Capítulo Dois

55 6 16
                                    

***

QUANDO CHEGAMOS AO AEROPORTO, mamãe nos esperava com uma plaquinha de boas vindas, o que achei além de ridículo, um ato de insensibilidade. Papai não estava ao meu lado como das outras vezes, e nem iríamos passar um fim de semana considerando que hoje é quarta. Olho de canto de olho para Heitor e ele parece pensar a mesma coisa. Seu queixo está rígido e seus olhos frios e distantes.

- Brianna! – Mamãe abre os braços em direção a cunhada e a saúda com um beijo em cada bochecha.

- Como vai Sra. Hill? – Perguntou Brianna educadamente.

- Indo na base do possível. – Ela responde, seus olhos pousam em mim instantaneamente, e vem em minha direção dando um beijo forçado em cada bochecha colocando as mãos em meus ombros rigidamente. – E você Leigh? Preparada para a leitura? – Franzo os olhos confusa. Preparada para a leitura? O que pode ter de ruim nesse testamento?

- Como assim? – Pergunto.

- Saberá em uma hora. O advogado já está nos aguardando. – Ela diz olhando para o Heitor.

Eles trocaram um tipo de olhar que eu sabia que estavam escondendo algo. Olho para Brianna que mantém a mesma curiosidade que eu na expressão, contudo ela cruza os braços e aperta a alça da bolsa no ombro.

- Vamos, vovó e Louise estão ansiosos para vê-los! – Mamãe dá o braço para Heitor e quando percebe que também me faço presente dá para mim também e nos leva para o carro  que já está com nossas malas dentro e o motorista também.

- Tudo bem Luke? – Pergunta Heitor ao sentar no banco do carona.

- Eu sinto muito por tudo que aconteceu. – Disse Luke aparentemente comovido, ele me olha de canto de olho e acena, não sei por que, mas aceno de volta.

- Já estava na hora meu velho. – Heitor diz. Ele tinha mania de chamar a todos de "meu velho" quando algo de ruim acontecia. Brianna parece se sentir deslocada estralando os dedos algumas vezes, as palmas de suas mãos brancas e mamãe com a expressão absurdamente feliz.

Quando passamos pelo centro de Beaufort me sinto como a criança de dez anos atrás. Há um ano, antes de descobrirmos a doença de papai, passamos por esse mesmo caminho em uma sexta, os céus anunciavam chuva e ele estava ansioso por um fim de semana com mamãe. Foi a última vez que viemos juntos para cá.

- O que acha de jantarmos em um restaurante? – Pergunta mamãe, quebrando o silêncio e interrompendo meus pensamentos.

- Jantarmos? – Pergunta Heitor surpreso. – Acho que está um pouco cedo para pensarmos nisso mamãe.

- Não querido, Julie e Kevin vem a tarde para nos visitar, e acho que...

- Será que dá pra parar de agir como se tudo estivesse normal? – Murmuro cortando sua frase, ela me lança um olhar inquisitório e Brianna move os lábios e quase percebo um sorriso.

- Não estou agindo...

- Jantar em restaurantes? Papai não está aqui. Estamos indo pra sua casa para a leitura de um testamento, não acho que seja propício para a situação comemorarmos essa leitura e tomarmos champanhe quem sabe. – Dou de ombros. – Só porque Kevin e Julie estão aqui.

- Não fale comigo como se eu não me importasse com a morte de John. – Mamãe parecia realmente incomodada com o meu comentário.

- Pois parece que você realmente não se impor...

- Chegamos! – Diz Heitor me interrompendo.

A distância do aeroporto para a casa de praia não eram nem dez minutos. Quando desci do carro, meus pés afundaram na areia. Fechei os olhos controlando os murmúrios que vinham em direção aos meus lábios. Tudo que eu não queria era praguejar agora.

Querida LeighWhere stories live. Discover now