táxi, pra quem dei meu endereço.

-Eu vou precisar pedir desculpas pelo resto da vida, não vou?

-Principalmente para seu pai.

Suspirei, recostando a cabeça no encosto do banco e deixando as lembranças virem a tona.

Primeiro de janeiro, dez horas da manhã. Eu havia levantado aquele horário devido ao enjoo matinal que às vezes me acometia apesar de ter ido dormir tarde por ter passado um bom tempo conversando com mamãe sobre a gravidez. Voltava do banheiro quando encontrei meus pais e Sofia sentados em minha cama.

Sabia que a conversa chegaria, mas não imaginava que literalmente tão cedo.

-Kaki, sua mãe disse que precisava falar com a gente - disse papai.

Meu olhar apavorado se encontrou com o pacífico de minha mãe e ela me incentivou com um aceno de cabeça.

Tremendo igual vara verde, passei pelos três e sentei na cama, recostada na cabeceira e abraçando meu travesseiro. Lembro exatamente de seus olhares ansiosos e preocupados sobre mim.

-Eu meio que estou grávida - disse em um só impulso, baixando a cabeça.

Sentia seus olhares me queimando, mas o longo silêncio me sufocava a ponto de me fazer começar a chorar.

-Está... chorando? - perguntou minha irmã - está chorando porque está grávida?

-Kaki, não acha que não a apoiariamos, acha? - perguntou papai - só estamos surpresos. Você disse... Você falou que não ia ter filhos.

-E eu não vou - falei em meio aos soluços.

-Você vai tirar?! - o tom escandalizado de Sofia me fez erguer o rosto e vi agonia nela e em papai.

-Não! Eu vou dar o bebê para outra pessoa.

Ficaram em silêncio por um longo tempo.

-Você está falando sério, Karla? - perguntou papai, sério.

-Estou. Eu já encontrei a mãe perfeita para ele e...

-Decidiu nos privar de conhecer nosso neto - podia sentir o quanto ele estava nervoso.

-Não vai ser neto de vocês.

-Se nasce de você então é seu filho, nosso neto e sobrinho de Sofia!

-Não, papa. Esse bebê já tem uma família e não é a nossa. Eu sequer sinto ele como meu em momento algum.

-O problema é cria-lo? O pai o recusa? Eu e sua mãe cuidamos dele, Camila. Não tem problema.

-Eu não conheço o pai. E não quero que cuidem de alguém que seria responsabilidade minha.

LIVRO 2 - With All My Heart [Segunda Temporada De With All My Love]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora