| Capítulo Um |

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Saint

As explosões eram mais altas a cada minuto. Eu sinto meu corpo arrepiar ao escutar os gritos das crianças e mulheres indefesas, pesseoas que não pediram para estar ali, que não pediram para estarem passando por todo aquele sofrimento.

A fome é vista no rosto de cada criança desnutrida que eu carreguei em meus braços nesses meses. A dor é vista no rosto de mulheres que foram estupradas e perderam seus maridos nesse conflito sem fim.

Mas onde estavam os maioarais que não olham por esse povo? Onde o presidente americano está que não os defende? Quem vai colocar um basta em toda essa situação?

Debaixo do meu capacete camuflado escorre um lágrima de dor, uma lágrima que expressa todo o meu sentimento, que expressa toda a minha dor e angústia. Nunca pensei que eu desistiria do meu sonho de ajudar pessoas de países como esse, onde a guerra e a fome fazem parte do dia a dia, mas, carregar esse peso quase inexistente de um corpo de uma criança sem vida, pesa mais que uma tonelada.

Tento enxergar entre a nuvem expessa de poeira à minha frente e não tropeçar com o corpo que está em meus braços, mas se torna impossível quando meus ombros sacodem com o meu choro audível, com a minha dor. Eu só não consigo mais.

A minha cabeça se torna mais fodida a cada dia.

Sonho com coisas ruins à noite. Vejo coisas ruins durante o dia.

Meu peito arde com a revolta e a angústia. Sinto mãos em meus ombros, empurrando-me, dizendo que devíamos seguir em frente. Levanto-me e ainda não soltei o pequeno corpo, apenas o aperto mais contra o peito.

Quando fui recrutado para a guerra de Gana, pensei que seria apenas para matar rebeldes. Atirar em suas cabeças doentes e viver tranquilo, certificando-me que fiz um bem a sociedade os eliminando, mas não, não foi bem assim.

Não sei mais em que me apegar para manter minha sanidade mental nesse lugar. Sinto falta dos meus amorosos pais, sinto falta de casa. Posso parecer um fraco, mas é verdade, viver em uma guerra, é a pior coisa que um ser humano pode passar. Os Direitos Humanos completam setenta anos, e aqui, na parte mais conturbada de Gana, ele não parecem ter chegado. Aqui, onde crianças são convocadas como gurreiros, onde mulheres e crianças são estupradas e homens mortos em massa.

Chegamos um ponto de nossa caminhada que nosso pelotão, já exausto, desaba cada um em um canto . Então, no meio da madrugada fria, eu enterro, em um buraco raso, o pequeno e frágil corpo sem vida. Choro como um bebê ao ver a sua pele negra queimada pelo sol, com ossos mais que aparentes. As minhas lágrimas regam a terra em que enterrei a criança que em minha mente, carinhosamente, chamo de Elija. Um pequeno sobrevivente.

Quando o sol dá pequenos indícios de que está a nascer, decido me afastar da cova e, pela última vez, rezo para que Deus esteja com a alma dessa pobre criança e de todas as outras. Peço desculpas à Deus por ser tão fraco, mas agradeço por mais um dia de vida.

Meu uniforme esquenta o meu corpo e eu só penso em tomar um banho, comer as panquecas do meu pai e assistir alguma série ridícula com a minha irmã. Coisas pequenas como essas se mostram as mais importantes quando não as temos por perto.

Longe, vejo Julian. Um grande amigo e o sargento. Ele observa a minha aproximação e, antes que eu possa reagir, me aperta forte em um forte abraço.

—As coisas vão melhorar, garoto. Basta crer.

—Eu espero. -murmuro.

Olho ao nosso redor e percebo que os soldados já levantaram acampamento. Pego a minha AK-47 e a arrumo em meu peito. Coloco minha meu dedo coberto pela luva sobre o gatilho.

BurnOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz