| Capítulo Sete |

Começar do início
                                    

À minha frente vejo a entrada do meu condomínio e logo penso em Pérola. Paro na portaria para que o porteiro reconheça o meu carro, anote a hora em que entrei e confira a placa. Buzino quando ele, rapidamente, termina o processo. Sigo pelas ruas do condomínio. Passo pela praça e a vejo vazia, como sempre. Raramente vejo crianças por aqui, em geral. No condomínio é como uma raridade ter uma festa ou sequer movimento. O único dia em que este lugar fica mais agitado é no quatro de julho.  Aperto o botão no painel do carro, abrindo a garagem. Espero a porta se abrir totalmente e entro com o carro. Quando estaciono, salto do carro trazendo a minha bolsa. Saio da garagem e entro pela porta dos fundo. Passo pela cozinha e fecho a porta de vidro que dá para a varanda e piscina.

O perfume adocicado à minha volta é uma constante lembrança da presença de Pérola por aqui. O cheiro fraco e suave ao meu redor é o suficiente para acordar coisas adormecidas em mim por muito tempo.

Será que ela está arrumada, penso. Nós combinamos de sairmos hoje para comprar algumas roupas pra ela, mas a casa está silenciosa e eu percebo o quão limpa está. Subo os lances de escada e vou para o corredor dos quartos e, pela primeira vez desde que Pérola chegou, eu bato na porta do seu quarto. Dou leves batidas, e, quando não ouço uma resposta, meu coração se aperta.

Ela teria coragem de ir embora enquanto eu estava fora?

Para onde ela iria?

Sem pensar, empurro a porta e entro no quarto. Então, me surpreendo ao ver o seu corpo deitado sobre a cama, dormindo. Pérola parece um anjo e eu me pergunto como seria ter o seu corpo entre o meu enquanto dormimos. Ela permanece imóvel enquanto eu me aproximo, e eu me sinto um psicopata enquanto a observo dormir. Ando até que as minhas pernas encostem na borda do colchão.

Observo a sua perna escapando por entre as cobertas, seu corpo deitado de bruços com os braços debaixo da bochecha. Os seus cabelos cacheados estão espalhados sobre todo o travesseiro branco.

Quando ela se move, meu coração acelera, mas ela parece continuar em repouso. Deve estar cansada pela arrumação, talvez.

Olha ao redor e rio ao pensar que nunca vi um quarto tão perfeitamente limpo e arrumado em toda a minha vida. As pessoas pensam que mulheres são todas organizadas, mas eu cresci com Jen e seu gênio totalmente bagunceiro. Pérola me surpreende.

Seus cílios longos descansam sobre o seu rosto. Seus lábios estão franzidos e parecem malditamente beijáveis.

Aspiro o cheiro do seu quarto e meu o sangue circula com mais força naquela direção quando eu sinto o seu cheiro doce espalhado, com mais intensidade, pelo quarto. Vejo duas das camisas que eu te emprestei dobradas sobre a cadeira no canto do quarto e imagino o que ela está usando por debaixo dessas cobertas.

Me sinto sujo ao pensar em coisas como essas de uma mulher que está dormindo, mas droga, é inevitável! Suspiro e passo as mãos pelos cabelos suados.

—Eu preciso de um banho. -sussurro para mim mesmo e dou as costas para a mulher deitada. Antes observo uma última vez o seu rosto. Na porta, quando toco a maçaneta, ouço seu suspiro fraco.

—Saint? -aperto os olhos com força e me autodeclaro o homem mais sem sorte de todo o mundo. Lentamente viro-me em sua direção.

A vejo sentada sobre a cama, com um edredom pressionado em seu peito.

—Uh... Sim? -passo a língua entre os lábios repentinamente secos e me amaldiçoo por não ter escutado a minha consciência que me mandava sair no instante em que entrei.

—O que... -ela boceja e coça os olhos. —O que você está fazendo aqui? Tudo bem?

—Eu vim te chamar para irmos ao shopping comprar algumas coisas para você. Acabei de entrar. -minto, mas ela não precisa saber. Coço  a minha nuca e dou um leve sorriso em sua direção.

—Ah... sim, entendi. -ela concorda lentamente. —Vou estar pronta em alguns minutos se puder me esperar.

—Mas... o que vai usar para ir ao shopping? -prendo o lábio inferior entre os dentes e me pergunto se ela vai com uma de minhas camisas. Meu lado possessivo se nega a deixá-la sair assim de casa e eu não sou bom em esconder isso.

—Com a roupa que sai do hospital, a única que tenho. -ela parece irritada e franze a sobrancelha em minha direção. Suspiro, aliviado.

—Ah, claro.

—Você pode sair para que eu possa tomar um banho? -ela desvia os olhos dos meus, encarando a porta atrás de mim e eu fico confuso com a sua mudança de comportamento.

—Claro. -dou-lhe as costas e saio.

Alguns minutos se passaram e eu acabo de manobrar o carro e a espero na entrada da casa. Vejo-a aparecer em seus jeans apertados e eu presto atenção em cada parte do seu corpo. Ela tranca a porta e coloca as chaves no bolso, logo vindo em direção ao carro. Ela abre a porta e entra no veículo e enchendo com seu cheiro floral. 

Seguimos em um silêncio pacífico até que estejamos em uma avenida próxima ao shopping. Decido quebrar o silêncio.

—Você está bonita, Pérola. -olho rapidamente o seu rosto que está concentrado à nossa frente.

—Obrigada. -Pérola responde o mais secamente possível e eu estranho ainda mais o seu comportamento. Levo, rapidamente, uma das mãos aos cabelos, os bagunçando.

—Eu fiz algo que te incomodo?  -pergunto diretamente e sem rodeios. A olho quando paramos na fila para pegar o boleto de estacionamento.

Ela me olha com seus olhos intensos deixando-me momentaneamente  estático. Vejo uma força que jamais havia visto. Uma respiração prende e eu só consigo a encarar.

—Não quero ser a sua responsabilidade ou o seu "algo para cuidar" -ela faz aspas com os dedos. —Sou muito mais que isso. Sou grata por tudo o que você faz por mim, mas na próxima vez em que você agir como se eu fosse um objeto seu, eu saio pela sua porta e você nunca mais vai me ver, não duvide, eu posso aprender a me virar por aqui. Cresci sendo ensinada que homens são donos de mulheres. Em minha cultura isso era normal, mas eu não quis ter aquele normal em minha vida e não vai ser agora que isso vai acontecer. Estamos entendidos, Saint?

Toda a cor do meu rosto deve ter se esvaido e eu solto todo o ar do meu pulmão quando ela termina de falar. Sinto medo de responder algo que a faça me odiar ainda mais ou então que a faça ir embora, então, eu apenas concordo com a cabeça, como um maldito filhotinho.

—Me desculpe... -sussurro e desvio os olhos, me concentrando no carro vermelho à nossa frente. Toco a marcha e sinto a sua mão envolver a minha também. Meu coração acelera quando ela aperta a minha mão me fazendo olhá-la. Ela dá um leve e tímido sorriso.

—Agora está tudo bem.

Entramos no estacionamento do shopping e meu coração se alegra quando eu percebo que Pérola não largou a minha mão até que saíssemos do carro.

Eu estou totalmente rendido.




...

Essa semana foi puxada, hein! ENFIM, SEXTOU! Espero que tenham gostado desse capítulo!

Gente, estou muito, muito feliz que agora temos 2k nesse livro, eu tô desacreditada. Escrevi esse capítulo com a maior alegria do mundo!

Muito obrigada por tudo e, principalmente, por acreditarem em mim e nessa história. AMO VOCÊS!

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