Capítulo 5

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Ponto de vista de Peter Cook.

Acordei ofegante e assustado. Mais uma noite e mais um pesadelo com a Madison, minha ex namorada que morreu há dois dias. O sonho foi o mesmo da noite passada, eu encontrava a Madison e ela me guiava até a casa dela falando que tinha algo muito legal para me mostrar. Eu a sigo até seu quarto e lá estava o corpo dela sustentado por uma corda. Fiquei horrorizado assim como na noite passada. E assim como ontem, o sonho acabou quando ela me falou: "Viu, amor? Foi isso que você fez comigo. Está feliz agora?". 

Passei a mão pelo meu criado mudo procurando meu celular. Quando o achei, cliquei no botão principal sem querer e a luz do visor iluminou parte do quarto. Nesse momento, vi uma espécie de vulto fugindo da luz. Peguei meu celular, liguei a lanterna e fiz com que a pequena luz fizesse uma geral no meu quarto. Não tinha ninguém ali além de mim.

Passado o susto que o vulto me causou, finalmente olhei a hora, eram 03h50min da manhã. Fui até o banheiro lavar o rosto e depois tentei dormir novamente, mas a tentativa foi falha, eu não conseguia dormir. Sabe aquela sensação que temos quando tem alguém nos observando? Era isso que eu sentia, sentia que alguém me observava. A sensação era muito forte e não me deixava dormir.

Desde os meus oito anos, eu nunca mais senti medo do escuro, mas nesses dois últimos dias a situação tem sido bem diferente. O escuro é algo desconhecido, e como algo desconhecido nos causa medo, receio e todos os sentimentos desse naipe. Aquela escuridão parecia me sufocar. Pensei em ligar as luzes, mas logo o meu ego gritou: "Medo de escuro agora, Peter? Que patético.". Mantive-me então parado com os olhos fixos no teto.

Aguardei o sono chegar, mas ele não veio. Quando já passava de cinco da manhã, eu desisti. Peguei meu celular novamente e resolvi responder finalmente todas as mensagens de pêsames que venho recebendo desde que a Madison se foi.

Madison sempre foi muito especial para mim, eu a amava. Mas, não é como o amor que eu sinto pela Margot. Madison era linda, engraçada, espontânea, sempre estava de bom humor e ao meu lado. Era a namorada perfeita, e foi por isso que tive que terminar com ela, pois ela era boa de mais para mim e eu não podia retribuir isso amando outra. Eu sinto a falta dela, sinto falta da minha amiga. Oh, como eu queria que ela estivesse aqui.

Como será que a Margot está? Ela era muito ligada à irmã, ela deve estar arrasada. Eu queria muito ir falar com ela, ajudá-la, ficar com ela nesse momento difícil, mas sempre que eu pensava nisso, a minha culpa voltava com tudo. Foi pela Margot que eu deixei a Madison. Eu contei tudo a Madison naquele dia e ela não suportou, essa era a única explicação para o que ela fez. Ela se matou por minha causa. Se todos estão sofrendo pela morte da Madison, é tudo culpa minha.

Esperei dar seis da manhã e fui me arrumar para o colégio, fazem dois dias que eu não passo nem perto daquele prédio. Quando eu já estava pronto, eram cerca de seis e meia da manhã. Infelizmente, a aula só começava sete e meia, e como eu não queria chegar cedo ao colégio e enfrentar todos aqueles olhares de dó que me lançariam, peguei minha moto e resolvi dar umas voltas pela cidade esperando que o tempo passasse.


Ponto de vista de Margot Jonhson.

Não sei exatamente quando adormeci, mas agradeço muito por ter conseguido. Eu não lembro com que eu sonhei, mas a paz que eu sentia quando acordei era inexplicável. Quer dizer, eu lembrava somente que aquele menino loiro que conheci nessa madrugada estava no meu sonho. Eu só posso estar ficando louca. Acho que com a morte da Madison, meus delírios têm piorado e eu estou cada vez mais alucinada.

Quando criança, meus pais me levaram para diversos psicólogos e psiquiatras, pois eu afirmava ver coisas que mais ninguém via. Eu ia uma vez por semana ao psicólogo e uma vez por semana para o psiquiatra para contar a eles sobre tudo o que eu via. Enquanto eu me abria, eles apenas olhavam para mim com cara de "essa menina é louca". Com o tempo, passei a ignorar essas coisas que vejo para tentar levar uma vida normal e me livrar daquelas consultas e dos remédios, e mesmo sendo conhecida como a estranha do meu colégio, acho que isso tem dado certo de alguma forma.

Levantei, escovei os dentes, lavei o rosto e desci para comer alguma coisa. Quando estava descendo as escadas, escutei uma pequena discussão entre os meus pais, o que era muito anormal, pois eles não costumavam brigar.

– Minha filha morreu, eu não me importo mais com nada. – disse a minha mãe num tom baixo, mas raivoso.

– Se você não lembra, ela era minha filha também. Nós não podemos parar nossas vidas, temos que continuar, a Margot precisa de nós ainda. – respondeu meu pai no mesmo tom baixo. Acho que eles não queriam que eu ouvisse.

– A Margot sabe se virar, ela vive no mundo da imaginação, daqui a pouco está bem. 

– Não é assim, a Margot era muito ligada à irmã. Como você pode dizer algo desse tipo? Margot sempre foi uma menina frágil, ela deve estar mais arrasada do que aparenta. Ela precisa da gente, precisamos ser fortes para ajudá-la.

– Eu não sei... – disse minha mãe já com voz trêmula. – Eu não quero sair de casa, eu não quero viver, eu não quero nada além da minha filha de volta.

– Querida, eu sei como você se sente, mas devemos continuar. Se quiser, pode ficar em casa hoje, mas eu vou acordar a Margot, mandá-la para a escola e depois vou para o trabalho. – disse meu pai saindo da cozinha.

– Não precisa, eu já estou aqui. – eu disse enquanto ia em sua direção.

– Filha, eu e sua mãe estávamos falando aqui que já está na hora de você voltar para a escola. – meu pai disse sorrindo. Um sorriso bem falso e forçado, diga-se de passagem.

– Mas eu não quero, eu quero ficar aqui. – respondi.

O meu quarto me assustava agora e eu não gostava de ficar nele, mas se eu fosse para a escola, sei que não conseguiria prestar atenção em nada, então seria uma perda de tempo. Além disso, não sei se quero encarar as pessoas do meu colégio agora. A morte da Madison deve ser o assunto do mês por lá. 

– Viu, ninguém aqui está pronto ainda para continuar, todos estamos de luto. Ou será que você já superou a morte da sua filha? – minha mãe falou em tom de provocação.

– Claro que eu sinto, essa dor nunca irá passar, e é por isso mesmo que precisamos continuar nossas vidas e ocupar nossas cabeças. A Madison ia querer isso, eu sei que ia. Ela não gostaria de nos ver chorando pelos cantos. – meu pai disse – Você vai para a escola e pronto, sem discussão. – continuou num tom firme e olhando para mim.

Não quis contrariá-lo. Subi, aprontei-me, peguei minha mochila e saí em direção à escola. No caminho, tentei ignorar tudo o que estava na minha mente e tentei pensar somente em como o chão da rua estava limpo. Sei que era um pensamento inútil, mas foi a única coisa que consegui pensar para tentar desviar meus pensamentos para algo mais superficial. Infelizmente, minha paz não durou muito.

– Dormiu bem?

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