Capítulo Seis - II Parte

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(...)

JÁ OUVI FALAR DELA. Me lembro de Heitor conversando com papai no escritório sobre uma sócia minoritária, com esse nome. Só que não tenho dados suficientes para incriminá-la.

- Seu pai confia em você pra isso, e ele sabe como Heitor agiria nesses casos, condescendente.

- Não sei como Heitor agiria nesses casos, sinceramente. – Digo um tanto reprimida. Realmente não conseguiria reconhecer em meu irmão alguma característica empreendedora, às vezes elas são relativas, e nunca me importei mesmo com os negócios do meu pai.

- Os hotéis de Vancouver, tem uma história especial. – Diz Holding sorrindo entredentes. Tomo um gole do suco de laranja que por sinal estava um pouco quente. – Eles foram construídos por seu avô Harry Hill no século XX. John sempre dizia que não importava o que acontecia com os outros hotéis em todo o mundo, comparados ao de Vancouver, os outros são como grãos de areia, podem ser pisoteados, amaciados, construídos e destruídos, não importava... A memória de Harry tinha de se manter intacta.

A profundidade das palavras, pela primeira vez nos últimos dias me fez pensar em meu pai vivo. Não em como ele morreu, ou no remorso que senti em ele ter me impedido de passar mais tempo com ele e recordar as lembranças em cada lugar que vou, em cada canto da casa... Não. Me fez pensar que mesmo com meus defeitos e indiferenças ele me amava. Me fez pensar que eu não o conhecia. Mesmo vivendo no mesmo metro quadrado, não compartilhávamos de algo pessoal, nem sequer vi Harry Hill vivo.

Eu tinha de assumir alguma posição. Se ele confiou essa tarefa a mim, era porque achava Heitor covarde o bastante para tomar essa decisão. Como ele me enxergava? Uma empreendedora de sucesso? Ou a garota fútil e sem futuro da qual sempre me enxerguei?

- Você conhecia meu pai bem, sim? – Digo piscando algumas lágrimas que fugiam dos meus olhos, tratei de limpa-las antes que Holding percebesse.

- Estudamos juntos Economia em Harvard. Seu pai foi um homem excepcional e não digo isso pelo fato de ele ter me confiado a missão de poder designar o que você deveria ou não fazer, e sim pelo ser humano que ele foi comigo. – Holding diz. A essa altura o seu chá se instala no estomago, ele parece tão relaxado, tranqüilo. Ele sofreu pela morte do meu pai? Não sei bem dizer. Queria estar como ele, tranquila, com tudo preparado na mente.

- Pois bem, não sou de pedir ajuda, Holding. Espero que não me leve a mal. Não ajo como a maioria das pessoas esperam que eu aja... Bem na verdade, sou bem pior. E... – Pondero sobre o que vou dizer. – Preciso que me guie nisso, já que não posso contar com meu irmão, e nem quero.

- Heitor seria um excelente guia nessa viagem, ele entende melhor que ninguém os assuntos de John. – Holding fala de modo que não me atinja propositalmente.

- Vou deter quem quer que seja que está desviando o dinheiro dos hotéis do meu pai. Mesmo que acabe estragando os outros hotéis, quero manter intacta a memória não só do meu avô mas, também a dele. Sei que não tenho muita experiência com isso...

- Já está tendo um avanço. – Me interrompe.

- Como assim? – Pergunto confusa.

- Está assumindo que não pode alguma coisa.

Eu estava sendo humilde. Isso parece estranho e novo pra mim.

- Certo, vamos focar. Holding, mamãe sabia desse testamento e que eu seria... – Aponto para a garçonete que limpa uma mesa atrás de Holding. – Garçonete?

- Sim, ela sabia e também da clausula da casa de Beaufort.

- Por isso ela me tratou de um jeito estranho quando chegamos. – Digo pensativa.

- Estranha?

- Sim, estranha ela sempre foi, mas ela sabia que papai pediria pra mim vir fazer as visitas mensais. – Falo. – O que acontece Holding, se por acaso eu não cumprir alguma cláusula?

- Você perderá tudo. A gerência dos hotéis, a casa de Beaufort, o capital particular... Todos os bens serão trancados então ocorrerá uma audiência na justiça passando esses bens para sua mãe ou Heitor.

- Por isso das pessoas me observarem? – Pergunto.

- Sim, elas se certificarão de que você está cumprindo todas as cláusulas e se deve ou não ficar com a herança. – Ele diz cruzando as mãos agora no colo.

Pessoas me observando... Mais uma vez isso me deixa com vertigens. Preciso pensar com a razão. Aqui em Beaufort as únicas pessoas que poderiam me observar seria ou mamãe ou Louise... Se eu faltar com qualquer um dos meus compromissos ficarei sem nenhum centavo. Quão ruim isso seria? Seria péssimo.

- Primeiro o hotel que você precisará ir é em Vancouver. Este precisa de uma atenção especial. Você verá o quadro completo e analisará por si só. Precisará de um tempo para se acostumar ao mundo das finanças. Acredito que se sairá bem. – Diz Holding atrapalhando meus pensamentos.

Dois surfistas entram no restaurante sorrindo com garrafas de soda na mão.

- Certo, então. Já vou indo. Obrigada pelas suas informações e por esclarecer um grãozinho de areia no meu mar de dúvidas. – Digo.

- Está falando como John. – Ele abre um sorriso familiar.

- Aprendi com o melhor. – Respondo pegando minha bolsa e a colocando no ombro. – Vou pegar minhas malas e ir ao aeroporto, não quero perder mais nenhum minuto aqui. – Em partes por causa de Vancouver, a outra porque não suportava ficar aqui, me dava nervosismo, ansiedade e medo... Tudo misturado.

- Qualquer coisa, fique com o meu cartão. – Ele me entrega um cartão de plástico emoldurado com o nome, telefone e e-mail.

- Acho que vou precisar. – Respondo colocando dentro da bolsa.

- Boa sorte, Leigh! – Ele diz estendendo a mão, o cumprimento com um sorriso e volto para casa.

***

Muita informação para pouco tempo?! Nossa menina está chegando cada vez mais perto do Hill de Vancouver e novos personagens entrarão para movimentar a trama.

E eu não aguento de ansiedade para que vocês também possam conhecê-los!

Não esqueçam do voto e daquele comentário maroto <3 

Beijão e até sexta!

Querida LeighHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin