Querida Leigh

Capítulo Dezenove

***

Quando Stephan me contou sobre o pai estar associado ao esquema de desvio na Irlanda, o então sócio na frente da gerência, George Pitt, eu não fiquei surpresa. Me detinha nos recentes documentos que ele me trouxe nos últimos dias, contendo assinaturas de Louise e Aisha dando carta branca para compra e venda de imóveis na Irlanda com recursos retirados da conta do hotel na Suíça.

Quando então vi Theo pelo circuito de câmeras chegando à recepção. 

Os últimos dias foram essenciais para que eu tivesse um tempo para digerir tudo o que havia acontecido comigo nos últimos dias. Não conseguiria olhar para Theo. Nem conseguiria olhar para mim mesma. Não havia ido ao House's, mas, continuar fugindo não seria a melhor opção. Por isso, o recebi no meu escritório.

Vou até o restaurante do hotel que está com alguns dos funcionários e me sento em uma das mesas mais afastadas, próximos à varanda que dá vista para o centro. Quando o garçom chega com o cardápio Ava me liga. Fico tão extasiada com a ligação que me esqueço que o garçom ainda permanece na minha frente.

- Eu tenho uma coisa pra te contar. – Digo de súbito.

- Calma, eu sei que tem inúmeras coisas para me contar. – Ela diz com a entonação na voz diferente. Um pouco triste. Chateada.

- O que aconteceu? – Pergunto esquecendo o que eu queria dizer. Aponto para um prato qualquer no cardápio e dispenso o garçom. Ouço um ruído do outro lado.

- Estou grávida, Leigh. – Ela diz e consigo identificar melhor o ruído que ouvi. Era uma fungada. Ava estava chorando.

- Grávida. Ava, como assim? – Pergunto assustada.

- Acho que você sabe como se faz bebês, não sabe Leigh? – Ela diz o tom sério dando lugar ao tom de divertimento.

- Sua idiota! – Murmuro. – E como você ta?

- Ah... Tudo bem, não é? A gente não pode prever essas coisas mesmo. – O tom triste volta. – Algumas coisas vão alterar, como o fato de que eu também estou desempregada. Fui demitida ontem.

- Não Ava. – Lamento.

- O casamento foi adiado mais uma vez. Eu pensei que as coisas seriam mais fáceis, sabe. – Ela suspira do outro lado. – Parece que veio uma torrente sobre mim e eu simplesmente não sei como controlá-la. Sabe como eu sou. Como eu vou criar uma criança? Educá-la? Acho que eu vou morrer, Leigh.

- Acho que acabei de ter uma idéia. – Digo sorrindo quando vejo Stephan entrando no restaurante. – Depois eu ligo pra você. Te amo. – Desligo sem deixá-la dizer mais alguma coisa.

Quando ele me vê, não preciso pedi-lo para que venha até minha mesa.

- Posso dividir a mesa com você? – Ele pede arqueando uma sobrancelha, ajeitando a manga da sua camisa, exibindo mais uma vez a sua tatuagem.

- Fique a vontade. – Aponto para a cadeira à minha frente. – Inclusive... – Digo enquanto ele senta. – Quero te pedir para que assuma meu lugar por alguns dias.

- Não entendi. – Um vinco se forma entre suas sobrancelhas. O garçom chega. – O mesmo de sempre, obrigado. – Stephan diz e se volta para mim.

- Vou para a Irlanda. – Digo e Stephan balança a cabeça afirmativamente com calma, ponderando sobre o que eu acabei de dizer. – Como vou para o casamento do Heitor amanhã, aproveito para ir à Dublin. Preciso ir pessoalmente para lá antes de fazer uma outra viagem. – Penso que não poderei adiar por mais um final de semana ir para Beaufort, ter meu momento mãe e filha.